Especialista explica sobre os sintomas e tratamento deste tipo de câncer em estágio inicial
Fátima Bernardes usou suas redes sociais, na noite da última quarta-feira (2), para compartilhar um momento delicado com os fãs. É que a jornalista foi diagnosticada com câncer de útero em estágio inicial. No Instagram, a apresentadora relatou ter descoberto a doença após realizar uma bateria de exames.
"Estou bem. Depois de uma série de exames de rotina, hoje recebi o diagnóstico de um câncer de útero em estágio inicial. Vou me afastar por uns dias do trabalho pra fazer a cirurgia. Como sempre usei as minhas redes com total franqueza e verdade, preferi eu mesma passar essa informação para todos que me acompanham", começou ela.
Na sequência, Fátima afirmou que contará com o apoio dos amigos e familiares: "Enquanto isso, aproveito o aconchego dos meus pais, filhos, do meu amor e dos amigos próximos. E já agradeço pelo carinho, pelas boas energias de todos aqui. Logo, logo estarei de volta para nossos encontros".
Para entender mais sobre o assunto, Ana Maria Digital conversou com o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, do Hospital Sírio-Libanês e Albert Einstein, em São Paulo (SP), para saber as causas, tratamentos e prevenção desta doença que, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), é o 3º mais comum entre mulheres no Brasil -atrás apenas do de mama e do colorretal.
A boa notícia é que a doença pode ser descoberta durante os exames de rotina, assim como foi com a apresentadora, atingindo altas taxas de cura se detectada e tratada em sua fase inicial.
DIAGNÓSTICO
O médico explica que o melhor metódo para iniciar a investigação e conseguir fazer uma detecção precoce do colo do útero é realização do exame de papanicolau. Uma vez detectada alguma alteração, o indicado é fazer uma colposcopia. "É onde nós olhamos o colo do útero com uma lente de aumento, que permite a visualização de lesões muito pequenas, não visíveis muitas vezes a olho nu", ressalta.
Pupo explica que o papanicolau pode ou não ser associado a pesquisa para a presença do HPV (Vírus Papiloma Humano), que quando presente no colo do útero pode levar a alterações no DNA das células nessa região, promovendo uma alteração que as leva a se tornarem cancerígenas.
Ele deixa claro, porém, que o HPV sem nenhuma alteração no papanicolau e no exame do colposcopia não é um fator de risco definitivo para câncer de colo de útero, mas sim um preditor de risco.
"Ele me diz que é uma paciente que preciso olhar com mais cuidado, mas se o HPV vier associada de uma alteração, aí sim vamos ter que lançar mão de tratamento", detalha o especialista.
FIQUE ATENTA!
Segundo o médico, se a mulher já tiver sintomas, como um sangramento com aspecto semelhante aquela 'água de carne', ou se apresentar uma secreção associada a um odor fétido, é preciso atenção.
"Mas é importante dizer que sinais e sintomas não são o melhor caminho para a detecção do câncer de colo de útero, mas sim o exame de rotina realizado pelo menos uma vez ao ano no consultório", destaca.
Para o médico, o papanicolau é de excelência para a identificação de pacientes que precisam seguir com a investigação por meio de exames apropriado, incluindo a realização de biópsias da áreas suspeitas.
"E elas é que vão determinar a presença ou não de invasão e lesões ainda não visíveis a olho nu. Esse é o melhor cenário para o tratamento de câncer do colo uterino", afirma.
COMO É O TRATAMENTO?
O especialista avalia que o câncer de colo de útero em fase inicial, como no caso de Fátima Bernardes, realmente é mais fácil de cuidar. Em vias de regra, ele pode ser tratado exclusivamente com cirurgia, sem necessidade de tratamentos adicionais. Ele explica que este tipo de câncer é estadiado, ou seja, é avaliado em relação ao risco pelo tamanho em que se encontra e pela presença de disseminação para o sistema linfático.
"Se estiver restrito ao colo do útero e for menor do que 2 cm, na grande maioria dos casos, com a remoção do colo e também dos ligamentos que prendem o colo à pelve, que são chamados de paramétrios, além da retirada de um pedacinho da parte superior da vagina, já é suficiente para garantir uma probabilidade de cura acima de 95%", afirma.
No entanto, se houver invasão linfática ou se o câncer for maior do que 2 cm, ou se houver a presença de gânglios comprometidos, que ficam ali na região da pelve e próximo ao útero, o caso requer ainda mais atenção. "A retirada cirúrgica do corpo e do colo uterino mais o aparelho de sustentação não seriam suficientes. E aí, nesse cenário, é interessante a associação de radioterapia e quimioterapia, que aumenta a sensibilidade do câncer a sua destruição", diz.
O especialista ainda explica que, sabendo antecipadamente que existe disseminação linfática e que existe um gânglio comprometido, convém não retirar o útero e realizar apenas a radioterapia com quimioterapia radiosensibilizante, porque o resultado final de cura usando essa metodologia é igual ao tratamento cirúrgico associado a radioterapia.
E com apresença do útero ali, a radioterapia tem um anteparo que protege os órgãos, como a bexiga e o intestino, de serem prejudicados pela ação da radioterapia, como explica Pupo. "Como nós sabemos que a retirada desse órgão mais a radioterapia tem mais prejuízo de longo prazo do que a radioquimioterapia e o resultado de sobrevida é igual, nós optamos, neste cenário, por não remover o útero e realizar apenas a radioquimioterapia, porque o resultado será igual".
Ainda de acordo com o especialista, o que vai determinar a probabilidade de cura é principalmente o quanto de tamanho tem esse tumor no útero e quanto que esse tumor espalhou para fora dessa região. Ainda assim, a probabilidade cura é bastante alta.
"Fazendo um resumo, o câncer de colo uterino pode ser detectado muito precocemente, muitas vezes em um estágio onde o HPV ainda está provocando lesões", conclui o médico.