Horas de trabalho de parto, sutura da cesárea, seios sangrando no início do aleitamento, noites mal dormidas… Apesar de tudo isso, nada dói tanto numa recém-mãe quanto a pressão para se mostrar uma super mulher: sorridente, politicamente correta, magra e com a autoestima lá em cima – ainda que longe dos holofotes da mídia como uma princesa, mas diante das câmeras escondidas desta sociedade que é a mais analítica de todos os tempos. E os julgamentos da maternidade, dos outros e nossos, não param quando ainda são bebês. Continuam na primeira infância, na adolescência e, posso até apostar, mesmo depois de chegarem a vida adulta.
Ser mãe é ser julgada a partir do momento em que o cordão umbilical com o seu filho é cortado. Ou antes, ao decidir a via e a forma do parto. E não é preciso ser famosa ou fazer parte da família real para entrar na berlinda. Seja Kate, Megan ou gente como a gente, questionamentos sobre o salto na saída da maternidade ou o tamanho da barriga no pós-parto serão apenas os primeiros.
O reality show que a maternidade traz é diário e contínuo. O tempo de mamada, a forma de educar, o que se posta nas mídias sociais, o quanto se gasta numa festa, o lanche que se manda para a escola, o desenvolvimento da criança em cada fase, quantas atividades extra classes ela faz, que tipo de desenho animado assiste na televisão, que roupas usa, se joga futebol ou se brinca de boneca, entre outros. Independentemente da opção que escolhemos para educar e maternar ao longo da vida, sempre, digo SEMPRE, haverá julgamento e estaremos erradas! Ou pelo excesso ou pela falta, pelo zelo ou pela superexposição, pela dor ou pelo amor.
Temos e superamos muitas dificuldades. Vivemos num tempo imediatista em que é preciso ser malabarista para dar conta de tudo: trabalho, filhos, casamento, rótulos, estresse, obrigação de agir de forma politicamente correta, educar os filhos sem falar alto, colocar o pequeno no cantinho do pensamento por segundos milimetricamente medidos, não permitir demais, não criar “na bolha”, não ser amiguinho, não ser ditador de regras.
Mas a maternidade também é maravilhosa. Sim, há o quentinho de tê-los por perto, a alegria em olhar a felicidades deles com coisas simples, o amor desmedido que nos faz ir do inferno ao céu em segundos. Então, lembre-se: não existe certo ou errado na hora de criar um filho, não existe uma única fórmula ou guia que deva ser seguido. A verdade é que nenhum manual no mundo conhece a realidade de cada mãe e sua criança.
E para celebrar essa relação tão única, que nos propõe reflexões e alegrias diárias, que escolhemos algumas mulheres com histórias inspiradoras sobre a maternidade e sobre como se tornarem mães mudou a vida delas.
ESPERA ANGUSTIANTE
“A vontade de ser mãe sempre me acompanhou como um desejo futuro, mas só fui começar a tentar aos 38 anos com meu atual marido e, à medida que não conseguia engravidar, buscamos ajuda especializada. No total, foram sete anos tentando, cinco FIVs em quatro clínicas diferentes. Cheguei a ouvir de um médico que minha capacidade ovariana estava no “volume morto”, comparando a uma represa. Respondi que uma represa, mesmo no volume morto, era capaz de abastecer uma cidade inteira – e mudei de médico. A cada tratamento, a sensação era de que “agora vai dar certo”, por isso a frustração com cada insucesso era gigante. E se minha hora tivesse passado? Será que eu esperei demais? Cerca de dois anos depois do quarto tratamento, minha menstruação atrasou e me peguei imaginando maneiras de contar ao meu marido.
Não estava grávida, mas percebi com a felicidade dessa possibilidade que eu queria muito e pedi para tentarmos uma última vez. Buscamos, então, um quarto médico e, enfim, conseguimos chegar à fase de colocar o embrião no útero, mas é necessário repetir o teste de gravidez várias vezes pra ver se continua positivo até a mudança de gameta para feto. Essa expectativa inicial é muito estressante e impossível de comemorar. Acho que só mesmo quando começa a ver mãozinha e pezinho no ultrassom começa a parecer mais real. Engravidei aos 45 anos e fui mãe aos 46, em uma gravidez absolutamente normal. Quando segurei a Giovanna em meus braços pela primeira vez, não consegui conter o choro de felicidade. Acreditava que já conhecia a vida e o amor, mas nada me prepararia para o sentimento de mãe. Você redefine o que é amor com a maternidade”.
