A pequena Alice ganhou a internet com suas palavras difíceis, jeitinho doce e imaginação fértil. O resultado disso foram mais de 3 milhões de seguidores nas redes sociais, campanhas publicitárias e um único questionamento: como é possível falar tão bem assim com apenas 2 anos de idade?
Em entrevista à AnaMaria Digital, a mamãe Morgana Secco diz acreditar que a desenvoltura da menina vem do interesse em aprender coisas novas. “O olho dela brilha com novidades! E as palavras difíceis são novidades para ela, então ela fica empolgada quando aprende. Quando escuta a gente falar qualquer palavra ou expressão, fica feliz e repete”, conta.
O mesmo acontece com os livros: “Ela se interessou desde que nasceu e começamos a mostrar livrinhos e ler para ela, só foi evoluindo o tipo de livro e de histórias”, acrescenta Morgana.
@morganasecco DESAFIO DAS PALAVRAS 2 – atendendo a pedidos, mais um vídeo da Alice falando palavras difíceis. ##viral ##fyp
Apesar disso, não há motivo algum para se preocupar caso o seu filho ainda não tenha aprendido a falar palavras como “proparoxítona” e “esquistossomose” – afinal, até nós, adultos, encontramos dificuldade em algumas delas às vezes. Não há dúvidas de que os vídeos da pequena Alice são impressionantes (e fofíssimos!), porém vale lembrar que cada criança é única e se desenvolve no seu próprio tempo.
“Existem crianças que se desenvolvem um pouquinho antes, outras que se desenvolvem um pouco depois. O que a gente não pode é deixar que isso se afaste muito desses marcos do desenvolvimento, que é uma média do que se espera em cada faixa etária. Então, é importante se pautar nesses estudos porque você não vai estar comparando o seu filho com uma única criança”, explica a fonoaudióloga Paula Moura.
Por sua vez, Morgana faz questão de reforçar a mensagem quanto é contatada por mães e pais preocupados com o desenvolvimento de seus filhos. “Sempre digo para não comparar, nem com ela e nem com outras crianças, porque é injusto. Alice está bem acima do desenvolvimento de linguagem esperado para a idade e as crianças se desenvolvem em tempos diferentes, tudo dentro da normalidade”, diz.
O mais importante, de acordo com a fonoaudióloga, é se atentar aos marcos de desenvolvimento da linguagem infantil. Vem entender com a gente!
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
Segundo a especialista, o desenvolvimento fonológico envolve questões hereditárias e genéticas – que incluem a integridade do sistema nervoso central, dos músculos e ossos da face e da audição. Além disso, também é fundamental prestar atenção ao ambiente em que a criança está inserida.
“Pensando numa linha do tempo, por volta de quatro meses o bebê já começa a balbuciar e emitir alguns sons de vogais, como A, E e ÃH, como se ele tivesse respondendo quando alguém conversa com ele, já é um primeiro sinal de interação”, destaca Paula.
Entre os 7 e 9 meses, já surgem os primeiros sinais de balbucios com sons de P e B – como foi o caso da própria Alice. “Foi em torno dos 7/8 meses que identificamos as sílabas com significados. ‘Ba’ para balão, por exemplo, ‘tatata’ para batata, e assim por diante”, relembra Morgana.
O próximo marco de desenvolvimento chega aos 12 meses de vida, quando é esperado que surjam as primeiras palavras de fato. O comum é que as crianças comecem por expressões que fazem parte do seu contexto de vida, como mamãe e papai.
Será apenas aos 3 anos que os pequenos começarão a se comunicar de forma mais compreensível até para pessoas fora de seu convívio, mesmo que com alguns erros de pronúncia. (Confira todas as etapas da aquisição da linguagem no quadro abaixo!).
Crédito: Paula Moura
SEM DESESPERO, HEIN!
“Existe essa diferença entre o que é uma criança que se comunica bem, apesar dos erros da fala, e o que é uma criança que apresenta muitos erros e por isso a falar fica inteligível”, ressalta a fonoaudióloga. É por isso que a profissional recomenda acompanhar cada etapa do desenvolvimento e não esperar até os cinco anos para concluir se a criança irá falar corretamente ou não.
Além disso, Paula Moura também destaca a necessidade de prestar atenção, não apenas às palavras, mas também à intenção comunicativa da criança desde cedo. “É muito importante perceber se, antes de um aninho, o seu filho já tem intenção de se comunicar, se ele já te olha, se ele já tentar te mostrar algo, se ele gesticula… Porque todos esses aspectos são pré-requisitos para o desenvolvimento da fala também”.
E COMO INCENTIVAR MEU FILHO A ‘FALAR DIFÍCIL’?
Para Alice, tudo aconteceu de forma muito natural. A ideia de gravar vídeos da menina veio com a necessidade da mãe, que trabalha como fotógrafa em Londres, na Inglaterra, de aumentar a audiência em seu perfil profissional.
“A Alice nunca tinha escutado a maioria das palavras quando gravamos os vídeos. Eu até tomei cuidado para não ficar falando na frente dela porque queria a primeira reação. Até achei que não sairia tão bom quanto saiu”, revela Morgana.
Entretanto, não há como negar que alguns estímulos na rotina da pequena foram fundamentais para o seu desenvolvimento. “Não fazemos nada focados nem em vocabulário nem em pronúncia, mas muitos dos nossos hábitos e dos interesses dela podem acabar resultando em estímulos benéficos para isso”.
“Ela sempre teve muito contato com livros, por exemplo, a leitura é um hábito presente no nosso dia a dia. A gente sempre dialogou muito com ela também, desde recém-nascida. E ela não assiste TV ou utiliza tablets ou celulares”, completa.
@morganasecco
ALGUMAS DICAS
A especialista assina embaixo quanto à necessidade de criar um ambiente favorável para que a criança se desenvolva fonologicamente. Segundo ela, a melhor estratégia para incentivar uma boa comunicação é conversar de forma espontânea e natural, de maneira a oferecer um modelo adequado de fala através da imitação.
Evitar o uso de chupetas, mamadeiras e bicos artificiais também é fundamental para o desenvolvimento da musculatura orofacial da criança – o que também acontece quando são oferecidos estímulos durante a introdução alimentar. “Conforme os dentes da criança vão crescendo, os pais devem aumentar a textura dos alimentos e começar oferecer opções mais sólidas. Isso porque a mastigação é um excelente exercício para os músculos da fala”, indica Paula.
Como mencionado por Morgana, o uso de telas também deve ser evitado. “Para a criança desenvolver fala e linguagem, ela precisa de interação, alguém que compartilhe uma brincadeira, que responda as tentativas dela se comunicar, que faça perguntas… Enfim, precisa existir uma troca e, quando a criança está exposta às telas, ela não precisa trocar, ela está recebendo estímulos de forma muito passiva. Não precisa se comunicar”.
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QUANDO BUSCAR AJUDA?
Paula Moura, que passou a atender virtualmente durante a pandemia, reforça que é importante buscar o auxílio de um fonoaudiólogo sempre que você desconfiar que há algo de errado com a comunicação do seu filho.
“De um modo geral, sempre que houver prejuízo na comunicação, sempre que você perceber que eu a sua criança está se comunicando de uma forma muito pior do que outras crianças da mesma idade dela, pode buscar ajuda fonoaudiológica”, conclui.