O perfume é uma extensão invisível da roupa. Quando aplicado estrategicamente, ele traduz a essência de uma coleção. Nas passarelas, o aroma não está ali apenas para perfumar, mas para evocar sensações, reforçar narrativas e provocar reações emocionais.
Essa prática começou a ganhar força quando casas de moda perceberam que o olfato é o sentido mais ligado à memória. Assim, cada desfile passou a buscar uma “assinatura olfativa” que unisse música, luz e textura em um mesmo conceito sensorial.
Qual é a origem do uso de perfumes nos desfiles?
O conceito nasceu de experimentações artísticas nas décadas de 1980 e 1990, quando criadores como Alexander McQueen começaram a explorar o olfato como parte do espetáculo.
Em 2003, McQueen espalhou uma névoa perfumada no ar durante o desfile “Scanners”, criando uma experiência imersiva e perturbadora. Desde então, Chanel e Dior também incorporaram fragrâncias criadas especialmente para suas apresentações, alinhando aroma e estética.
Essas iniciativas abriram caminho para uma nova forma de comunicação sensorial na moda, onde o perfume passou a dialogar com tecidos, luz e movimento.
De que forma o perfume reforça a identidade de marca?
A escolha da fragrância usada em um desfile não é aleatória. Cada aroma carrega valores simbólicos. Por exemplo: notas amadeiradas e intensas costumam representar força e poder; já fragrâncias florais evocam leveza e romantismo.
Marcas como Gucci e Balenciaga já trabalharam com perfumistas renomados para desenvolver aromas que expressam suas coleções. Assim, o perfume atua como uma assinatura invisível, reforçando o discurso visual e narrativo do desfile.
Essa estratégia é também uma ferramenta de marketing sutil: ao associar uma fragrância à coleção, o público cria uma memória olfativa ligada à marca, o que aumenta o reconhecimento e o desejo de consumo.
Como os aromas influenciam o comportamento do público?
O olfato é o sentido que mais desperta emoções. Pesquisas em neuromarketing mostram que um aroma pode aumentar a permanência de um visitante em um ambiente e até influenciar decisões de compra.
Nos desfiles, o uso de fragrâncias estimula uma resposta emocional imediata. Quando o público sente o aroma antes mesmo de ver as roupas, o cérebro já cria uma conexão afetiva. Essa experiência sinestésica, quando diferentes sentidos se cruzam, torna a apresentação mais memorável.
Além disso, os aromas podem direcionar o comportamento do público: fragrâncias cítricas, por exemplo, despertam energia e atenção; já notas orientais criam uma atmosfera mais sofisticada e introspectiva.
Quais são os bastidores do uso de perfumes nas passarelas?
O processo de criação de uma fragrância para desfiles é minucioso. As marcas contratam “narizes”, perfumistas especializados, para desenvolver composições que traduzam o conceito da coleção.
O perfume é então aplicado em tecidos, cortinas, difusores de ar ou até em jatos discretos liberados no ambiente. Em alguns casos, é usado como parte da iluminação, misturando vapor e luz para criar uma neblina perfumada que envolve o público.
Essa integração exige planejamento técnico. A concentração do aroma deve ser calculada para não sobrecarregar o ambiente nem interferir na saúde dos modelos e espectadores.
Como essa tendência se conecta ao comportamento e lifestyle?
Em um mundo cada vez mais guiado por experiências, o uso de perfume em desfiles reflete uma busca por imersão sensorial. O público contemporâneo quer mais do que ver moda, quer sentir, participar, lembrar.
Essa lógica tem se expandido para o varejo e para eventos de lifestyle. Boutiques, galerias e até cafés de marcas de moda já utilizam fragrâncias exclusivas para criar atmosferas únicas.
A tendência aponta para um futuro onde o branding olfativo, ou identidade de marca baseada em cheiro, se tornará tão importante quanto o logotipo. Perfumes deixam de ser apenas produtos e passam a ser parte da narrativa emocional de uma marca.
O que podemos aprender com o uso estratégico de perfume em desfiles de moda?
Mais do que um detalhe estético, o perfume é uma ferramenta de comunicação. Ele traduz conceitos, desperta sensações e constrói identidades. Quando a moda utiliza o olfato de forma consciente, transforma o desfile em uma experiência emocional completa.
Essa união entre moda e perfume revela um caminho para o futuro da criatividade: um território onde o visual, o sonoro e o olfativo se unem para contar histórias, histórias que não apenas se veem, mas se sentem.