Você já percebeu como a palavra “longevidade” saiu dos relatórios da ciência e entrou nas conversas de bar, nos podcasts, nas postagens do Instagram e até nos grupos de WhatsApp da família? Sim, viver mais tempo virou uma meta coletiva — e não apenas uma sorte genética. A boa notícia é que nunca se falou tanto em como viver melhor. A provocação que fica é: será que estamos gerenciando bem essa vida mais longa?
Se antes a expectativa de vida era limitada e os 60 anos já vinham com cheiro de aposentadoria e poltrona, hoje é justamente quando muita gente decide começar tudo de novo. Mas para que essa nova fase seja de fato uma fase — e não uma sobrevida — precisamos de planejamento. E não, não estou falando só de previdência. Estou falando de corpo, mente, vínculos e propósito.
Nesta coluna, convidei cinco especialistas de áreas diferentes — da medicina à psicologia, da nutrição ao movimento — para trazerem suas perspectivas práticas sobre o que significa gerenciar a longevidade. A ideia é mostrar que longevidade não se conquista apenas com boas intenções e alimentação orgânica (embora elas ajudem bastante). É preciso estratégia, autoconhecimento, e, principalmente, vontade de continuar curioso sobre a própria existência.
Dra. Joana d’Arc Sakai – Psicóloga
O que fazer para manter a mente saudável e ampliar a qualidade de vida ao longo dos anos?
A mente saudável requer cuidados contínuos, os quais devem iniciar desde cedo na vida da pessoa. Ou seja, envelhecer bem, amplia a qualidade de vida e, consequentemente, amplia a quantidade de anos a serem vividos, quase sempre.
Nessa linha, manter a mente saudável, requer que os aspectos biológico, psicológico e existencial estejam em plena conexão. Isto é, implica em praticar ações que mantenham a mente ativa, estimulem a cognição e, por conseguinte, elevem o ato de viver, de estar na vida, de aproveitar a vida.
Desse modo, para manter a mente saudável e ampliar a qualidade de vida ao longo dos anos, é essencial adotar uma abordagem que inclua os cuidados físicos, mentais e emocionais.
A atividade física, para regular o fortalecimento muscular, além de estar associado à liberação de substâncias benéficas ao cérebro. O sono precisa ser reparador, para auxiliar a memória, dentre outros. Cuidados com a pele, considerando que os sinais de envelhecimento são expressos e percebidos, notadamente através da pele. Monitorar a saúde é fundamental para prevenir doenças e manter a qualidade de vida, tendo a carteira vacinal atualizada e realizar consulta\exames para detectar precocemente doenças.
É preciso manter o cérebro ativo, para ajudar a conservar as funções cognitivas (aprender coisas novas, ler, viajar). Gerenciar o stress, ter hobbies, aprender línguas, instrumento musical, artesanato. Tudo isso, ajuda à criação de conexões neurais, além de ativar a plasticidade cerebral.
Também é muito bom, alimentar as conexões sociais, participando de grupos, construindo vínculos afetivos e efetivos, trocando experiências, fazendo trabalho voluntário, participando de excursões\viagens, de movimentos sociais, dentre outros.
Praticar meditação, yoga, rezar, ajudam a manter a mente centrada e diminuem o estresse, promovendo bem-estar emocional.
Fazer psicoterapia, pois o autoconhecimento faz a diferença para viver com mais resolução\alegria\disposição, por exemplo.
Adotar hábitos saudáveis. Dormir às 22 h., evitar o consumo de cigarro e álcool com moderação.
Enfim, a sabedoria está em manter a mente ativa, conectada e com propósito. Isso significa cultivar bons hábitos: manter vínculos sociais, praticar atividades físicas, desafiar o cérebro com novos aprendizados, ter momentos de lazer e cuidar da espiritualidade e do autoconhecimento.
Como o pensamento influencia no modo como envelhecemos? Quais pensamentos podem ser prejudiciais?
Aquilo que a mente “cria”, interfere diretamente na forma como vivemos, para o bem ou para o mal. Portanto, o modo como pensamos, lidamos com a vida, tem influência direta no nosso envelhecimento.
