Considerado um dos maiores atores e galãs de sua geração, Tarcísio Magalhães Sobrinho, mais conhecido como Tarcísio Meira, marcou época com seus personagens no cinema, teatro e televisão. Aliás, durante décadas, eternizou a TV com mocinhos e vilões que se destacaram na teledramaturgia.
Casado com a doce e também talentosa Glória Menezes – um dos casamentos mais duradouros no mundo das celebridades (59 anos de união) – e pai de Tarcísio Filho, cuja semelhança física é inquestionável.
O ator faleceu no dia 12 de agosto, em decorrência de complicações da covid-19, aos 85 anos. Ele deixa um legado de sucesso e brilhantismo, marcou história com suas interpretações.
Na vida real, não foi diferente. Inteligente, esclarecido, centrado, de opinião forte e, ao mesmo tempo, dono de uma serenidade ímpar, tinha na família seu porto-seguro. Talento, desenvoltura e profissionalismo regiam o artista. Amor, cumplicidade, generosidade e dedicação caracterizavam o marido, o pai e o amigo.
A Revista AnaMaria presta uma homenagem a quem sempre nos iluminou com seu brilho.
FELIZES PARA SEMPRE
Há 59 anos juntos, Tarcísio Meira e Glória Menezes sempre formaram um dos casais referências da televisão brasileira. Juntos, eles construíram uma história de amor e companheirismo dentro e fora dos estúdios. Tudo começou em 1961, quando se conheceram, no período em que faziam a radionovela Um Pires Amargo.
Em 1963, se casaram e, um ano depois, fizeram história ao atuar no primeiro folhetim diário da televisão, 25499-Ocupado, transmitido pela extinta TV Excelsior. Em 1964, nasceu Tarcísio Meira Filho. Tanto tempo juntos e ambos sempre mantiveram pública a paixão um pelo outro.
Nas redes sociais, ele falava sobre seu relacionamento com Glória: “Não tem receita para um casamento longevo. Se tivesse, eu estava trilionário. Me considero um privilegiado por ter um amor verdadeiro ao meu lado há mais de 50 anos. A nossa convivência funciona para nós dois. Para outras pessoas, pode não dar certo. Cada casal é diferente do outro. Tendo amor e respeito, todo o resto vai bem”.
Entendimento e respeito fizeram dessa relação um exemplo a ser seguido: “Agora estamos numa faixa de idade em que vivemos mais juntos. Mas teve época em que eu fazia novela e teatro ao mesmo tempo pelo país. Mal parava em casa. Tem casais que não suportam isso. Mas nós, nessa profissão, entendemos essas dificuldades. Não passamos por crises nesse tempo. Sempre nos entendemos bem, dialogamos e resolvemos nossas diferenças. Também seria muito chato se ela fosse igual a mim”.
Tarcísio gostava de enaltecer a parceria entre o casal: “Nós fomos mudando, crescendo e envelhecendo ao mesmo tempo, então isso foi nos tornando também, além de tudo, parceiros, muito amigos e confidentes. É um sentimento muito especial que temos um pelo outro e, talvez por isso, porque nós sempre nos apegamos muito um ao outro e dependemos muito um do outro. Sinto muita falta de Glória e sei que ela sente a minha quando estou fora”.
VEIA ARTÍSTICA
Tarcísio Meira nunca teve dúvidas de que foi “o cara que mais decorou palavras no mundo”. Só na televisão, foram mais de 60 trabalhos, entre novelas, seriados e minisséries, teleteatros e telefilmes, numa carreira que começou em 1961, na extinta TV Tupi. E poderiam entrar na conta também os 22 longas-metragens que estrelou, dirigidos por cineastas como Glauber Rocha, Walter Hugo Khouri, Anselmo Duarte e Bruno Barreto; e as 31 peças de teatro em que atuou. O que dá cerca de 80 mil páginas, que renderam interpretações memoráveis, não só de personagens ficcionais, mas também de figuras históricas, como D. Pedro I e Euclides da Cunha.
Não se trata somente de quantidade, mas também de qualidade: o ator fez presença em momentos-chave da televisão e – por que não dizer até – da cultura brasileira. Para ele, não poderia ser diferente. Tarcísio nasceu para ser ator: “O trabalho do ator é bonito e útil. Diz respeito à sensibilidade. Eu procuro desempenhá-lo da melhor maneira possível, com a máxima eficácia. Tento convencer as pessoas das verdades daquele personagem. Essa carreira me gratifica muito”.
ATUAÇÕES MARCANTES
Quando jovem, Tarcísio queria ser diplomata. Para sorte do espectador, porém, desistiu da ideia ao ser reprovado na primeira prova que fez para o Instituto Rio Branco, em 1957.