DE REPENTE… MÃE!
“Em 2018, numa consulta de rotina com um ginecologista, após fazer alguns exames, o médico me avisou que, se eu quisesse ser mãe, deveria começar a pensar em adoção, pois ‘não tinha mais nada funcionando dentro’. Eu sai arrasada e chocada do consultório e, após muito chorar, fui até um salão e mudei o visual. Não queria mais olhar aquela mulher que havia saído do consultório com aquela situação tão triste. Com o tempo, me enfiei no trabalho e, nos próximos dois anos, fiz tudo que podia pra não lembrar daquilo e nem daquelas palavras. Mas a vida dá voltas! Em 2020, eu estava trabalhando parte no Rio de Janeiro e parte em Curitiba. Foi então que estourou a pandemia e eu voltei pra Curitiba, para não ficar isolada sozinha sem nem os amigos por perto.
Comecei a trabalhar em home office e ficava em casa direto. E como o meu pai cozinha super bem, eu exagerava às vezes e identifiquei que havia ganhado peso. Em agosto daquele ano voltei ao Rio de Janeiro, para alguns eventos que estavam voltando e, no dia 06 de setembro, comecei a passar muito mal e a sentir muitas dores fortes no abdômen e nas costas. As dores não passavam e, no dia seguinte, fui para a UPA e nada de descobrirem o motivo dessas dores. Até que no final do dia, por volta de 16h30, a médica do plantão falou que ia fazer um exame específico em mim, pois eu estava com o abdômen rígido e ela queria tirar uma dúvida.
Fiz o exame e, quando ela voltou, disse que já sabia o que eu tinha. Comecei a pensar que tomaria um remédio e ficaria tudo bem. Foi aí que a médica disse: “você está grávida!”. Eu estava grogue de remédios pra dor e com tantos exames feitos, que só falei “eu não, doutora, acabei de sair de um ciclo!”. A médica, então, prontamente, me disse “vou te provar que você está grávida, sim, não são dores de cólicas intestinais, são contrações de parto!”. Ela, então, auscultou o coraçãozinho do bebê e eu comecei a chorar copiosamente. As contrações estavam tão fortes, disse ela, que o bebê nasceria entre aquela noite e manhã seguinte. Nisso, as dores aumentaram. Ela, então, preparou um kit parto, pois talvez, nem desse tempo de chegar na maternidade!
E assim foi: chegamos na maternidade às 17h35 (mais ou menos) e a minha filha nasceu às 18h15, no pré-parto, nem pra sala de parto deu tempo de subir! A pessoinha mais linda e saudável chegou com tudo pra virar meu mundo, mas também para ser o milagre que eu não imaginava mais poder ter. E assim ela realizou o meu sonho de ser mãe. Hoje, a minha princesa está com 2 anos e 7 meses e estamos cada dia mais felizes com a sua chegada! Os sintomas? Bem, eu não tive nada, nem enjoo, nem azia, engordei como citei, e tinha acabado de sair de um ciclo. Inclusive, durante todos os meses da gestação, meus ciclos foram normais – segundo a médica da maternidade, era algum sangramento que o corpo estava expelindo. A notícia chegou para os meus amigos e familiares com um grande susto, mas com o maior amor e empatia! A minha corrente do bem foi e é muito grande, e só tenho muito que agradecer. Sou muito abençoada por ter recebido esse presente tão lindo e maravilhoso!”.
CRESCIMENTO DE PERTO
“Quando decidi não trabalhar mais fora (como professora de inglês) e mudar de área para estar perto das minhas filhas, a decisão foi tomada de forma consciente, mas eu não tinha ideia dos desafios. Saí de uma carreira consolidada, para me lançar em algo novo. Foram muitos desafios juntos. Hoje, 5 anos depois, já consigo falar que, nessa trajetória, existem dias muito difíceis, mas nada se comparado a alegria de acompanhar de perto o crescimento da Liz e da Giovanna. Para quem pensa em tomar a mesma decisão, aconselho focar em dois pensamentos principais.
Primeiro, que todas as escolhas trazem consequências boas e ruins, o dia difícil que foi com seu filho, quem sabe fazendo muitas birras, poderia ter um sido um dia ruim no seu ambiente de trabalho ou em um transporte super lotado. Outra perspectiva que me ajuda é que um dia ruim não significa uma vida ruim. Esses momentos difíceis passam, as fases mais desafiadoras da criança também. O que ficarão são as memórias construídas de momentos juntos e isso é uma herança que só nós podemos deixar para eles”.
