O universo das “IAs do job” está movimentando a internet brasileira. Trata-se de uma nova onda em que criadores usam Inteligência Artificial para gerar imagens e vídeos de mulheres virtuais em cenas sensuais ou explícitas, vendendo esse conteúdo em plataformas 18+ como OnlyFans, Privacy, Fanvue, LinkPriv e Uncove. A expressão “IA do job” é uma referência à gíria para garotas de programa, e tem sido popularizada principalmente no TikTok.
Padrão estético
A maioria dessas criações segue um padrão estético bastante específico: mulheres brancas, com corpos considerados “perfeitos”, o que acaba reforçando estereótipos de beleza e invisibilizando corpos fora desse padrão. “Quase não há mulheres negras ou não brancas. Predomina um padrão europeu e, em menor número, perfis fetichizados de mulheres morenas, de cabelo liso e bronzeadas”, afirma a advogada Giovana Gabriela Silva para o G1.
O público consumidor é majoritariamente masculino, acima de 40 anos, estrangeiro (especialmente de países como Índia, Paquistão e EUA) e com dificuldades de relacionamento, segundo relatos de criadoras em grupos de WhatsApp e Telegram sobre o tema.
R$ 20 mil de faturamento
A criadora Elaine Pasdiora, de Porto Velho (RO), contou ter faturado mais de R$ 20 mil com o negócio entre janeiro e março de 2025, sendo a maior parte com a venda de cursos sobre como criar essas personagens. “Mesmo dizendo que o retorno financeiro não vem rápido, muita gente vem com a expectativa de que vai ganhar muito dinheiro com isso”, relata ela ao G1.
Elaine afirma que trabalha apenas com plataformas que aceitam conteúdo gerado por IA e sempre informa quando não se trata de uma pessoa real.
Outro caso é o da designer Elisabete Alves, que vive em Portugal e iniciou sua “IA do job” por curiosidade. Ao disponibilizar um pequeno pacote de fotos, recebeu sua primeira venda. Hoje, ela vê a iniciativa como uma oportunidade de renda extra, que consegue conciliar com seus trabalhos como designer e profissional de TI. “É interessante porque posso gerar uma renda extra e, ao mesmo tempo, aplicar minhas habilidades com tecnologia”, comenta ao portal.
Como funciona a criação de mulheres virtuais?
Os criadores utilizam diferentes ferramentas de IA para gerar as imagens, adicionar movimentos e até simular falas. Alguns sites oferecem modelos prontos; outros permitem criar personagens por meio de comandos personalizados, usando ferramentas como o ChatGPT para elaborar prompts mais sofisticados. As versões mais avançadas dessas plataformas costumam ser pagas e operam em dólar.
Monetização
Para monetizar, os criadores costumam criar perfis em redes sociais como o Instagram, que funcionam como vitrines com imagens sugestivas e links para os conteúdos exclusivos hospedados nas plataformas 18+. As assinaturas costumam variar de US$ 5 a US$ 15 por mês, dependendo da plataforma e da quantidade de conteúdo oferecido.
Questões éticas
Apesar da aparente facilidade, especialistas alertam para questões éticas e legais. Os termos de uso das principais plataformas exigem que o uso de IA seja informado e proíbem a publicação de conteúdo sem consentimento ou com manipulação de imagens reais, o que pode configurar crime.
Em 2024, a revista Wired denunciou que centenas de “influenciadoras” geradas por IA haviam sido criadas a partir de vídeos reais de criadoras adultas, o que levantou preocupações com a violação de direitos de imagem e consentimento.
A tendência, que começou nos EUA e na Europa no início de 2024, vem se consolidando no Brasil desde o final do mesmo ano. Com o aumento da popularidade, surgiram também os cursos pagos que prometem ensinar a criar a “garota do job”. No entanto, criadoras como Elaine e Elisabete destacam que o retorno financeiro não é imediato e que muitos acabam se frustrando com os resultados.
A discussão sobre regulação desse tipo de conteúdo e sobre o uso ético da IA está em andamento no Brasil. Um projeto de lei sobre Inteligência Artificial já foi aprovado no Senado e aguarda tramitação na Câmara dos Deputados. Enquanto isso, especialistas defendem que o debate sobre ética, consentimento e padrões de representatividade deve avançar junto ao crescimento da tecnologia.
Enquanto isso, criadores seguem explorando o potencial da IA no setor de entretenimento adulto, que tende a crescer nos próximos anos. Empresas do ramo já investem em modelos personalizados e experiências interativas baseadas em IA, o que deve intensificar ainda mais a presença dessas “pessoas que não existem” na economia digital do futuro.
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