Richarlyson declarou ser bissexual em entrevista ao podcast “Nos Armários dos Vestiários”, série jornalística da Globo sobre machismo e homofobia no futebol. O ex-jogador, que é atualmente comentarista de futebol, falou sobre o assunto pela primeira vez, ressaltando acreditar que isso vá contribuir no combate à discriminação contra pessoas LGBTQIA+.
Ele lembrou, por exemplo, que ouviu a vida inteira questionamentos sobre se era gay. Na entrevista, ele assumiu ter se relacionado com pessoas de ambos os sexos.
“Só que aí eu falo hoje aqui e daqui a pouco estará estampada a notícia: ‘Richarlyson é bissexual’. E o meme já vem pronto. Dirão: ‘Nossa, mas jura? Eu nem imaginava’. Cara, eu sou normal, eu tenho vontades e desejos. Já namorei homem, já namorei mulher, mas e aí? Vai fazer o quê? Nada”, ressaltou.
“Vai pintar uma manchete que o Richarlyson falou em um podcast que é bissexual. Legal. E aí vai chover de reportagens, e o mais importante, que é pauta, não vai mudar, que é a questão da homofobia. Infelizmente, o mundo não está preparado para ter essa discussão e lidar com naturalidade com isso”, ressaltou.
FEZ HISTÓRIA
Richarlyson se tornou o primeiro jogador com passagem pela Série A do Campeonato Brasileiro e pela seleção brasileira a declarar que não é heterossexual. Aos 39 anos, o ex-volante se aposentou no ano passado após uma carreira bastante vitoriosa no futebol.
“Pelo tanto de pessoas que falam que é importante meu posicionamento, hoje eu resolvi falar: sou bissexual. Se era isso que faltava, ok. Pronto. Agora eu quero ver se realmente vai melhorar, porque é esse o meu questionamento”, disse o ex-atleta.
Ele ainda ressaltou que é desnecessário as pessoas se rotulem. “Tem uma questão mais importante, tem gente morrendo, o Brasil é o país que mais mata homossexuais. E a gente está aqui falando de futebol, ok, mas o futebol é um negocinho pequeno. ‘Ah, mas sua fala pode ajudar’. Não, não vai ajudar. Quem é Richarlyson, pelo amor de Deus? Sou um mero cidadão comum, que teve uma história bacana no futebol, mas eu não vou poder mover montanhas para que acabem esses crimes, para que acabe a homofobia no futebol”, continuou.
MACHISMO NO FUTEBOL
Richarlyson disse ainda que percebia um peso diferente nas críticas acontecia de não jogar bem. Lembrou ainda que, em 2007, ano em que foi eleito o melhor volante do Campeonato Brasileiro, ele chegou a ver até mesmo parte da torcida do São Paulo não cantar seu nome antes dos jogos.
“Um erro meu era peso cinco. Me atacavam mesmo, parecia uma matilha de lobos. E eu sabia, nunca fui craque, nunca fui tecnicamente incrível, mas era inteligente de saber o que eu poderia fazer para sempre estar à frente dos demais. Eu voltava uma semana antes das férias, porque eu corria na ladeira por uma vaga no time, enquanto os outros estavam no plano. Eu chegava voando na pré-temporada”, lembra.