Graças aos avanços da medicina, hoje é possível viver normalmente com aids. Mas isso acaba sendo uma má notícia: os jovens vão deixando o preservativo de lado e os casos estão aumentando no Brasil
"Minha única preocupação é engravidar”, “ninguém que eu conheço tem DST”, “às vezes, com o calor do momento, não dá para colocar
camisinha”, “aids é exagero”. Essas são algumas das falas mais comuns dos adolescentes e jovens brasileiros que acham que a aids é uma doença banal, tratável e do passado. Segundo o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, no Brasil, das 32.321 novas infecções por HIV em 2016, 24,8% aconteceram com pessoas entre 15 e 24 anos. Os jovens estão em perigo mesmo! Diante do aumento de casos da doença no país, a Rede Globo deu destaque ao alerta em Os Dias Eram Assim. A personagem Nanda (Julia Dalavia) descobriu que é soropositiva, para desespero da mãe, Kiki (Natália do Vale). Nesse caso, ela não podia ter feito muita coisa para ajudar a filha, já que a série se passava nos anos 80, quando a doença ainda era desconhecida e fatal. Mas você pode e deve ajudar seus filhos a evitar esse problema com muita conversa. “Os casos de HIV aumentaram consideravelmente não só pela falta de informação, mas porque essa geração não
conviveu com o auge da epidemia, e sim cresceu em uma época em que se consegue viver bem com o vírus. Mas ela não acabou e todos são
vulneráveis à doença”, explica Karin Kenzler, orientadora educacional do Colégio Humboldt, de São Paulo. A seguir, veja como orientar seu filho para a prevenção. É dever de todos nós!
Falando de sexo
De acordo com a orientadora, os jovens de hoje são expostos ao tema muito cedo e de maneira banalizada, principalmente por conta do acesso à internet. Por outro lado, eles têm muitas dúvidas sobre o assunto, apesar de parecer o contrário. “A princípio, o momento certo para falar sobre sexo é na adolescência, que tem seu início com a puberdade, mas isso varia de pessoa para pessoa”. Por isso...
■ Fique atenta às curiosidades, comportamentos e interesses do seu filho.
■ O adolescente só procura os pais para falar sobre o assunto dependendo da postura e atitude deles diante do assunto. “Por isso, esteja disposta ao diálogo aberto, sem conservadorismo nem julgamentos. Pense que falar sobre sexo com o filho é uma ótima oportunidade de quebrar tabus e estimular uma vida sexual saudável e honesta.”
■ Uma conversa sobre sexo não é apenas falar sobre gravidez e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). “É importantíssimo ter descontração e risada. Fale e pergunte sobre medos, inseguranças e como dar prazer ao outro e fazê-lo se sentir bem.”
■ Uma vez estabelecida uma relação de confiança e intimidade, aí sim você deve orientar e expressar suas opiniões e valores.
Falando de DSTs
■ Antes de falar sobre sexo e doenças, tenha essas questões bem resolvidas consigo mesma, pois só assim vai se sentir confortável de falar sobre isso. O tema te constrange? Tente descobrir o porquê.
■ Relembre como foi quando você era jovem. Quais eram as suas dúvidas? Como gostaria que tivessem te ensinado?
■ “Iniciar uma conversa sobre sexualidade, gravidez e doenças não é fácil e fazer isso de repente pode não ser o melhor caminho. Para
facilitar as coisas, comece o assunto a partir de algum filme, notícia ou até mesmo dando exemplos de alguém que conhece.”
■ Se tiver filha, leve-a ao ginecologista logo após a primeira menstruação. Já os meninos devem ir ao urologista logo que entrarem na puberdade. Assim, vão receber dos especialistas informações essenciais a respeito de métodos contraceptivos, DSTs e camisinha.
■ Conversar sobre o tema não vai fazer com que seu filho inicie a vida sexual mais cedo. Pesquisas mostram que adolescentes que falam sobre sexo com os pais tendem a iniciar a vida sexual quando estão mais maduros, além de fortalecer o vínculo familiar e contribuir para a melhora da autoestima.
TÁ NA TV
No dia seguinte ao emocionante capítulo de Os Dias Eram Assim, a série Sob Pressão, também da Globo, transmitiu um episódio no qual um
dos personagens era informado de que tinha aids no momento em que sua mulher dava à luz seu filho. O medo e a angústia de ter
transmitido o vírus para a mulher era enorme. O tema não está na TV à toa: muitos casais fogem do exame e acabam passando a doença dentro da família.
No passado, os jovens tinham mais medo de contrair a doença
A geração que era jovem nos anos 80 e 90 teve mais contato com a aids do que os jovens de hoje. Um dos ídolos da música brasileira na época, Cazuza divulgou que era portador da doença em 1989, dando um susto nos fãs. Símbolo de vitalidade e rebeldia, ele apareceu magro, em uma cadeira de rodas, e deixou as pessoas ainda mais alarmadas com a doença. Meses depois, a revista Veja fez uma capa polêmica, afirmando que ele estava agonizando. O cantor morreu em 1990. Nessa época, as revistas femininas e a TV faziam campanhas massivas sobre o uso da camisinha e o pânico de ter uma doença incurável fazia com que os jovens se protegessem. Na década de 90, foi a vez de outro ídolo brasileiro definhar por conta do HIV positivo: Renato Russo morreu em 1996, depois de fazer um disco melancólico com voz sussurrada (A Tempestade). Isso contribuiu ainda mais para que os adolescentes tivessem medo do estrago provocado pela aids.