O puerpério, popularmente conhecido como ‘resguardo’, é o período pós-parto em que o corpo da mulher que acabou de dar à luz está se adaptando a uma nova realidade: ser mãe. Diversos fatores trazem consigo um turbilhão de emoções e muitos desafios, desde a gestação e o parto, até as mudanças hormonais e a chegada do novo bebê.
De acordo com Alfonso Massaguer, ginecologista especialista em reprodução humana e diretor clínico da MAE (Medicina de Atendimento Especializado), aproximadamente 62,6% das mulheres experimentam morbidades sexuais após o parto. Esse percentual inclui sintomas como secura vaginal, dispareunia (dor durante o sexo) e corrimento vaginal. Essas condições são mais prevalentes em mulheres que tiveram parto vaginal e episiotomia prévia — um procedimento cirúrgico para aumentar a abertura vaginal, por meio de um corte na região perineal.
Mas qual é o momento ideal — e seguro — para retomar as atividades sexuais? AnaMaria conversou com profissionais da saúde da mulher para entender quais fatores que devem ser considerados na hora de tomar essa decisão.
MUDANÇAS HORMONAIS E O SEXO PÓS-PARTO
Independente se o parto foi normal ou cesárea, o puerpério dura de 40 dias a 60 dias. No entanto, em caso de complicações no parto, como lacerações e possíveis alterações hormonais locais, esse período pode variar, conforme orienta Paula Fettback, ginecologista especialista em reprodução humana pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Esse é um momento de suma importância na vida da mãe recém-nascida. Durante o pós-parto, o corpo da mulher passa por uma enxurrada de alterações hormonais e a intensidade dos sintomas variam a cada mulher.
No puerpério, a recém-mãe deve ficar em repouso relativo. Isso significa que ela pode realizar os cuidados pessoais sozinha, porém não deve praticar atividades físicas ou fazer esforços, incluindo o sexo.
Segundo Natalia Castro, ginecologista e obstetra pela Febrasgo, as mudanças hormonais trazidas pelo pós-parto podem desencadear a síndrome gênito-urinária atrófica. Essa condição causa diminuição da capacidade de elasticidade da mucosa da vulva e vagina e a diminuição da lubrificação, o que pode provocar dor na relação durante a penetração.
Além disso, o aumento da prolactina, hormônio da amamentação, e as oscilações hormonais que ocorrem com a gestação, principalmente no puerpério, afetam diretamente a libido feminina. “Essas alterações reduzem estímulos hormonais importantes para o aumento do desejo sexual e também no sentido emocional da mulher em relação ao seu próprio corpo e frente ao parceiro.”, detalha Paula.
Por isso, após o puerpério, a primeira relação sexual deve ser feita com uso de lubrificante. Esse cuidado pode evitar ou amenizar os desconfortos no sexo pós-parto.
Fettback salienta que o diálogo com o parceiro é o alicerce fundamental da relação, e no pós-parto não é diferente. É importante discutir com liberdade e apoio as inseguranças e questões relacionadas a este período delicado. Em alguns casos o uso de hormônios tópicos, hidratação vaginal, fisioterapia, laser vaginal e apoio psicológico, podem auxiliar no melhor caminho possível ao casal.
Vale lembrar que o retorno das atividades deve ser discutido na consulta pós-parto, que acontece em torno de seis semanas após o nascimento do bebê. Uma mulher munida de informações terá ferramentas para decidir quando retomar a vida sexual.
PUERPÉRIO EMOCIONAL
A fase do puerpério fisiológico gira em torno de 40 a 60 dias. Esse é o período em que o corpo da mulher está retomando sua forma internamente, os órgãos estão se acomodando, e os hormônios continuam em desequilíbrio e se reorganizando. Isso quer dizer que, na teoria, após esse período, a mulher estaria pronta para voltar às atividades de seu interesse, inclusive, o sexo.
No entanto, conforme destaca Katherine Sorroche, psicóloga perinatal especialista em puerpério emocional e psicológico, é preciso considerar que somos muito mais do que as transformações que ocorrem no corpo. A concepção de um bebê, a gestação e o próprio parto atuam diretamente sobre o aspecto psicológico da mulher.
“A adaptação à maternidade e o desenvolvimento pessoal em tornar-se mãe é um processo que pode levar até dois anos após o nascimento do bebê. Esse é puerpério emocional.”, explica a especialista.
A condição da maternidade contribui para o desinteresse sexual e a queda da libido durante o pós-parto. Assim que um bebê nasce, todo o corpo da mulher passa a trabalhar em prol da sobrevivência da espécie e não mais na procriação.
“Emocionalmente a mulher também é muito demandada. Ela está aprendendo a ler aquele novo bebê, compreender suas necessidades e se desenvolver para atendê-las, o que a consome tanto fisicamente quanto emocionalmente. Diante desse contexto, dificilmente a mulher estará pensando em retomar o sexo pós-parto.”, reforça Katherine.
SINAIS DE ALERTA
Quanto mais intenso o puerpério, mais difícil será a retomada da atividade sexual. Por isso é essencial compreender o que é o puerpério emocional, qual sua dimensão, quanto tempo dura, quais suas fases, quais os desafios vivenciados em cada fase.
Há ainda transtornos psicológicos, como o baby blues e depressão pós-parto, que podem ser desencadeados ou agravados por fatores como traumas vivenciados durante a concepção, gestação ou violência obstétrica, por exemplo. Nesse sentido, o apoio psicológico profissional é essencial para a superação destas complicações. A psicóloga lista quais sintomas merecem atenção durante o período pós-parto:
- Choro sem motivo;
- Tristeza repentina sem causa aparente;
- Irritabilidade;
- Cansaço constante;
- Perda de interesse nas atividades diárias;
- Alteração de apetite ou sono;
- Vontade constante de ficar reclusa, sem sair e sem socializar;
- Excesso de preocupação;
- Sentimento de incapacidade e impotência como mãe;
- Forte culpa constante.
Leia também:
Quais cuidados com a pele e corpo devo ter no pós-parto?
5 dicas para preservar a saúde mental na gestação e puerpério