Educação financeira para crianças favorece a relação com o dinheiro na vida adulta; confira as dicas dos especialistas
Publicado em 16/04/2024, às 14h00
As finanças são parte importante da vida de qualquer cidadão. Contudo, não são raras as pessoas que, na vida adulta, não têm uma boa relação com as finanças pessoais. Se para muitos de nós conceitos monetários parecem complexos, para uma criança a situação é ainda mais delicada.
De acordo com uma pesquisa feita pela fintech Will Bank, sete em cada dez brasileiros não têm uma visão positiva sobre sua relação com o dinheiro. Por isso é tão importante estimular o raciocínio em torno do tema desde cedo e introduzir a educação financeira para crianças.
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AnaMaria conversou com especialistas no assunto, e trouxe dicas de como introduzir conceitos básicos de economia e finanças de uma forma lúdica e acessível para crianças. Confira!
A educação financeira para crianças deve fazer parte do processo de educação geral, em casa e também nas escolas. Para adaptar os princípios de educação financeira para diferentes faixas etárias dos pequenos, é essencial considerar a individualidade de cada criança.
Paulo Telles, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explica que os princípios devem ser introduzidos com leveza: “É importante ser feito de forma lúdica, leve e através da rotina do dia a dia da casa. Deve ser iniciada sem que pareça mais uma tarefa ou obrigação para a criança”. Paulo reforça que é fundamental adequar a linguagem e as atividades conforme a idade e o nível de desenvolvimento de cada criança.
Vagner Antiqueira, coordenador pedagógico do Colégio Anglo Leonardo da Vinci, enfatiza que a educação financeira vai além dos números, mas diz respeito às emoções, valores e comportamentos que moldam a maneira como lidamos com as finanças ao longo da vida adulta.
Ao promover uma compreensão saudável e consciente das finanças desde cedo, estamos capacitando as crianças não apenas para administrar seu dinheiro, mas também para enfrentar desafios, se relacionar com os outros e tomar decisões assertivas em suas vidas.
“O dinheiro pode despertar emoções fortes, como medo, ansiedade ou desejo. Use reforços positivos ao ensinar sobre dinheiro, elogiando escolhas financeiras inteligentes. Evite associar dinheiro apenas às restrições ou punições. Permita que os pequenos cometam erros financeiros leves e aprendam com eles. Reconheça que cada criança é única e pode ter atitudes e emoções diferentes em relação ao dinheiro.”, diz Vagner.
O pedagogo dá dicas de atividades indicadas para cada faixa etária na educação financeira para crianças: confira a seguir!
3 a 4 anos — Lojinha e cofrinho
Nessa faixa etária, podemos ensinar o que são moedas e cédulas e seus respectivos valores. Explicar para as crianças que o dinheiro é usado para comprar coisas.
Uma maneira interessante de aplicar esses ensinamentos é brincando, por exemplo, de lojinha. Nessa brincadeira as crianças podem comprar e vender brinquedos — que podem ser próprios, ou criação delas, como desenhos e esculturas artesanais.
“É ainda possível trabalhar com a ideia de poupar, introduzindo um cofrinho no cotidiano da criança. Os pais também podem guardar moedas em cofrinhos, levá-los ao mercado e explicar que usam dinheiro para comprar os mantimentos, pois nessa época o exemplo dos pais é marcante na vida da criança.”, orienta o pedagogo.
5 a 6 anos — Lista de compras
Quando falamos de crianças de 5 e 6 anos, é possível inserir a ideia de planejamento de compras. “Antes de ir às compras é importante diferenciar necessidades de desejos com uma pergunta básica. ‘Você precisa disso para viver ou é algo que gostaria de ter?’. Após planejar as compras, estabeleça uma pequena quantia de dinheiro para que eles possam gastar em algo que querem.”, diz Vagner.
É importante permitir que eles participem ativamente do processo de pagamento das compras, com dinheiro real — em pequenas quantias — no mercado ou na loja de doces, ensinando também a ideia do troco.
