Cardiologista explica sintomas, causas e tratamento da doença que acomete Faustão
Publicado em 21/08/2023, às 18h00
Fausto Silva entrou para a fila de transplante de órgãos do SUS, após passar duas semanas internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP), devido a uma insuficiência cardíaca. Mas, afinal, por que Faustão precisará de um transplante de coração?
AnaMaria Digital conversou com o cardiologistaJoão Vicente da Silveira, do Hospital Sírio Libanês, também em São Paulo (SP), para entender quais são os riscos da doença, que atinge cerca de 3 milhões de brasileiros – incluindo o apresentador, de 73 anos.
Segundo o especialista, a insuficiência cardíaca se dá quando o coração perde a capacidade de exercer suas funções. “O coração é um músculo que bombeia sangue para o corpo. Quando está com insuficiência cardíaca em graus avançados, o indivíduo sente um cansaço extremo com o mínimo esforço”, explica.
Além do cansaço, pacientes com insuficiência cardíaca podem apresentar outros sintomas. Os principais são:
“O paciente sente dificuldade em fazer atividades básicas do dia a dia, como escovar os dentes ou pentear os cabelos. Ele pode até conseguir, mas fica muito cansado devido ao que chamamos de derrame pleural (quando há acúmulo de líquido na membrana que protege o pulmão)”, explica João Vicente.
O médico destaca que os maiores fatores de risco para a doença de Faustão são: obesidade, diabete, hipertensão e sedentarismo. Fatores genéticos também podem levar ao quadro, mas são raros em comparação às outras razões.
Pessoas com um histórico de infarto tem maiores riscos de apresentarem insuficiência cardíaca. Ele explica: “O infarto é uma situação em que o coração sofre um machucado, fibrosa um pedaço e enfraquece seu funcionamento. Se o infarto foi muito grande, o coração fica muito fraco. Se o infarto é pequeno e o paciente não se cuida, isso também piora”.
O especialista chamou a atenção para o fato de Fausto Silva ter colocado dois stents (pequenos tubos utilizados para restaurarem o fluxo sanguíneo na artéria coronária) em 2018 – o que indica que o apresentador já apresentava insuficiência coronariana desde então.
Por outro lado, João Vicente descarta que a cirurgia bariátrica que ele realizou em 2009 tenha relação direta com os problemas atuais. “Ele pode ter tido uma complicação da cirurgia bariátrica e ter sofrido um infarto, aí é diferente. Mas não existe uma correlação de uma coisa levar à outra”, pontua.
Como mencionado, Faustão está internado na UTI há duas semanas. Esse cuidado é necessário quando o paciente não reage bem os remédios administrados em casa. “Existem medicamentos de ótima qualidade utilizados no mundo todo para tratamento insuficiência cardíaca, com resultados ótimos. Só que, quando o coração está muito fraco, o órgão acaba não respondendo ao tratamento”, explica.
O procedimento padrão em casos mais graves é a administração neurotransmissores na veia – como adrenalina, noradrenalina e dobutamina – para a aceleração temporária do coração. Após isso, o próximo recurso é a implantação de um marca-passos (ressincronizador) aliada aos demais medicamentos.
Quando nenhum dos tratamentos funciona, existe a necessidade do transplante de coração. “Enquanto o paciente está esperando o transplante, pode colocar um coração artificial, que é uma bomba que mantém durante uns 2 meses esperando um coração. Não dando certo, apenas o transplante mesmo”, complementa o profissional.
João Vicente da Silveira explica que a fila de transplantes é gerenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e atende a todas as pessoas do território brasileiro. A espera funciona em ordem cronológica de cadastro, porém também varia conforme a gravidade dos casos.
“O paciente que está na UTI é o mais grave e recebe prioridade para ‘passar na frente’ dos demais. O médico responsável deve enviar os dados do paciente com todos os parâmetros exigidos pelo governo, incluindo exames que comprovem a gravidade. Aí é esperar uma ligação pelo próximo coração compatível”, detalha ele.
Vale mencionar que o Hospital do Coração (HCor) informou para a imprensa que, atualmente, existem 65 mil pessoas na fila de transplante de órgãos no Brasil, sendo 380 delas aguardando por um coração. Com isso, o tempo de espera de Faustão pode ser de 12 a 18 meses.
Tendo em vista o quadro de Fausto Silva, o cardiologista alerta para a importância de seguir um acompanhamento médico. “Fazer uma avaliação cardiológica, ver se sua pressão está boa… Se não têm artérias entupidas, não vai ter infarto. Vale viver bem e passar em consultas uma vez por ano com o seu médico, para não ter surpresas desagradáveis”, conclui.