VOLTOU COM UM “PACOTINHO”
“Minha história como mãe começou totalmente por acaso. Sempre tive desejo de ter filhos, mas, aos 41 anos, solteira e sem relacionamento sério, já estava dando como quase certo que essa vontade não se concretizaria. Afinal, acreditava eu, estava à beira da menopausa e o tempo para a maternidade estava se esgotando. Ledo engano! Naquele ano, 2009, fui, de última hora, pois não havia programado sair de São Paulo, com uma amiga cantora passar o Carnaval no Litoral Norte de São Paulo. Lá, conheci o pai da minha maior obra-prima. Tivemos um relacionamento rápido e, mal sabia eu, voltei de viagem com um “pacotinho” inesperado na bagagem. O mais surreal é que, não sabendo estar grávida, vivi os primeiros meses de gravidez como se nada diferente tivesse acontecido.
Menstruei nos dois primeiros meses – pouca quantidade, é verdade, mas achei que fosse uma situação pré-menopausa. Quando chegou no terceiro mês e a menstruação não veio, comecei a me preocupar. No quarto mês, passei a achar que pudesse estar com algum problema hormonal, mioma ou algo assim. Antes de procurar atendimento médico, resolvi ir a um posto de saúde fazer o exame. E foi assim que, aos quase cinco meses de gestação, descobri que minha vida estava prestes a virar do avesso. Eu havia feito um regime no final do ano anterior e tinha perdido 11 quilos. Até descobrir minha gravidez, ainda emagreci mais um quilo e meio – isso também fez com que eu nem imaginasse estar prestes a viver a maior aventura da minha vida.
Do alto dos meus 42 anos, agora o desafio era contar aos meus pais. Minha irmã caçula, que, casada, já tinha uma filha de oito anos, foi quem me deu força naquele momento. Lara nasceu prematura, por cesárea, com 35 semanas de gestação. Perfeitíssima e bem pititica, chorou antes da obstetra tirá-la da minha barriga. Mas não sabia mamar e pesava apenas 1,775 kg. Resultado: passou 16 dias na UTI neonatal, até ganhar peso e aprender a sugar. Durante alguns anos, ficou abaixo da curva de peso e altura nas consultas pediátricas. “Não se preocupe”, diziam as pessoas. “Prematuros normalmente tiram o atraso depois”, completavam. E hoje, minha filha amada, que chegou sorrateiramente, sem eu imaginar que viria, parece um tourinho, de tão forte! Dificuldades, muitas. Ela veio no meu pior momento financeiro. Mas, graças a Deus, contei com a família como rede de apoio e hoje a Lara é minha razão de viver! Inteligente, engraçada, pessoa super do bem, minha filha e amiga de todas as horas”.
FORÇA PARA MUDAR
“Quando eu conto a história da Cruzando Histórias, sempre começo pela minha maternidade porque foi um divisor de águas. Eu vinha sentindo um incômodo profissional muito grande, estava desmotivada, mas sempre que falava de sair as pessoas me desencorajavam. Então, decidi colocar essa energia no sonho de ser mãe. Engravidei do Rafael em 2013. Quando eu estava para voltar da licença-maternidade, voltei a me questionar. Estava infeliz, teria que ir me arrastando para o trabalho. Lembro que eu olhei para meu filho e falei: ‘Espero que, quando você crescer, possa ser quem quiser, que possa correr atrás dos seus sonhos. Eu quero que você seja livre’. Para mim, fazia muito sentido dizer isso naquele momento, porque me via obrigada a voltar para um lugar que já não gostava e que não fazia sentido para mim.
Naquela hora, imaginei que, quando ele tivesse seus 18 anos, e eu fosse repetir isso, ele falaria: “Mãe, por que você não fez isso por você? Por que não tomou as rédeas da sua vida?”. Me dei conta de que estava me deixando ser colocada num lugar que não me cabia mais. Voltei a trabalhar, mas disse a mim mesma que encontraria uma saída. Comecei a experimentar outras coisas, voltei a estudar. Foi quando eu escutei a história da Sueli no ‘Jornal Nacional’, sobre o desemprego dela. Ela era mãe, assim como eu, e estava passando por uma situação extremamente difícil, sendo despejada de casa, com três filhos. Eu olhei para o meu filho e disse: “Eu preciso fazer alguma coisa”.