“Iniciar a conversa sobre trabalho e dinheiro é importante. Explicar que, ao fazerem tarefas em casa, também estão contribuindo e aprendendo sobre responsabilidades.”, acrescenta o profissional.
7 a 8 anos — Mesada
“Com a ideia já estabelecida das tarefas que podem ser feitas em casa, as crianças de 7 a 8 anos podem ser apresentadas a famosa mesada, vinculada a pequenas tarefas de casa. Um bom momento para ensiná-los a gerenciar o dinheiro para durar todo o mês.”, diz o coordenador pedagógico.
Vagner esclarece que nessa faixa etária é possível estabelecer metas de economia e de poupança para comprar o que desejam. Mostrar para os filhos a importância de comparar preços de itens similares e que algo mais caro nem sempre é o melhor. Uma criança mais velha consegue compreender investimentos simples: mostre exemplos básicos de como o dinheiro cresce ao longo do tempo.
Anna Dominguez Bohn, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria, destaca o papel dos pais no processo de aprendizagem. “Os pais são referência e modelo para as mais diversas etapas da vida. Desde os primeiros anos a família e, principalmente, os cuidadores mais próximos, são aqueles que as crianças admiram e querem imitar”, explica.
Por isso, ninguém melhor que os adultos mais próximos para ensinar e sedimentar conceitos e comportamentos. O peso das atitudes destes familiares costuma ter muito mais impacto que algo observado em terceiros. A teoria é importante no dia a dia, mas a melhor forma de educar e introduzir estes valores é dar exemplo.
Ao longo do processo, para crianças maiores, é possível aproximar pais e filhos na busca por resolução de problemas domésticos, como buscar formas de economizar dinheiro para alguma conquista em comum.
Conforme já falamos por aqui, a educação financeira para crianças também deve estar presente no ambiente escolar. O coordenador pedagogo pontua que, ao incorporar as estratégias de ensino, os educadores devem garantir que a educação financeira seja acessível e envolvente para todos os alunos, independentemente de seus estilos de aprendizagem ou experiências pessoais.
“Essa abordagem diversificada não apenas ajuda no entendimento dos conceitos financeiros, mas também promove habilidades de vida valiosas, como pensamento crítico, colaboração e resiliência.”, diz Vagner.
“Outras estratégias que o educador pode abordar são: aprendizado baseado em projetos, personalização do conteúdo, simulações e jogos, parcerias e visitas, aprendizado social e colaborativo, histórias e narrativas, entre outros.”, completa.
Um dos aspectos importantes que o aprendizado dessas representações traz é a construção de autonomia e tomada de decisões ao longo da vida. A pediatra lista e detalha os conceitos de guardar, gastar e dividir. Confira cada um deles a seguir:
Guardar
A mesada é um dos caminhos para ensinar crianças a lidar com dinheiro. O valor pode ser simbólico, mas deve ter constância: semanal ou mensal. O guardar também pode vir associado a algum objetivo, como a compra de um item para si ou para outra pessoa, mas pode tomar proporções mais complexas como reserva para alguma necessidade inesperada, como a perda de um objeto valioso.
Gastar
Apesar de ser algo que muitos pais têm o ímpeto de controlar intensamente, precisa ser permitido para as crianças aprenderem a tomar decisões com fundos limitados e lidar com as consequências disso. Estabeleça regras do tamanho do item ou valor máximo a ser gasto por dia, ou por semana.
Dividir
Esse conceito ajuda a entender que fazemos parte de uma comunidade e a construir uma atitude cidadã. O pequeno aprenderá como um gesto positivo tem um grande impacto. De tempos em tempos, faça uma seleção de brinquedos que não são mais tão interessantes para a faixa etária da criança e roupas que ficaram pequenas. Depois pesquisem juntos alguma causa ou organização que os interessa para doar.
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