Lívia Gaudencio está festejando seus 15 anos de carreira como roteirista de forma muito especial! A artista assina roteiro da série “Raul Seixas: Eu sou”, que acabou de estrear no Globoplay. Fã de Raul e única mulher a fazer parte do time, ela se debruçou sobre a vida de um dos maiores ícones do rock brasileiro para colaborar na criação da produção.
“Sou muito fã do Raul e já cheguei a sonhar com uma música dele em um momento difícil da minha vida. Quando o Paulo Morelli me convidou pra fazer parte da equipe de roteiro da série sobre a vida dele, eu quase caí pra trás. Fazer esta jornada de sair do teatro mineiro para uma sala de roteiro na O2 Filmes, sabendo que a história iria pra tela da Globoplay, foi um sonho realizado!”, diz a artista, que também fez colaboração no roteiro do filme “Maria do caritó”, estrelado por Lilia Cabral.
Feliz com a oportunidade, Lívia Gaudencio sabe que essa é uma conquista para as mulheres que já trabalham ou que sonham em escrever para o audiovisual brasileiro, já que o mercado ainda é majoritariamente ocupado por homens. Aliás, pensando também em dar voz a temáticas femininas, a mineira criou e escreveu o roteiro da webserie “Steam Girls”, sobre meninas na ciência, e o curta “Lembranças de Barcelona” sobre feminicídio:
“Faço parte de um grupo de roteiristas mulheres e sempre debatemos sobre a discrepância de posicionamentos entre homens e mulheres. Se por um lado temos homens (principalmente brancos) com a autoestima inflada, as mulheres seguem sofrendo da síndrome da impostora, achando que nunca estão preparadas ou que não são boas o suficiente para o trabalho que exercem. Eu acho que este é um traço marcante do posicionamento das mulheres no mercado de trabalho em geral, mas se agrava pelo mercado audiovisual ser bastante masculino. De acordo com a ONU Mulheres, ainda recebemos cerca de 76% do salário dos homens no audiovisual”.
Criativa e querendo mais oportunidades para seus projeto, Lívia Gaudencio abriu Gautu Filmes, focada na produção de projetos autorais para o mercado audiovisual. Para este ano, a ideia é lançar o curta “Onde está você agora?”, sobre uma mulher que lida com a perda gestacional e, ao mesmo tempo, precisa cuidar da mãe com Alzheimer. Além de protagonizar a produção (que tem uma equipe quase toda composta por mulheres), ela ainda é a roteirista e faz codireção.
“Eu sempre fui uma criança pensante sobre as incoerências do mundo, mas foi quando me tornei mãe que as desigualdades de gênero saltaram mais aos meus olhos e eu comecei a me interessar sobre assuntos que dissessem respeito à condição de ser mulher em um mundo patriarcal. Nesta era que valoriza a hiperprodutividade, ser produtora dos próprios projetos é recompensador, mas exaustivo. Por isso, tenho buscado valorizar meu ócio como um ato de resistência, em nome da minha saúde mental mesmo”, diz a mãe de um casal que está otimista quanto o alargamento do mercado audiovisual.
Lívia Gaudencio também é atriz há 25 anos, e passou por escolas renomadas como a New York University e a Escuela Internacional de Cine y TV, de Cuba. Em seu currículo constam trabalhos no elogiado filme “Batismo de sangue” e na série “A cura”, da Globo. Nos próximos meses, vai rodar o país apresentando espetáculos da premiada Companhia O Trem, da qual é diretora artística.
“Depois que eu comecei a escrever, eu entendi que minha motivação para atuar sempre foi a “mensagem” por trás da obra ou da personagem. Então, como eu não aceito qualquer papel, as oportunidades ficam mais restritas”, afirma.
Foto: Matheus Soriedem