Envelhecer com saúde, também é cultivar pensamentos saudáveis. Ou seja, pensamentos positivos são evolutivos para o espaço mental (“ainda tenho muito a contribuir” … “minha experiência pode agregar muito naquela situação” …” hoje o meu treino foi ótimo, eu rendi muito” e evitar os pensamentos pessimistas (“o meu tempo para fazer isso, já passou” …” meu tempo de vida útil está acabando e não adianta mais fazer nenhum esforço”, pois afetam a saúde emocional, descompensando o equilíbrio que deveria ser mantido. Pensamentos positivos, funcionam como uma ponte para a autovalorização, autocompaixão, mobilizando esperança por dias melhores.
Os pensamentos negativos, funcionam como gatilhos que mobilizam desconforto emocional, A pessoa fica abatida, desanimada, sentindo-se inútil, invisível. Quando a pessoa acredita que não consegue mais aprender, criar, amar e ser amado, ele fecha os próprios caminhos para condições saudáveis.
Foque no belo, no valor que as coisas, as pessoas, as circunstâncias têm. Agindo assim, não negará os limites que o passar do tempo impõe. O importante é ser consciente, escolha viver e não perder o que pode, ainda, ser vivido.
Como gerenciar o envelhecimento de forma equilibrada?
O envelhecimento traz perdas e, também traz ganhos. É importante ter flexibilidade emocional, que se refere ao como lidar com as perdas (falecimentos, afastamentos de amizades, de papéis sociais) e a como celebrar os ganhos.
Envelhecer bem é manter-se ativo, perspicaz, afetivo, “ligado” no que é possível, com leveza, sobretudo com sabedoria. Logo, a essência do envelhecimento não é tentar perpetuar a juventude que não existe mais, isso é despersonificar-se.
Aceite que o tempo traz mudanças, claro. Não fique no lamento de que não viveu tão intensamente. Foque na autonomia, nas buscas que fará, porque certamente, haverá demandas de prazer. Valorize as suas construções afetivas, materiais, o seu legado, enfim. Pense no que quer deixar: sentimentos bons, sabedoria, histórias?
Ser estiver sendo muito difícil, busque ajuda profissional para ressignificar seus propósitos. É o momento de integrar experiência e rever o que importa.
Envelhecer é perder ou transformar?
É transformar, mas atenção ao modo como está envelhecendo, pois faz toda a diferença.
Envelhecer não está só relacionado a perdas, quer seja do viço da pele jovem, do físico irretocável, de energia, de audácia, até. Aqui, a proposta é que o processo de envelhecimento, também possa ser visto como um processo de transformação. Isto é, quando a pessoa integra as experiências adquiridas com a busca de novos sentidos.
Envelhecer com sabedoria é viver com mais verdade, autenticidade, podendo se dar a chance de uma continuidade feliz e, sobretudo saudável.
Dr. Willian Rezende – Neurologista e Educador em Saúde
O envelhecimento traz consigo o temor de doenças como Alzheimer e Parkinson… Tem como prevenir as doenças neurodegenerativas?
Fale da importância do diagnóstico precoce e como os tratamentos hoje em dia podem ajudar esses pacientes a viverem mais e melhor…
O envelhecimento realmente traz uma preocupação maior com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, que podem comprometer muito a qualidade de vida. Quando falamos em prevenção, o mais importante é entender que não existe uma forma única ou garantida de impedir o surgimento dessas doenças, mas sabemos que manter um estilo de vida saudável reduz bastante o risco. Isso inclui alimentação balanceada, atividade física regular, sono de qualidade, controle do estresse, manter o cérebro ativo com leitura, aprendizado e interação social, além de controlar fatores de risco como hipertensão, diabetes, colesterol alto e tabagismo.
O diagnóstico precoce é fundamental. Quando identificamos sinais iniciais, conseguimos intervir antes que o quadro avance. No caso do Alzheimer, por exemplo, há um período chamado “fase prodrômica” ou “comprometimento cognitivo leve”, em que já começam a aparecer pequenos esquecimentos. No Parkinson, sinais iniciais podem ser perda de olfato, constipação crônica, alterações de humor e distúrbios do sono, antes mesmo do tremor ou rigidez aparecerem.
Hoje, com os avanços na neurologia, temos cada vez mais recursos para retardar a progressão dessas doenças e melhorar a qualidade de vida. Os medicamentos atuais ajudam a controlar sintomas motores e cognitivos, mas as terapias não medicamentosas também são fundamentais: fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, exercícios cognitivos e acompanhamento psicológico.
