A campanha 'Maio Laranja' visa promover a conscientização acerca do abuso sexual infantil; veja livros, cursos e orientações sobre o tema
Maio é marcado pela campanha 'Maio Laranja', dedicada à conscientização e prevenção do abuso sexual infantil — questão de extrema importância para pais, educadores e cuidadores. Ensinar as crianças sobre limites e ajudá-las a reconhecer situações de perigo pode fazer a diferença na proteção de sua integridade física e emocional.
Pensando nisso, AnaMaria conversou com Roseli Mendonça, especialista em prevenção de abuso sexual infantil, autora do best-seller 'Meu Corpo, Meu Corpinho' e criadora de um curso voltado para pais e mães, sobre como identificar sinais de abuso e proteger as crianças. E além de orientações, recursos e práticas recomendadas para prevenir o abuso sexual infantil, trouxemos livros essenciais que abordam o tema de maneira acessível e educativa. Confira tudo a seguir.
De acordo com Roseli, identificar os sinais de abuso sexual em crianças exige atenção e sensibilidade. “Quando aparecem sinais ou a criança se queixa de sintomas físicos, como dor nas partes íntimas, hematomas nas áreas genitais ou presença de uma secreção específica, é mais fácil para o adulto relacionar essas manifestações a um abuso sexual. Entretanto, nem sempre os sinais físicos são evidentes”, explica a especialista.
Além dos sintomas físicos, há sinais emocionais e comportamentais que também indicam abuso. Roseli destaca que esses sinais emocionais podem incluir tristeza, agressividade e medo extremo. “O ponto central é a mudança brusca de comportamento. Uma criança que era alegre e de repente se torna apática ou desmotivada merece atenção especial”, acrescenta. Nem sempre a tristeza é o principal sintoma; algumas crianças podem se tornar excessivamente agressivas ou desenvolver fobias inexplicáveis.
Outro ponto importante é que o abuso sexual nem sempre deixa marcas físicas, já que o abusador pode evitar deixar provas evidentes. Além disso, o abuso pode ocorrer sem contato físico direto, como em casos onde um adulto expõe partes íntimas ou atividades sexuais para a criança, ou induz a criança a atos sexuais com outras crianças.
“O abuso sexual é um termo guarda-chuva, que abrange várias ações e comportamentos. Por isso, a observação de mudanças bruscas e inexplicáveis no comportamento da criança é crucial”, diz Roseli. Por exemplo, uma criança que já passou pela fase de desfraude e volta a fazer xixi na cama ou cocô na roupa pode estar exibindo sinais de regressão devido ao abuso.
Comportamentos erotizados ou esquiva em relação a certos adultos ou ambientes também são sinais de alerta. Tanto uma aproximação exagerada quanto uma evitação extrema de determinados indivíduos ou locais devem ser observados com cuidado.
Roseli enfatiza a importância de os pais e cuidadores procurarem ajuda profissional ao notarem mudanças preocupantes. “Se os pais percebem uma mudança brusca no comportamento da criança que os deixa inseguros ou confusos, devem buscar um psicólogo infantil para obter um olhar especializado. Jamais ignore ou tente resolver a questão sozinho”, alerta.
De acordo com a especialista, a prevenção mais efetiva vai além de apenas ensinar a criança a se proteger. “Muitas vezes, o caminho natural para os pais é ensinar diretamente sobre o que é abuso sexual e o que fazer em determinadas situações. Isso não está errado, mas há uma abordagem mais abrangente e eficaz”, explica Roseli.
Ela enfatiza que a prevenção do abuso sexual deve fazer parte de uma educação sexual completa, que aborde a sexualidade como uma dimensão humana dentro da educação integral das crianças. “Focar apenas na prevenção de abuso muitas vezes introduz a sexualidade de um lugar negativo, de ameaça. É fundamental começar pelo positivo, ensinando sobre o valor do corpo, a importância de cuidar de cada parte e o direito de estabelecer limites”, destaca.
Ao falar sobre os sinais de abuso, é importante ter em mente que mudanças bruscas de comportamento são um indicativo importante. “Qualquer mudança repentina precisa ser avaliada, pois pode haver uma causa subjacente, que não deve ser ignorada. Por exemplo, uma criança que estimula os genitais pode ser um comportamento normal ou um sinal de abuso, dependendo da frequência e intensidade”, explica Roseli.
Então, é importante diferenciar comportamentos normais daqueles que podem indicar abuso. De acordo com a autora, a curiosidade infantil em explorar o próprio corpo é natural, mas comportamentos erotizados, como simular posições sexuais, não são comuns e indicam exposição a conteúdos inadequados ou abuso.
Na tentativa de evitar que isso ocorra, é fundamental que os pais ofereçam uma educação sexual que promova uma visão positiva do corpo e das relações. “É importante que as crianças saibam que têm o direito de dizer não e que seu corpo é valioso. No entanto, a proteção contra o abuso é responsabilidade dos adultos”, afirma Roseli.
Ensinar as crianças sobre limites corporais e direitos pode ajudar a repelir possíveis abusadores, que preferem vítimas desinformadas e emocionalmente vulneráveis. A especialista ressalta que uma boa educação sexual e um vínculo forte com os pais e cuidadores podem reduzir o risco de abuso. “Crianças que têm um bom entendimento sobre seus corpos e limites, e que têm uma comunicação aberta com seus pais, são menos suscetíveis a abusadores. Estes procuram vítimas que não reconheçam ou relatem o abuso”.