Foi a maternidade que me tocou naquele momento. Foi a sensação de “como eu vou deixar uma mulher ir para a rua com três filhos”? Foi nessa procura pela Sueli que eu comecei a escutar mulheres pelas ruas de São Paulo, já que eu não a encontrei. Nisso, conheci mulheres que estavam passando por aquela dor, entendi qual era a história delas. A Cruzando Histórias nasceu desse lugar de empatia com outras mulheres, com outras mães, por eu ser mãe. Tentando ajudar outras pessoas, me vi me ajudando e ressignificando a minha carreira e toda a minha história”. Bia Diniz, 36 anos, mãe de Rafael, de 8 anos.
SONHO NOS BRAÇOS
“Eu sempre tive o sonho de ser mãe. Aos 27 anos, lá em 2000, havia concluído minha graduação e estava em uma posição de liderança na empresa em que trabalhava, com ótimas oportunidades de seguir crescendo. Percebi que era um ótimo momento para ter um filho. Como boa parte das mulheres, o primeiro passo foi interromper o uso de anticoncepcional e, então, aguardar o meu positivo. Mas, o que eu esperava que fosse ocorrer naturalmente, começou a dar sinais de que exigiria mais resiliência do que o normal. Vários exames e seis anos de tentativas, com três inseminações artificiais malsucedidas, já marcavam minha trajetória quando os médicos me indicaram tentar a fertilização in vitro.
Conheci, então, uma clínica que tinha um programa chamado Gravidez Garantida, em que era possível realizar quantas tentativas fossem necessárias até a mulher concretizar o sonho de ser mãe. Foram quatro anos de tratamento e 10 fertilizações in vitro. Tive três gestações que foram interrompidas nesse processo, o que me trouxe muita tristeza, dúvida e desânimo. Se não fosse meu desejo tão latente de ser mãe e o acompanhamento psicológico da minha família, amigos e da empresa em que atuava, talvez tivesse desistido. No dia 15 de junho de 2013 fiz minha décima e última fertilização. Pedi ao médico que me desse de presente de 40 anos meu tão sonhado filho. Quinze dias depois, peguei o resultado positivo e, no dia 3 de março de 2014, às 10h13min, a Paola veio ao mundo. Foi a sensação mais maravilhosa que eu tive: segurar nos braços um sonho que eu tanto lutei para conseguir realizar”.
NÃO PERCA A FÉ
“Me casei em abril de 2005 e comecei a tentar engravidar a partir de 2008, mas nunca acontecia. Ao mesmo tempo, sofria com cólicas intensas que não conseguia nem andar. Com idas e vindas ao hospital, descobrimos o diagnóstico de endometriose e, felizmente, fiz a cirurgia em 2011. Após um ano da cirurgia, nada de engravidar. Novamente, então, procuramos ajuda médica no Ideia Fértil (Instituto de Saúde Reprodutiva). E, então, começou o período mais desafiador de nossas vidas. Foram quatro tratamentos longos com tentativa de FIV (Fertilização in Vitro) e diversos medicamentos orais e intravenosos. A primeira tentativa foi em fevereiro de 2013 (sem desenvolvimento dos óvulos); a segunda tentativa em abril de 2013 (dois embriões transferidos por FIV) e resultado negativo de gravidez; a terceira tentativa em abril de 2014 (dois embriões transferidos por FIV) com resultado negativo de gravidez; e a quarta tentativa em 21 de agosto de 2014, transferindo um embrião que, felizmente, veio nossa princesa, que foi muito forte em aguentar tantos medicamentos no organismo da mamãe.
Durante toda a gestação, tive de usar o Clexane injetado na barriga para segurar a gestação. Mesmo recebendo o resultado positivo da gravidez, não acreditei, pois estava abalada psicologicamente. Até o primeiro ultrassom, eu estava duvidando. Mas após ouvir o coração do bebê bater, senti que tudo valeu a pena. A médica, que me ajudou no tratamento, foi um anjo em nossas vidas! Valeu a pena todo o esforço dela e nosso. Somos muito gratos a Deus por nos ter confiado nossa filha. Temos consciência de que tudo nesta vida tem um propósito e que teríamos de passar por isso para aprendizado. Gostaria de dizer para as mulheres que também passam por isso a nunca desistirem e para não perderem a fé. A maior felicidade do mundo é ser mãe. O amor que sentimos pelo filho é tão grande que parece não caber no peito. É o verdadeiro amor incondicional! E, é claro, após o nascimento de minha filha em 2015, larguei minha carreira profissional para me dedicar 100% a ela, pois, após tanta espera, eu não queria mais ficar longe. Acho que valeu a pena, pois nossa sintonia é fortíssima e sinto muita gratidão dela em me ter 100% com ela”.