Decidido, então, a seguir a carreira artística, atuou em peças como ‘Chá e Simpatia’, de Robert Anderson, e ‘Quando as Paredes Falam’, em 1957, de Ferencz Molnar, até ser convidado para dividir o palco com Sérgio Cardoso em ‘Soldado Tanaka’, de George Kaiser, interpretando um oficial do exército japonês.
Estreou na TV no mítico Grande Teatro Tupi, um programa de teleteatro, em que contracenou pela primeira vez com Glória Menezes em Uma Pires Camargo, em 1961. Em 1963, o casal trocou a Tupi pela Excelsior, onde participou da primeira novela diária da televisão brasileira, ‘25.499 Ocupado’, de Dulce Santucci, um sucesso estrondoso. No mesmo ano, fez o seu primeiro filme, ‘Casinha Pequenina’, com Mazzaropi.
Antes de ir para a Globo, trabalhou em mais nove novelas da Excelsior, entre elas ‘Ambição’, ‘A Deusa Vencida’ e ‘Almas de Pedra’.
ENTRADA NA GLOBO
Sua estreia na emissora foi em 1967, na trama Sangue e Areia. A adaptação do romance do espanhol ‘Blasco Ibañez’ escrita por Janete Clair fez com que Tarcísio e Glória se tornassem um dos pares românticos favoritos do público.
Também marcou o início de uma parceria duradoura: ele protagonizou mais seis novelas da autora: ‘Irmãos Coragem’ – um dos maiores sucessos da fase preto e branco da TV brasileira (para se ter uma ideia, o penúltimo capítulo deu mais audiência que a final da Copa do Mundo).
Ao lado de Gloria novamente, esteve presente em mais um momento marcante da história da televisão. ‘O Caso Especial Meu Primeiro Baile’ foi o primeiro programa inteiramente gravado em cores, indo ao ar em 1972. Outro trabalho de destaque foi Escalada, no ano de 1975. Em seguida, ele atuou em ‘Espelho Mágico’ e ‘Os Gigantes’.
DESAFIOS
Nos anos 1980, deu uma guinada na carreira. No cinema, brilhou em ‘A Idade da Terra’ e ‘O Beijo no Asfalto’, em que seu personagem beijava o de Ney Latorraca na boca. Nada mal para quem havia feito um sedutor D. Pedro I em ‘Independência ou Morte’.
No teatro, interpretou um homossexual na peça ‘Um Dia Muito Especial’ e na TV, deixou definitivamente para trás o rótulo de galã para encarar seu primeiro papel cômico em ‘Guerra dos Sexos’.
MARCO NA LITERATURA
Seus trabalhos seguintes foram adaptações de obras literárias. Em 1984, fez a minissérie ‘Meu Destino é Pecar’, a partir do folhetim de Nelson Rodrigues. No ano seguinte, interpretou o Capitão Rodrigo Cambará, na minissérie ‘O Tempo e o Vento’, baseada na primeira parte da trilogia de Erico Verissimo, ‘O Continente’.
DE VOLTA ÀS NOVELAS
Em 1986, Tarcísio voltou a atuar em novelas, interpretando o inescrupuloso empresário Renato Villar em ‘Roda de Fogo’. Ele e Glória Menezes estrelaram depois em ‘Tarcísio & Glória’, série que inaugurou uma linha de coprodução na Globo.
E assim a lista de atuações só fez crescer: vieram as minisséries ‘Desejo’, ‘Hilda Furacão’, ‘A Muralha’ e ‘Um Só Coração’, e mais dezenas de tramas, como ‘Irmãos Coragem’, ‘Espelho Mágico’, ‘Araponga’, ‘De Corpo e Alma’, ‘Fera Ferida’, ‘Pátria Minha’, ‘Torre de Babel’, ‘O Rei do Gado’, ‘Guerra dos Sexos’, ‘Senhora do Destino’, ‘Páginas da Vida’, ‘A Favorita’, ‘Insensato Coração’, o remake de ‘Saramandaia’, ‘Velho Chico’, ‘A Lei do Amor’ e ‘Orgulho e Paixão’, entre outras.
AO LADO DA AMADA…
O sucesso se firmou e reafirmou inúmeras vezes: “Tarcísio Meira e Glória Menezes não são apenas o primeiro casal a fazer sucesso na telenovela brasileira, eles são a própria telenovela brasileira. Foi através do talento deles que outros casais apareceram, e através do talento deles que tivemos novelas impressionantemente boas e muito populares”. afirmou Silvio de Abreu, certa vez.
PAI HERÓI
Traços, vozes, trejeitos e sorrisos que quase se confundem de tão parecidos. As semelhanças entre Tarcísio Meira e Tarcísio Filho não são mera coincidência.
O patriarca da família sempre assumiu sua posição de pai coruja e jamais economizou elogios a Tarcisinho, como sempre foi carinhosamente chamado pela família: “Não há como comparar. Ele é todo melhor do que eu. Tem uma personalidade muito própria e habilidades que eu não tenho, como velocidade para lidar com assuntos tecnológicos”.