Vale mencionar também que a prevenção do abuso sexual é multifacetada. Uma família atenta, estratégias de segurança e uma educação sexual positiva são fundamentais. "É importante que as crianças se sintam valorizadas e seguras para reconhecer e relatar situações suspeitas”, aponta Roseli.
Além de produzir conteúdos online e livros sobre educação sexual para crianças, Roseli Mendonça desenvolveu o curso "Infância Preservada", voltado para pais e mães, sobre como identificar sinais de abuso e proteger as crianças, com foco na educação sexual e emocional dos pequenos. "Com o curso, nós vamos fortalecer nossos filhos emocionalmente, através de informação e educação sexual, mas não podemos acreditar que isso por si só previne o abuso", afirma a especialista, enfatizando que a responsabilidade de proteger a criança não deve ser colocada sobre seus ombros.
O curso inclui um plano estratégico de proteção contra o abuso sexual, que Roseli chama de "princípios estáveis de proteção". Ela explica que muitos pais querem saber como identificar um abusador, mas não há um checklist infalível. "A maior característica dos abusadores sexuais é estar acima de qualquer suspeita. Não existe um conjunto de características definidas que permita identificar um abusador apenas observando seu comportamento", aponta.
A orientação é para que as famílias abandonem a fantasia de identificar abusadores e, em vez disso, estabeleçam regras de segurança em casa. "Por exemplo, os meus filhos podem ou não dormir fora de casa? Quais são os critérios? Cada família deve avaliar seus próprios ambientes e estabelecer um conjunto de regras estáveis", sugere Roseli. Isso inclui decisões sobre dormir fora de casa, participar de festas sem os pais e quem pode ajudar com o banho ou troca de fraldas.
Roseli também destaca a importância da comunicação e supervisão em eventos familiares. "Em um churrasco, por exemplo, é essencial manter a supervisão da criança de forma que ela possa brincar e socializar, mas sempre com um adulto atento", explica. Ela defende que os pais precisam reforçar em público os princípios de segurança ensinados em casa. "Os pais devem dizer 'não' a certas brincadeiras e níveis de intimidade que não são adequados, mesmo que isso possa desagradar familiares ou amigos", afirma a especialista.
Roseli também alerta que viver tentando adivinhar quem é ou não um abusador pode ser traiçoeiro, pois muitos abusos são cometidos por pessoas próximas e de confiança. "A verdadeira face do abuso sexual é que a maioria dos abusos são cometidos por pessoas próximas à criança, muitas vezes de dentro da casa. A prevenção do abuso sexual é uma soma de fatores e o principal responsável é o adulto, não a criança", finaliza.
O curso "Infância Preservada" visa oferecer às crianças não apenas informação, mas também formação, com uma educação sexual e emocional positiva e integradora. Acesse mais informações sobre o curso aqui.
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Com a crescente necessidade de proteger as crianças, a educação e a conscientização se tornam ferramentas fundamentais na prevenção do abuso sexual infantil. Para ajudar pais, educadores e cuidadores a abordar esse tema delicado de maneira adequada e eficaz, selecionamos cinco livros que oferecem orientações valiosas e promovem o diálogo sobre privacidade, consentimento e segurança. Confira a seguir:
O livro escrito por Roseli Mendonça aborda privacidade, proteção e segurança infantil de maneira envolvente e divertida. Com uma abordagem lúdica, o livro ensina conceitos importantes como a identificação das partes íntimas, a assertividade em dizer não e a importância de manter um diálogo aberto com um adulto de confiança. Em um contexto onde o abuso infantil é uma ameaça constante, esta obra oferece a pais e cuidadores uma ferramenta educativa importante para garantir que as crianças cresçam seguras e conscientes dos seus direitos, fora das estatísticas de abuso.
O livro aborda a prevenção do assédio e abuso infantil de forma empática e acessível para crianças, pais, professores e cuidadores. Inspirado na música de Elisa Gatti, a obra utiliza uma narrativa sensível e ilustrações coloridas de Rita Silva para ensinar a importância do consentimento, cuidado e respeito desde a infância. A história inclui um código QR que leva à canção no Spotify, tornando a leitura mais envolvente. Com contribuições da psicóloga infantil Marcela Ondei, o livro é uma ferramenta valiosa para iniciar conversas sobre segurança e proteção infantil, incentivando um ambiente seguro e respeitoso em todas as esferas da vida das crianças.
É um livro que aborda de forma lúdica e delicada o tema da violência sexual infantil. A história gira em torno de Ritoca, uma menina que enfrenta uma situação desconfortável com um tio inicialmente gentil, que se transforma em um pesadelo. Com a ajuda de seus amigos, ela aprende a reconhecer comportamentos suspeitos e a entender que ninguém deve tocar em seu corpo de maneira inadequada. Escrito por Andrea Taubman e ilustrado por Thais Linhares, o livro oferece segurança e informação às crianças, ensinando-as a identificar e evitar situações de abuso, sem perder o encanto da literatura infantil.
É um premiado livro infantil que atua como um recurso educativo para ensinar crianças sobre o corpo, emoções, convivência e trocas afetivas. De forma acessível e clara, o livro orienta os pequenos a distinguir entre toques carinhosos e toques inadequados, promovendo a comunicação aberta e ajudando na proteção contra abusos.
É um livro que esclarece as sutis diferenças entre uma mão amiga e uma mão abusadora. Dada a complexidade da pedofilia e sua resistência ao tratamento, a orientação infantil se destaca como a estratégia mais eficaz para prevenir o abuso sexual infantil. Este livro visa facilitar a abordagem do tema nas escolas e entre famílias, utilizando uma linguagem simples e poética para ajudar na conscientização e prevenção.
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