AnaMaria
Busca
Facebook AnaMariaTwitter AnaMariaInstagram AnaMariaYoutube AnaMariaTiktok AnaMariaSpotify AnaMaria
Exclusivas / Estreia

Atriz de nova série de terror brasileira sobre personagem: “Também já sofri violência”

Juliana Lourenção está na nova série de terror, ‘Vale dos Esquecidos’: “Passou por coisas difíceis”

Juliana Lourenção interpreta Bruna em 'Vale dos Esquecidos', que estreia neste domingo (25) - Crédito: Carmen Campos
Juliana Lourenção interpreta Bruna em 'Vale dos Esquecidos', que estreia neste domingo (25) - Crédito: Carmen Campos

Apostando em produções brasileiras em seu catálogo, a HBO Max produziu a série ‘Vale dos Esquecidos’, a primeira do gênero de terror na plataforma, que estreia neste domingo (25). Juliana Lourenção, a atriz que interpreta Bruna na trama, conversou com AnaMaria Digital.

Na visão da atriz, a série prenderá o espectador durante seus dez episódios, que prometem muito mistério, revelações empolgantes e personagens complexos. “O que mais me chamou atenção é que é um produto brasileiro de gênero, de terror, de suspense e que está maravilhoso”, elogia.

‘Vale dos Esquecidos’, a maior produção em que a atriz já trabalhou, aborda a história de um grupo de amigos que, ao pegar um atalho durante uma trilha, acaba caindo em uma cidade escondida pela névoa chamada Vale Sereno, onde coisas sobrenaturais começam a acontecer. Diante desta situação, cada personagem age de uma forma para lidar com o problema.

“A personagem é bem diferente de mim. Sou uma pessoa mais extrovertida e ela é uma menina bem introspectiva, mais tímida. Ela passou por coisas difíceis, que justificam esse comportamento e que vamos descobrindo ao longo da série. Apesar disso, é muito generosa e está sempre querendo ajudar os amigos. Gosto de dizer que ela ainda acredita no ser humano, no amor”, diz.

IDENTIFICAÇÃO COM A PERSONAGEM

Apesar das diferenças, a artista também revela que tem uma importante semelhança com sua personagem: o fato de ambas terem sido vítimas de violência no passado. Juliana não revela os traumas de Bruna, mas fala dos próprios, pois acredita ser importante compartilhar sua história com outras mulheres.

“Eu já fui mais parecida com a Bruna há um tempo, quando sofria violência sexual em um relacionamento, mas não sabia que configurava violência sexual quando você estava com um parceiro”, conta.

“Acabei compreendendo isso quando fui fazer parte de um coletivo feminista. Um dia, uma das meninas deu um relato que, quando ouvi a história dela, parecia que ela estava contando a minha história. Aí caiu a minha ficha e eu falei: ‘Nossa, o que eu estou vivendo é violento. É um relacionamento abusivo e eu não preciso disso’”, revela.

A atriz lembra que recebeu muito amparo de sua rede de apoio, o que a ajudou a romper o relacionamento e fazer terapia. “Hoje, graças a todo esse processo, estou muito bem para falar sobre isso. Não que eu goste, mas acredito ser importante abordar o assunto para abrir esse diálogo, para que outras mulheres se identifiquem e consigam se libertar assim como eu consegui. Para que elas saibam que, às vezes, a pessoa que diz te amar mais, pode ser o seu abusador”, comenta sobre o tema.

Juliana diz que o processo dolorido que viveu serviu como uma base para a construção de sua personagem em ‘Vale dos Esquecidos’. Em relação a isso, ela reflete sobre o trabalho do ator e suas crenças pessoais sobre a profissão. “Acho que isso [levar o pessoal para o profissional] é inerente ao trabalho do ator. Não acredito em folha em branco, porque tenho o meu físico, as minhas memórias, a minha amplitude emocional e psicológica, e tudo isso eu preciso saber emprestar ou não para a personagem”, opina.

TORNANDO-SE BRUNA

Juliana comenta que, além de suas próprias vivências, da ajuda do preparador de atores e do trabalho com o resto do elenco, ela utilizou algo inusitado para construir sua personagem: a música. “Gosto sempre de criar uma playlist da personagem e, para a Bruna, criei uma de rock, que basicamente tinha Linkin Park, algo que já ouvi muito e me acessava o emocional de uma época em que eu conseguia ficar mais próxima dela”.

