Chá de bebê, quartinho decorado, fralda no ombro. Tudo isso… sem um bebê de verdade. O fenômeno das bonecas reborn, modelos hiper-realistas que imitam recém-nascidos com impressionante perfeição, saiu dos nichos de colecionadores e conquistou um novo espaço: o do afeto e da substituição emocional.
Cada vez mais pessoas estão adotando esses bonecos como se fossem filhos. Algumas compartilham a experiência em redes sociais, com vídeos de “partos realistas”, diários da maternidade e até momentos rotineiros de “amamentação” ou “banho”. Celebridades como Britney Spears e Padre Fábio de Melo já apareceram brincando com bonecas reborn, ajudando a popularizar ainda mais a tendência.
Mas o fenômeno vai além da brincadeira. E me leva a refletir sobre saúde mental, solidão e as transformações sociais do nosso tempo.
Preenchendo vazios em um mundo solitário?
Segundo dados do IBGE, o Brasil registrou em 2022 o menor número de nascimentos desde 1977, uma queda de 3,5% em relação ao ano anterior. Entre motivos financeiros, sociais e emocionais, criar filhos de verdade tornou-se uma decisão cada vez mais pesada e adiada.
Em contrapartida, o laço com os reborns atende a uma necessidade profunda: a de acolhimento e conexão emocional. Pode ser que os bonecos ajudam a aliviar o luto pela perda de um filho, preenchem o vazio da maternidade não vivida ou oferecem companhia em momentos de solidão intensa.
Mas é importante lembrarmos que, para algumas pessoas, o cuidado com bonecas reborn não é apenas um hobby, mas uma tentativa de suprir carências afetivas importantes! Se o vínculo com a boneca se tornar tão realista a ponto de substituir relações humanas, é hora de ligar o alerta!
Objetos de afeto
Embora a relação com objetos afetivos seja comum, desde a infância até a vida adulta, se a fantasia se torna a única ou principal fonte de afeto, pode haver indícios de transtornos emocionais mais sérios, como depressão, ansiedade crônica, transtorno de luto complicado ou dificuldades de socialização.
Então, se o objeto de afeto, como uma baby reborn, vier acompanhado de isolamento social severo, incapacidade de estabelecer vínculos reais, substituição de responsabilidades cotidianas por cuidados fictícios e sofrimento emocional intenso ao se separar do boneco, é fundamental buscar apoio psicológico.
Eu, sinceramente, não consigo entender o que leva uma pessoa a viver a maternidade com um boneco. Existe ainda a justificativa financeira: um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que criar um filho até os 18 anos pode custar entre R$ 239 mil e R$ 3,6 milhões no Brasil. Então, pode ser que para algumas pessoas, adotar um boneco reborn é uma forma de viver a fantasia da maternidade sem o peso financeiro e emocional que criar uma criança real exige. Porém, o boneco também não te traz a realização, a alegria nem a complexidade que uma criança real traz.