Veja os benefícios que a musicalização traz para o desenvolvimento infantil e como isso pode ajudar a toda a família
*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 24/11/2023, às 08h00 - Atualizado em 11/12/2023, às 16h45
"Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar..." Quem não conhece essa música, independentemente da idade? Parte importante da infância, o fascinante universo da musicalização infantil é capaz de gerar as lembranças mais antigas nas pessoas e, por vezes, as mais delicadas. E, mais do que memórias afetivas, a música e suas notas impulsionam o crescimento, a criatividade e o desenvolvimento infantil.
Portanto, ao som de cantigas melódicas para crianças ou até de clássicos da MPB, nossa coluna de hoje traz a magia das canções populares e como elas guiam os primeiros passos das crianças, tecendo laços de aprendizado e alegria. Além disso, vamos abordar os benefícios que a musicalização traz para o desenvolvimento integral dos pequenos.
Normalmente, pais que gostam de música dão um empurrãozinho para que os filhos também se encantem por esse universo – inclusive, não é raro encontrar crianças que gostem de nomes como Elis Regina, Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano, Queen, Rolling Stones e afins.
Alessandra Santos, que hoje tem 46 anos e é mãe de Isabela, de 11 anos, conta que a música sempre fez parte do dia a dia da família, e que a filha acabou se interessando pelos discos que ela ouvia em casa.
“Essa herança musical foi deixada, na verdade, pelos meus pais, que amavam música. Lembro quando eu era pequena, que o toca-discos estava sempre tocando MPB. E eu acabei levando isso para a minha filha. Claro que ela adora as músicas que fazem parte da geração dela, mas o que acho fantástico é como a música não é apenas diversão para a Bela. Ela escuta com atenção, interpreta as letras, se emociona. Acho realmente incrível uma menina, com tantos outros programas, preferir ouvir música do que assistir a uma série ou vídeo ou mesmo sair”, comenta.
E a música pode ajudar também na timidez e socialização das crianças. Esse é o caso de Heitor, de 6 anos, filho de Marielle Blaskievicz. Ela conta que, após ele começar a fazer aulas de música aos 4 anos, passou a cantar muito e, consequentemente, se soltou mais e passou a se interessar por outras atividades, como desenhar. “Pode parecer que não tem a ver, mas contribuiu. Eu acreditava que ele não soubesse ou gostasse de desenhar, e agora ama. Na verdade, acredito que tenha começado a se sentir mais seguro para se expressar. Para além dos benefícios na vida do meu filho, acho que a música desenvolve a sensibilidade, a criatividade, a emoção, além de ser lindo. Sempre digo que as pessoas que sabem tocar ou cantar têm uma vantagem, mesmo que não usem isso profissionalmente”, pontua.
Ela comenta, ainda, que a música não é parte apenas da vida de Heitor. Em casa, está presente na rotina da família o tempo todo nos finais de semana, seja na hora de preparar o almoço, quando estão no quintal descansando, ao receberem os amigos em casa e, até mesmo, no carro, passeando ou viajando. “Acho também importante meu filho ter essa ligação com a música por outros motivos. Quando eu era pequena, na casa dos meus pais, tinha aqueles sons antigos que tocavam discos e sempre tocava boleros ou valsas aos domingos. Então, essas canções lembram a minha família, minha infância, coisas boas. Da mesma forma, quero recriar um ambiente assim para o Heitor”, complementa.
E a iniciação musical tem ainda mais benefícios. O contato das crianças com as telas têm acontecido cada vez mais cedo e é uma preocupação constante para as famílias. Na casa de Anelise Carreira Cavaliere, mãe de Nathalie, de 26 anos, e Lucas, de 10, a música ajudou o menino a se livrar de um desses “males”, os tablets. “Minha filha mais velha, que é musicista, ajudou o irmão a se envolver mais com a música, aprendendo a cantar e dançar. Percebi uma diferença enorme em sua autoestima e autoconfiança, que são muito maiores agora. A sociabilidade dele melhorou 100% também”, conta.