O método funcionou tão bem que, muitas vezes, ela nem precisava do celular e dos fones de ouvido para escutar a música: “Eu já tinha música na cabeça. Só cantava um pouquinho e aquilo já me trazia concentração”, diz.

Ela ainda conta que nunca compartilhou essa informação com ninguém, mas destaca a música ‘In the End’, do Linkin Park, como uma das que a faziam acessar o emocional da personagem rápido: “Eu nem comentava com ninguém, era um segredinho meu e da minha personagem. Já posso falar”, ri.

Além de música, um dos doces brasileiros mais amados foi uma maneira de se conectar com sua personagem: os brigadeiros, que ainda coincidiram com a paixão pela culinária da atriz. “Como a Bruna é doceira, comecei a experimentar receitas de doce e descobri que faço um brigadeiro maravilhoso”, conta rindo. “E aí um dia antes de gravar, eu fazia uma leva de brigadeiros, levava no dia seguinte e distribuía para a galera. Claro, isso antes da pandemia, porque depois, com os protocolos de segurança, a gente não podia mais fazer isso”, relembra a primeira metade das gravações.

Mulher branca de olhos castanhos e cabelos azuis posando em um fundo azul escuro
A atriz Juliana Lourenção caracterizada como Bruna em 'Vale dos Esquecidos' - Crédito: Carmen Campos

GRAVAÇÃO EM PARTES

O teste de atores da série começou no segundo semestre de 2019 e, uma vez definido o elenco, as gravações tiveram início em 2020. No entanto, a pandemia da covid-19 interrompeu o planejamento da série, que só retomou as filmagens no final de 2021.

“Durante esse tempo todo eu mantive o cabelo azul (característico de Bruna) e o estudo para a personagem. Inclusive, teve uma cena minha que a segunda metade foi gravada em 2020 e teria que gravar a primeira parte, com continuação direta, em 2021, então eu precisava manter essa personagem quentinha para conseguir dar conta”, revela Juliana sobre sua preparação durante um ano de pausa nas gravações.

Por trás das câmeras, a pandemia contribuiu para a união entre os atores e os membros da produção, e a boa relação de todos tornou o trabalho mais leve, relata Juliana. “Era a coisa mais divertida do mundo, até hoje a gente conversa e se diverte. Como é uma série de terror, tem cenas bastante intensas, e a gente precisava manter o humor [no set]”, diz.

“CACHORROS ATORES”

Além disso, como em qualquer outra produção audiovisual, não poderiam faltar perrengues, e ‘Vale dos Esquecidos’ sofreu com o clima instável de Paranapiacaba, cidade do interior de São Paulo onde foram realizadas as gravações. Juliana conta que era comum estar sol e, no meio da gravação, o tempo fechar, ou acontecer o inverso.

Este problema, no entanto, era facilmente resolvido com equipamentos específicos de luz e geradores de fumaça que imitavam a neblina local. Já outro empecilho era bem mais incontrolável - e fofo: os cachorros de rua que ficavam interagindo com a produção da série e entravam em cena durante as gravações.

A presença dos cães de rua foi tão forte nos bastidores de ‘Vale dos Esquecidos’ que, no final, acabaram entrando para a família, sendo adotados pelos membros da produção. “Eles passavam fome, alguns estavam doentinhos, e agora eles vivem vidas de reis e rainhas, estão super confortáveis”, comemora Juliana, que, apesar da vontade, não pôde adotar um dos animais por já ter um cachorro e viver em um apartamento pequeno.

SAUDADE

Finalmente, Juliana Lourenção diz que ‘Vale dos Esquecidos’ e Bruna já estão deixando saudade: “Foi muito gostoso. Quando a gente termina um trabalho, tem um período de luto ali para se despedir da personagem. Eu sinto saudade do cabelo azul, tanto que, se pudesse, ficava com ele”, ri, mencionando o atributo físico mais marcante de sua personagem.

Juliana ainda garante que a produção da HBO Max pode atrair até mesmo aqueles que não gostam de histórias de terror, arriscando dizer que a série pode mudar a opinião e os gostos dos espectadores. Por fim, agradece a oportunidade de trabalhar em uma grande produção e de interpretar um papel como o de Bruna:

“É muito difícil a profissão que a gente tem. Para cada ‘sim’ que atores e atrizes levam, são muitos ‘nãos’ por trás, não tem glamour nenhum. Então, quando a gente tem a oportunidade de fazer um trabalho grande, que dá para experimentar bastante com o personagem, traz um reconhecimento do que a gente gosta de fazer.”