Ser mãe é, sem dúvida, uma das experiências mais transformadoras da vida. Além, é claro, da mais desafiadora! Desde o teste de gravidez até a escolha da escola, cada decisão impacta diretamente no bolso. Essa jornada é também uma escola prática de educação financeira, com aprendizados que nenhum curso ou planilha conseguem ensinar.
Um levantamento da UOL em parceria com a MindMiners, intitulado “Materna – O que pensam e querem as mulheres”, mostra que 53% das mulheres são as principais responsáveis pelas decisões dentro de casa. Outras 36% compartilham as escolhas com parceiros ou parceiras.
Os dados ganham ainda mais força quando cruzados com números do IBGE, que revelam que mais de 11 milhões de lares brasileiros são chefiados exclusivamente por mulheres, o equivalente a 17% das famílias do país. Isso reflete, é claro, nas dinâmicas financeiras que cada mulher precisa administrar.
“Mulheres que se tornam mães mais jovens, por exemplo, muitas vezes ainda estão em processo de formação profissional ou acadêmica, o que pode limitar sua renda e exigir uma organização financeira estratégica. Já aquelas que engravidam mais tarde, geralmente possuem maior estabilidade financeira, mas enfrentam outros desafios, como os custos elevados da gestação em idade avançada ou o planejamento da aposentadoria”, explica Adriana de Arruda, psicanalista e especialista em gestão financeira familiar.
O preço de ser mãe
Independentemente da fase da vida, ser mãe é sinônimo de adaptação. Um estudo da USP estima que criar um filho até os 18 anos no Brasil pode custar entre R$ 400 mil e R$ 2 milhões, dependendo do estilo de vida da família. A cada escolha – da fralda à graduação – a organização financeira é colocada à prova.
Nesse caminho, muitas mulheres desenvolvem habilidades financeiras que antes pareciam distantes: aprendem a montar planilhas, economizar, priorizar e, principalmente, abrir mão de certos desejos por um bem maior.
“A maternidade me ensinou tudo sobre finanças. Aprendi a ter reserva, a dizer não para o que pode comprometer meu dinheiro, a fazer escolhas mais conscientes, a barganhar, a pensar no futuro e a priorizar o que realmente importa”, conta Yasmin da Silva, mãe solo da pequena Maria Luiza.
Adriana reforça que esse tipo de aprendizado é mais comum do que se imagina: “Muitas mães acabam se tornando verdadeiras especialistas em economia doméstica, encontrando maneiras criativas de economizar, empreender ou até mesmo investir pensando no bem-estar dos filhos. E mais: passam a transmitir esses conhecimentos para as novas gerações, criando um ciclo virtuoso de consciência financeira, isso é excelente”, avalia.
Mães solo: a realidade de quem faz tudo sozinha
Para as mães solo, os desafios financeiros se multiplicam. Em muitos casos, uma única renda precisa sustentar toda a casa, do básico às despesas escolares.
“Ser mãe solo é assumir todos os papéis ao mesmo tempo: provedora, cuidadora, gestora e estrategista financeira. O planejamento precisa ser ainda mais rigoroso. Controlar as despesas, fazer escolhas conscientes e aprender a negociar tornam-se habilidades essenciais e que nascem junto com uma mãe”, completa Adriana.
Mãe empreendedora: jornada dupla ou tripla?
Diante das dificuldades para conciliar trabalho fixo e rotina com os filhos, muitas mães têm recorrido ao empreendedorismo como alternativa viável. Seja como freelancers ou fundadoras de pequenos negócios, elas buscam flexibilidade e autonomia financeira.
“Me tornei mãe cinco anos depois de fundar minha empresa, e, no começo, confesso que foi um choque. Eu estava acostumada a ter total controle da minha rotina e da empresa, mas a maternidade me tirou do eixo em determinados momentos. Precisei ressignificar minha forma de trabalhar, aprender a delegar mais e, principalmente, aceitar que produtividade também é sobre saber priorizar. Hoje, me sinto uma líder mais empática e estratégica, porque a maternidade me ensinou a olhar para o todo com mais sensibilidade”, relata Stefani Pereira, fundadora e CEO da Temma, agência de imagem e reputação.
Adriana explica que esse movimento tem crescido justamente porque oferece uma lógica de trabalho mais compatível com a vida materna: “Mães empreendedoras têm uma capacidade enorme de gestão multitarefa. Combinam força, criatividade e senso de responsabilidade. Muitas cuidam do negócio com o mesmo zelo com que cuidam dos filhos – e isso pode ser uma vantagem competitiva”.
Para quem está pensando em empreender, a especialista recomenda criar uma rede de apoio com outras mães, além de separar os gastos da casa dos gastos do negócio. “A maternidade ensina muito sobre adaptação. O importante é começar”, diz.
Educar pelo exemplo
Quando uma mãe aprende a lidar com dinheiro, esse conhecimento ecoa na vida dos filhos. Desde cedo, as crianças observam hábitos e decisões financeiras e, com o tempo, passam a repetir esses comportamentos.
“Minha filha, com 7 anos, já está juntando dinheiro para comprar o que deseja, mesmo sem ter noção exata do valor. Ela me vê guardando, me vê recusando certas compras. E eu explico: ‘A gente escolhe agora para ter mais adiante’. Percebi que isso mudou tudo”, conta Yasmin.
A maternidade, portanto, é também uma poderosa escola de educação financeira. “Em um país onde tantas mulheres sustentam sozinhas suas famílias, reconhecer e apoiar esse papel é fundamental não só para elas, mas para toda a sociedade. Afinal, mães bem informadas e financeiramente conscientes criam filhos mais preparados para os desafios do mundo”, finaliza Adriana.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1468, de 9 de maio de 2025). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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