A preocupação com o peso e a altura das crianças durante as consultas pediátricas não é à toa. Esses dados são essenciais para calcular o Índice de Massa Corporal (IMC), um indicador que ajuda a avaliar se os pequenos estão dentro do peso ideal. No entanto, um estudo recente publicado na revista The Lancet propõe uma revisão nos critérios de diagnóstico da obesidade infantil, sugerindo que o IMC sozinho pode não ser suficiente para identificar o problema de forma precisa.
O que é o IMC e como ele é usado hoje?
O Índice de Massa Corporal (IMC) é calculado dividindo o peso pela altura ao quadrado. Para crianças e adolescentes, os valores são classificados em faixas que indicam desde o peso normal até a obesidade grave. No entanto, especialistas alertam que esse método pode falhar ao não considerar a composição corporal, como a quantidade de gordura versus músculo.
Segundo Mauro Fisberg, hebiatra e coordenador do Centro de Excelência em Nutrição do Instituto Pensi, o IMC é útil para avaliações populacionais, mas pode subestimar ou superestimar o problema em casos individuais. “Precisamos de métodos complementares, como a medição da circunferência abdominal ou a análise da gordura corporal”, explica à Crescer.
A nova proposta: dividindo a obesidade em dois tipos
O estudo da Comissão Global sobre Obesidade Clínica sugere uma abordagem mais detalhada, classificando a obesidade em dois tipos: pré-clínica e clínica.
- Pré-clínica: quando há excesso de gordura, mas sem sintomas ou complicações de saúde.
- Clínica: quando o excesso de peso já causa alterações nos órgãos e tecidos, caracterizando uma doença crônica.
Ricardo Cohen, um dos autores do estudo, ressalta que o IMC não consegue diferenciar esses dois cenários. “Um adolescente pode ter um IMC alto, mas não apresentar sintomas. Outro pode ter um índice menor e já sofrer com complicações”, destaca.
Quais são os sinais de obesidade clínica em crianças e adolescentes?
Os pesquisadores listaram critérios específicos para identificar a obesidade clínica nos jovens. Entre eles estão:
- Dores de cabeça recorrentes e problemas de visão;
- Dificuldade para respirar ou chiado no peito;
- Alterações nos níveis de glicose ou função hepática;
- Dores crônicas nas articulações, como joelhos;
- Limitações nas atividades do dia a dia.
Se o seu filho apresenta alguns desses sintomas, é importante buscar avaliação médica. O diagnóstico inclui exames clínicos, conversas sobre hábitos de vida e, em alguns casos, exames de sangue.
O que causa a obesidade infantil?
Apesar de muitas vezes associarmos o excesso de peso apenas à alimentação e ao sedentarismo, a obesidade tem raízes mais complexas. Fatores genéticos, sono inadequado e o uso excessivo de telas também contribuem para o problema.
Desafios no diagnóstico e tratamento
Fisberg ressalta que diagnosticar a obesidade em crianças não é simples. “Elas passam por fases de crescimento que podem confundir a avaliação”, explica. Além disso, o IMC sozinho não é suficiente para um diagnóstico preciso. “Precisamos acompanhar a evolução do IMC ao longo do tempo e associá-lo a outros indicadores”, completa.
Quanto ao tratamento, o estudo não propõe diretrizes específicas, mas destaca a importância de abordagens individualizadas, que podem incluir mudanças no estilo de vida, medicamentos e, em casos mais graves, cirurgias.
A nova proposta de classificação da obesidade busca não apenas aprimorar o diagnóstico, mas também reduzir o estigma em torno do problema. Afinal, assim como outras condições crônicas, a obesidade merece atenção, cuidado e, acima de tudo, compreensão.
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