O grande objetivo é que o paciente consiga viver mais e melhor, mantendo independência e participação ativa na vida social e familiar. Quanto mais cedo começarmos, melhores são os resultados. Por isso, vale sempre reforçar a importância de procurar um neurologista ao menor sinal de alteração de memória, de movimento ou de comportamento.
Dr. Fabiano Boa Sorte – Ortopedista
Quais são os principais problemas que limitam os idosos fisicamente?
Os principais limitantes do idoso hoje são a perda de massa muscular e o ganho de peso que levam a uma perda de agilidade e equilíbrio.
Quais são os principais acidentes/intercorrências e as consequências?
Quedas na rua, escorregar no tapete, tropeçar em escadas ou degraus e desequilíbrio por torturas
Fale da importância da prevenção dos problemas ósseos/físicos nessa fase da vida…
A prevenção com uma alimentação saudável, atividade física de esforço resistido (academia), evitar a osteoporose. É importante Tudo estar associado, medicação, atividade física e alimentação saudável
Quais são os casos irreversíveis e os possíveis do paciente recuperar a saúde e independência?
Os casos irreversíveis são complicações de quedas com sequelas definitivas: TCE, fraturas complexas que levam a perda da mobilidade e assim perda de função e da liberdade.
Dr. Joaquim Junior – Nutrólogo
Qual a importância de monitorar as necessidades nutricionais e suplementar para evitar o envelhecimento precoce e conseguir uma longevidade saudável?
Fale da importância da reposição hormonal e dos hábitos saudáveis para envelhecer com saúde e disposição.
Quando falamos em envelhecimento saudável, é importante lembrar que o processo natural de envelhecer não precisa, necessariamente, vir acompanhado de cansaço constante, dores pelo corpo, baixa energia, ganho de peso ou perda de disposição. Hoje, com o avanço da medicina e da nutrologia, sabemos que monitorar de forma individualizada as necessidades nutricionais e hormonais pode fazer toda a diferença na qualidade de vida ao longo dos anos.
À medida que envelhecemos, é comum que o corpo passe a produzir menos de algumas vitaminas, minerais e hormônios essenciais para o bom funcionamento do organismo. Um exemplo prático é a vitamina B12, que tende a ter uma absorção reduzida com o passar da idade e isso pode gerar sintomas como cansaço excessivo, queda de memória e formigamento. A vitamina D3, que é essencial para os ossos e para a imunidade, também costuma cair, especialmente em quem se expõe pouco ao sol. Além disso, minerais como o ferro merecem atenção, principalmente em mulheres, já que a carência pode causar anemia, queda de cabelo, dificuldade de concentração e falta de disposição.
No campo hormonal, é ainda mais evidente. A testosterona, por exemplo, não é um hormônio só masculino, tanto homens quanto mulheres têm e precisam dela. Nos homens, a queda pode levar à perda de massa muscular, baixa libido, ganho de gordura abdominal e até sintomas de depressão. Nas mulheres, durante a menopausa, há uma queda acentuada dos hormônios femininos, como o estrogênio e a progesterona, que pode causar ondas de calor, insônia, ressecamento íntimo, irritabilidade e perda de qualidade de vida. A reposição hormonal, quando feita com critério, segurança e indicação médica, pode devolver o equilíbrio que o corpo precisa para continuar ativo e funcional.
Mas claro, é importante frisar: a suplementação e a reposição hormonal não substituem os hábitos de vida saudáveis. Elas entram como parte de um plano de cuidado completo. Isso significa manter uma alimentação de verdade, rica em nutrientes, praticar atividade física regular, dormir bem, controlar o estresse e manter os exames em dia. A saúde não é construída só no consultório, ela é moldada todos os dias, nas escolhas que fazemos.
O grande segredo da longevidade saudável não está em impedir o tempo de passar, mas em fazer com que ele passe com qualidade. Hoje, temos recursos para prevenir, tratar e cuidar de forma personalizada. Envelhecer pode (e deve) ser sinônimo de bem-estar. E isso começa muito antes de os sinais do envelhecimento aparecerem.
Dr. Alessandro Schuffner – Médico Especialista em Reprodução Assistida
Quando pensamos no amadurecimento muitas vezes encontramos mulheres que adiaram a maternidade analisando as possibilidades de gestação tardia. Dr. Alessandro Schuffner nos esclarece alguns pontos.
