Preso e isolado há mais de 15 anos, o nome de Márcio dos Santos Nepomuceno — o Marcinho VP — volta ao centro de uma investigação policial. A defesa diz que ele virou alvo de um “ciclo de estigmatização” e levanta um debate: será que o sistema federal realmente cumpre seu papel?
Uma nova operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, realizada na última semana, colocou novamente em evidência dois nomes conhecidos do crime organizado: Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP.
A ação, conduzida por delegacias da Baixada Fluminense e da capital, investiga um suposto esquema milionário de roubo e receptação de veículos ligado à facção Comando Vermelho. Ao todo, foram expedidos 20 mandados de prisão preventiva, e os investigadores apontam mais de 100 inquéritos relacionados à movimentação de carros roubados.
Mas o que mais chama a atenção é que entre os acusados estão justamente presos que vivem há mais de 15 anos sob isolamento total em presídios federais de segurança máxima.
O paradoxo do isolamento
O sistema federal foi criado para impedir a comunicação entre chefes de facções e o mundo exterior. Nessas unidades, tudo é monitorado: cartas, telefonemas, visitas e até o tempo de sol.
Por isso, a nova acusação desperta dúvidas até entre quem acompanha de perto o sistema prisional: como alguém totalmente isolado poderia comandar um esquema criminoso fora das muralhas?
Para a defesa de Marcinho VP, essa contradição mostra falhas no próprio modelo.
Em nota enviada à imprensa, os advogados afirmam que o caso “reforça um ciclo de estigmatização e ignora a realidade concreta da custódia federal”.
“Marcinho VP está isolado há mais de 15 anos, sob vigilância constante. O próprio Estado que o mantém nesse regime agora o acusa de participar de um esquema fora da prisão. A pergunta que fica é: pra que serve o sistema federal, se mesmo assim o responsabilizam por fatos externos?”, diz o comunicado.
Os defensores afirmam ainda que não há provas materiais que sustentem as acusações, e que o nome do cliente é usado como símbolo de poder — mesmo sem evidências concretas.
“A insistência em associar seu nome a crimes de fora das muralhas revela mais um episódio de criminalização pela imagem”, completa a nota.
O peso de um nome
Desde os anos 2000, Marcinho VP cumpre pena em um presídio federal. Seu nome, fortemente ligado ao Comando Vermelho, carrega um peso histórico — e, segundo especialistas, também um estigma difícil de apagar.
Mesmo sem contato com o mundo exterior, ele segue citado em investigações e operações, o que reacende o debate sobre até que ponto o isolamento extremo é eficaz e quando passa a servir apenas à narrativa pública.
Enquanto a Polícia Civil defende a solidez das provas e o Ministério Público prepara novas denúncias, a defesa promete reagir na Justiça, alegando violação de garantias constitucionais e abuso de narrativa.
Um dos advogados resume o sentimento da equipe:
“Se o Estado cria presídios federais para cortar a comunicação dos presos com o exterior, e mesmo assim diz que eles continuam mandando ordens, o problema não está no preso — está no sistema.”
O caso segue em investigação, mas deixa no ar uma reflexão: será que o isolamento total realmente protege a sociedade — ou apenas alimenta velhas histórias que já perderam o sentido?