Para ela, além de distrair e divertir, a música faz com que a gente perceba melhor nossas emoções, desenvolvendo autoconhecimento, apurando sentidos, sentimentos, e sensações. “Também vejo como uma forma de espairecer, já que as crianças estão desenvolvendo ansiedade cada vez mais cedo e a música ajuda muito. No caso do meu filho, especificamente, sinto que agora ele tem mais foco e se sente mais alegre também. Além disso, acredito também que ajude no desenvolvimento da criatividade, da expressão, da comunicação, da inteligência emocional e sensorial, além dos efeitos terapêuticos”, alerta.
Na visão de Nathalie, a irmã que é musicista, são diversos os benefícios para uma criança em ter contato com a música, não apenas como espectador, mas como "praticante". “Desde uma forma saudável de brincadeira, até a contribuição para o desenvolvimento da criança, em áreas como a expressão corporal, a comunicação, a socialização, além de estimular a concentração, a memória, e a coordenação motora”, diz. Além disso, há casos de crianças que "usam" a música, seja cantando ou tocando instrumentos, para ajudar no tratamento de doenças como a depressão. “Ouvir e tocar música nos faz liberar hormônios que reduzem o estresse, além de despertar emoções e estimular interações sociais”, explica.
E existem empresas no mercado que podem ajudar a promover essa iniciação musical. A Kidzzo, por exemplo, chega ao mercado com instrumentos pensados e desenvolvidos em parceria com especialistas em musicalização e educação para que os pequenos tenham um mundo de possibilidades para aprender música. “A musicalização infantil é uma prática educativa fundamental que envolve a inserção da música na vida das crianças desde os primeiros anos de vida. Essa abordagem tem grande importância no desenvolvimento global das crianças, abrangendo aspectos físicos, emocionais, sociais, cognitivos e linguísticos”, explica Simone Storino, vice-presidente da Izzo e idealizadora da marca Kidzzo, que é mãe de Sophia, de apenas 2 anos.
“A música é importante não apenas para divertir, mas também ajuda no desenvolvimento cognitivo, da coordenação e da concentração. Acredito também que as melodias estimulem a fala quando se trata de crianças pequenas. No meu caso e da Sophia, ouvir música se tornou, ainda, um momento de conexão entre nós”, diz.
Aprender um instrumento, para nós adultos, parece fácil. Afinal, em tese, basta procurar algo que agrade “aos ouvidos” e começar. Para as crianças, no entanto, além de ser algo que gostem, é preciso saber se há idade, altura mínimo, entre outros. Por isso, a seguir, pedimos a ajuda de dois especialistas no assunto para ajudar nessa escolha: Everson Ferreira Fernandes, que é musicoterapeuta, educador musical, sócio fundador e secretário da Associação Potiguar de Musicoterapia – APOMT, além de idealizador do Espaço Musical - SOE musicoterapia; e Pedro Fonseca, músico e educador musical, e fundador/ diretor do Centro Cultural Cangoma , um espaço de pesquisa e prática das manifestações da cultura popular brasileira.
Everson Ferreira Fernandes - A prática musical pode trazer diversos benefícios para o desenvolvimento infantil, que vão além do âmbito musical, pois o processamento musical cerebral conecta diversas áreas do cérebro, estimulando e favorecendo habilidades que para diversas áreas da vida como um todo.
Pedro Fonseca - A prática musical oferece diversos benefícios: desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas emocionais e sociais, além de desenvolver uma nova linguagem, uma nova forma de expressão e comunicação.
Everson Ferreira Fernandes - Na primeira infância, o momento é de exploração e descoberta sonora. Por isso, vários instrumentos podem ser utilizados para fins de exploração, observando tamanho adequado e materiais que não ofereçam risco. Quando se fala em desenvolvimento de aspectos motores e de atenção, os instrumentos de percussão com altura indefinida são indicados em um primeiro momento. Os instrumentos de percussão com altura definidas, como os sinos e xilofones, são indicados para a continuação do trabalho, possibilitando o desenvolvimento de coordenação motora e uma atenção mais fina e sustentada.