“Um fator que dificulta bastante para se obter a gravidez é quando não se tem mais óvulo. Porque a mulher na menopausa, por exemplo, vive a ausência de óvulos, é mais grave, aí a gente tem que recorrer a um banco de óvulo”, esclarece Dr. Alessandro, que nos acena com possíveis casos de sucesso em função da evolução na medicina reprodutiva: “Hoje em dia, independente se é endometriose, se é ovário policístico, se é fator masculino, vasectomia, laqueadura tubária, a gente consegue resolver, dependendo da dificuldade, a gente lança mão de um coito programado, por exemplo, de uma inseminação intrauterina ou uma fertilização em vidro. Mas se pudermos lançar mão de todas essas tecnologias, mais de uma vez, teremos mais sucesso em conseguir essa gravidez.”
Depois de ouvir todos esses olhares, fica mais claro que a longevidade saudável é uma construção. E que não existe uma receita única: ela é tão personalizada quanto uma impressão digital. O que existe, sim, é um compromisso com a própria história — e com os próximos capítulos que ainda estão por vir.
Viver bem não é um ponto de chegada. É um caminho que se constrói todos os dias. E que bom que a gente ainda tem tantos dias pela frente.
Profissionais:
Dra. Joana d’Arc Sakai – Psicóloga
Dra. Joana d’Arc Sakai é Psicóloga clínica e escolar, Doutora e Mestra em Psicologia pela USP, com especialização em Psicanálise de crianças e adolescentes. Atua com psicopedagogia, atendimentos clínicos e assessoria educacional. É palestrante em temas ligados à Psicologia, Educação e desenvolvimento da mulher, com forte atuação no meio corporativo. Também ministra cursos , como o reconhecido projeto Escola de Pais.
Contatos: @sakaipsicologia
Dr. Willian Rezende – Neurologista e Educador em Saúde
Dr. Willian Rezende (CRM-SP 160.140 | RQE 50.546) é neurologista, educador em saúde e responsável pela curadoria, produção e adaptação dos conteúdos de seu portal, voltado ao público leigo. Seu trabalho visa descomplicar a medicina e promover o acesso à informação segura, educativa e responsável sobre saúde neurológica. Com linguagem acessível e abordagem ética, orienta sobre sintomas, tratamentos e qualidade de vida. Seu conteúdo impacta milhares de pessoas em busca de conhecimento e bem-estar.
Contatos: @dr.willianrezende | www.drwillianrezende.com.br
Dr. Fabiano Boa Sorte – Ortopedista
Dr. Fabiano Boa Sorte é ortopedista especializado em Cirurgia Regenerativa, com atuação na Joint Ortopedia, clínica referência em tratamentos modernos para saúde articular. Utiliza técnicas avançadas que promovem a regeneração dos tecidos, alívio de dores crônicas e melhora da mobilidade. Com abordagem humanizada e estrutura de ponta, proporciona recuperação eficaz e duradoura aos pacientes. Seu trabalho tem transformado vidas por meio da medicina regenerativa e personalizada.
Contatos: @drfabianoboasorte
Dr. Joaquim Alves Carvalho Júnior – Médico Nutrólogo e Hormonologista
Dr. Joaquim Alves Carvalho Júnior é médico com foco em saúde integral, bem-estar e qualidade de vida. Pós-graduado em Nutrologia e com formação em Hormonologia pela ASBRAH, atua com uma abordagem personalizada para prevenir e tratar disfunções metabólicas e hormonais. Seu trabalho une ciência e cuidado individualizado para promover equilíbrio e vitalidade. Atende pacientes em busca de performance, saúde plena e longevidade com responsabilidade e excelência.
Contatos: Instagram @joaquimjr_med
Site: drjoaquimjr.com
Dr. Alessandro Schuffner – Médico Especialista em Reprodução Assistida
Referência nacional em medicina reprodutiva, o Dr. Alessandro Schuffner é Diretor da Conceber e possui formação internacional no renomado Jones Institute (EUA). Mestre em Medicina Interna, é especialista em laparoscopia e reprodução assistida, com estudos reconhecidos sobre qualidade funcional dos espermatozoides. Atua há mais de duas décadas promovendo avanços na fertilidade humana, aliando ciência, experiência clínica e publicações científicas.
Contatos: @dralessandroschuffner | www.clinicaconceber.com.br
