Olá, pessoal!
Neste mês, falaremos sobre cefaleias, as conhecidas e populares dores de cabeça. As cefaleias estão entre as 10 principais queixas no atendimento médico. Podemos caracterizá-las pelas dores sentidas em qualquer parte da cabeça. Em um primeiro momento, nem sempre é fácil a sua identificação, visto que a cefaleia pode ser uma queixa principal ou estar presente dentro de um conjunto de sintomas decorrentes de outras doenças.
As cefaleias podem ser classificadas como primárias e secundárias. 98% dos casos são por causas primárias. Isso significa que não resultam de qualquer doença ou outras condições específicas. As cefaleias secundárias correspondem a 2% dos casos; contudo, podem ser mais graves por serem ocasionadas por traumas, alterações vasculares (AVC) e infecções, como a meningite.
Em relação às cefaleias primárias, estima-se que sua ocorrência na população mundial seja de 50%. Diariamente, 15% da população apresenta essa queixa, manifestando-se nas principais condições de incapacidade no mundo. A maioria dos casos ocorre na faixa etária entre 10 e 64 anos, acometendo ligeiramente mais mulheres do que homens.
O principal tipo de cefaleia primária é a cefaleia do tipo tensional, que constitui 26% dos casos. A cefaleia tensional é caracterizada pela dor de cabeça em peso ou aperto, bilateral ou em toda a região da cabeça, não pulsátil e com intensidade leve a moderada, sem náuseas ou vômitos. Eventualmente, podem ocorrer fotofobia ou fonofobia. A duração dos episódios pode variar de 30 minutos a 7 dias, dependendo dos casos. Os fatores desencadeantes mais conhecidos são estresse, privação de sono, má alimentação, desidratação, álcool e menstruação.
O segundo tipo de cefaleia primária mais comum é a enxaqueca. A enxaqueca tem prevalência estimada de 14% na população mundial, causa multifatorial e o componente genético tem notória influência. Geralmente, as enxaquecas iniciam na adolescência, com raros casos após os 50 anos. A enxaqueca pode apresentar 4 fases clínicas; entretanto, nem todas as fases podem estar presentes:
– Pródromo/sintomas premonitórios: inicia de 2 a 48 horas antes da crise, apresentando fadiga, depressão, hipoatividade e alteração do humor.
– Aura: alterações neurológicas reversíveis com duração de 5 a 60 minutos, com acometimentos visuais (pontos escuros e embaçamento visual; visão em zigue-zague), sensoriais (formigamento de um lado, tronco encefálico (vertigens, diminuição da audição, zumbido, visão dupla, ataxia) e retinianas (perda visual transitória em um olho).
– Fase de dor: dor de cabeça unilateral, de forte intensidade, pulsátil ou latejante, acompanhada de náuseas, vômitos e fotofobia.
– Recuperação: fase final onde há resolução, podendo ocorrer exaustão, sonolência e irritabilidade.
A procura do pronto atendimento deve ser feita quando a cefaleia for incapacitante e em situações que apresentem os sinais de alerta, que são:
Sinais de alerta
– Idade > 50 anos: a ocorrência de uma cefaleia nessa faixa etária pode indicar uma causa secundária grave (distúrbios vasculares, tumores ou inflamação de vasos (vasculites)).
– Cefaleia em trovoada: início súbito, forte intensidade e incapacitante;
– Intensidade e frequência progressivas;
– Sinais e sintomas de doenças sistêmicas: febre, rigidez na nuca, dores musculares ou erupção cutânea (manchas na pele).
– Histórico de câncer: risco de lesões cerebrais por disseminação/metástases.
– Déficits neurológicos focais: dificuldade para falar ou perda da fala, diminuição de força nos membros (braços/pernas), perda de sensibilidade, alterações visuais, alteração de coordenação motora (dificuldade para andar ou executar movimentos precisos).
– Cefaleia posicional: dor de cabeça que piora na posição ereta (sentado ou em pé) e melhora ao deitar-se.
– Precipitada por espirros, tosse ou exercícios: pode ser indício de aneurisma ou má-formação vascular.
– Imunossupressão / HIV; uso de corticoides ou imunossupressores: podem favorecer infecções oportunistas no SNC (Sistema Nervoso Central).
– Surgimento na gravidez ou pós-parto por estarem relacionadas a doença hipertensiva da gestação (eclâmpsia /pré-eclâmpsia) e aumento do risco de formação de coágulos (trombos).
– Cefaleia pós-trauma: risco de sangramentos cerebrais e aumento da pressão intracraniana.
– Papiledema: inchaço do disco óptico identificado no exame de fundo de olho, podendo ser indicativo de aumento da pressão intracraniana.
– Refratária a medicamentos: o uso de analgésicos não melhora a dor.
– Mudança de padrão: dor diferente dos episódios anteriores.
O tratamento deve ser individualizado e envolve a identificação das características e dos fatores desencadeantes. Deve-se considerar, na investigação, a necessidade de realização de exames laboratoriais e de imagem específicos em cada caso. Nas crises, a administração de analgésicos e anti-inflamatórios de ação rápida é muito utilizada, não esquecendo que as medidas não medicamentosas, como evitar ambientes com muito barulho, luminosidade, má alimentação e estresse, são parte importante do tratamento.
Após a melhora da dor e o descarte das causas secundárias graves, o seguimento deve ser feito ambulatorialmente. O acompanhamento especializado com um neurologista é fundamental. Uma investigação minuciosa e específica aumenta a precisão na realização do diagnóstico e tratamento com maior efetividade, considerando as medidas preventivas (profiláticas), evitando assim o uso abusivo e inadequado de medicamentos.
Agora que vocês já sabem que as dores de cabeça têm causas, sintomas e gravidades distintas, cuidem-se para não terem crises de cefaleia. Estejam atentos aos sinais de alerta e assim evitem, literalmente, grandes dores de cabeça.
Até a próxima e muito obrigado!
Referências:
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