Pedro Fonseca - Acredito que as crianças podem ter acesso a todos tipos de instrumentos cordas, sopro e percussão. No entanto, dependendo da idade, alguns instrumentos são mais delicados e exigem a presença de um educador para auxiliar na exploração.
Everson Ferreira Fernandes - Instrumentos que ofereçam risco de ingestão de alguma de suas partes. Instrumentos aos quais as crianças tenham hipersensibilidade auditiva. Nesses casos, é importante avaliar individualmente.
Pedro Fonseca - Não. É claro que alguns instrumentos sopros /madeiras, cordas friccionadas não são de fácil execução. Mas as crianças podem explorá-los com o auxílio de um educador.
Everson Ferreira Fernandes - A música pode ser usada para estímulo e promoção de saúde em diversos casos, pois proporciona efeitos no ser humano (biológicos, emocionais, físicos, espirituais, sociais e psicológicos). Esses efeitos podem ser negativos ou positivos. Por isso, é importante que o trabalho seja realizado por um profissional musicoterapeuta formado e capacitado, dentro de um processo terapêutico.
Pedro Fonseca - Sim. A música pode ser utilizada como forma de atendimento terapêutico em todas as faixas etárias, de bebês até idosos. Existem diversas formas de atendimentos musicoterapicos com resultados extremamente positivos.
Everson Ferreira Fernandes - Sim. A música é uma forma de expressão humana e, como tal, pode servir para expressar questões positivas ou negativas. Nesse sentido, as expressões musicais são uma forma de expressar diversos temas, que são legítimos dentro de uma sociedade livre e democrática. Porém, quando falamos do acesso das crianças às músicas com conteúdos adultos, eróticos e de duplo sentido, devemos restringir o acesso a cada faixa etária de acordo com a maturidade e com critérios de valores culturais, sociais e familiares, de cada contexto.
Pedro Fonseca - Concordo totalmente! Existe uma produção musical que aborda temas totalmente direcionados para maiores de idade e estão sendo oferecidos, sem nenhum cuidado, para o público infantil. Penso que a criança deve ser respeitada no seu desenvolvimento e nas suas necessidades como um todo e a música deve ser um meio para isso. Dessa forma, algumas produções musicais podem ser extremamente prejudiciais para o público infantil.
Everson Ferreira Fernandes - Sim, diversos, diariamente presenciamos evolução significativa na socialização por meio da música.
Pedro Fonseca - Conheço diversos casos. Como musicoterapeuta e como educador musical, vejo isso acontecendo o tempo todo e não tenho nenhuma dúvida da potencialidade de música como um meio de socialização. Tanto para crianças quanto para adultos.
Pedro Fonseca - Quintal da Cultura, grupo EmCantar, Barbatuques, Palavra Cantada, Cocoricó, vídeos musicais dos Muppets.
Everson Ferreira Fernandes - Sim. O estímulo musical pode ser benéfico para todas as crianças, desde que elas não tenham restrições específicas. Seguir o aprendizado de um instrumento específico com objetivos profissionais é uma escolha que deve ser posterior ao processo de musicalização.
Pedro Fonseca - Sim. No entanto, deve ser respeitada sua faixa etária, seu desenvolvimento e o ensino deve ser feito de forma leve, natural, respeitando o tempo e as necessidades específicas da criança.
Everson Ferreira Fernandes - Apesar de ser um ditado popular, essa frase tem comprovações científicas. Ao cantar, mobilizamos pensamentos, memórias, sentimentos e liberamos neurotransmissores, como a dopamina e a ocitocina, responsáveis pela sensação de bem-estar.
Pedro Fonseca - A música é um alento, um amparo, uma companheira, uma forma de identificar e de expressar os sentimentos e emoções. Muitas vezes, ela é mais eficiente que as palavras e consegue expressar melhor o que está dentro de nós. Ouvindo, tocando ou cantando uma música, a pessoa se conecta com uma estrutura perfeita de equilíbrio de diversos elementos (ritmo, melodia, harmonia, timbres, intensidade, alturas) e esseq equilíbrio pode ser reverberado internamente e "espantar" diversos males.