“ELE NASCEU E EU RENASCI”
“Sempre sonhei em ser mãe. Por um período, acreditei que não pudesse engravidar por problemas de saúde. Vivi um quadro de depressão muito grande, a ponto de querer tirar a minha vida por algumas vezes. Sempre me lamentava, me questionava sobre o motivo de eu ainda estar nesse mundo. Até que consegui engravidar. Casada com outra mulher, optamos pela inseminação e conseguimos o tão sonhado positivo. Quinze dias antes de engravidar, ainda na fase depressiva, tentei tirar a minha vida. Quando foi confirmada a gestação, mudei radicalmente os meus pensamentos e só queria ser a “melhor casinha” para o meu filho durante os nove meses.
Lucca nasceu saudável, lindo e trouxe um novo e maravilhoso sentido pra minha vida. Eu nunca mais tive um pensamento negativo sobre mim ou minha vida. Costumo dizer que ele me salvou. Ele nasceu e eu renasci. Tudo mudou! Reduzi a jornada de trabalho. Até os nove meses, eu ia para reuniões e acompanhava clientes presencialmente. Depois do nascimento dele, consegui adaptar a minha realidade para home office total! Foi a melhor transformação da minha vida. Consigo ter alegria em viver para acompanhar o crescimento dele. Uma grande preocupação era, sem dúvida, a depressão pós-parto. Justamente por ter um quadro depressivo anterior a gestação, existia uma grande chance de alguns sentimentos permanecerem ou até piorarem com o tempo. Mas não aconteceu! Tive momentos de exaustão, de achar que não dava conta, de me questionar se estava dando o meu melhor, mas, de tristeza, angústia ou desejos de sumir do mundo eu nunca mais tive. Nunca mais quis desistir da vida. Pelo contrário, tenho medo de que algo me aconteça e eu não possa ver meu filho crescer”.
TRABALHANDO A ANCESTRALIDADE
“Quando descobri que estava grávida de meu primeiro filho tinha dois empregos, um como coordernadora de alimentos numa rede de hamburgueria artesanal e também era docente no ensino superior em uma faculdade na cidade de São Paulo. (SP). Por trabalhar muitas horas e saber que logo teria um filho para criar e teria que trabalhar menos para cuidar do bebê, fiquei um pouco depressiva. Em consequência disto, no trabalho de coordenadora, sofri várias opressões e passei a ter atrasos no salário até o oitavo mês de gestação, quando entrei de licença-maternidade. Logo em seguida ao nascimento do bebê fui demitida. Na faculdade em que trabalhava, tive sérios problemas também, devido à alta produção de leite (amamentava meu filho e doava de 8 a 12 litros de leite pro banco de leite). Então, tinha que parar a aula duas ou três vezes para tirar leite. Quando chegou o meio do semestre, fui demitida sem muitas explicações.
Foi aí que decidi empreender, e logo descobri que estava grávida de minha filha, hoje com 6 anos. Neste momento, tinha certeza de que seguiria o caminho do empreendedorismo. Ciente de que tinha que encaminhar duas vidas neste mundão, decidi que faria de minha ancestralidade o tema de meu trabalho, primeiro porque trazia identidade ao meu trabalho e me representava e, segundo, porque precisava tratar deste tema com meus filhos de forma natural, sem ficar pesando na deles durante a vida sobre a ancestralidade africana contida neles por serem meus filhos. Então, decidi que ia trabalhar com tema de diáspora africana e este tema iria permear todo meu trabalho.
Sempre levei meus filhos aos trabalhos, não todos, claro, mas sempre fiz questão de que vissem como é o que faço, pra valorizarem e perceberem a estética, ter contato com as pessoas que comem minha comida. E hoje os vejo falando sobre África, pilão, inhame com tanta propriedade, sabem que tudo isto pertence a eles, pois pertence a mim, à nossa ancestralidade. E sinto muito orgulho, pois consegui atingir meu objetivo de forma leve, tranquila e também profunda na vida deles”.
TUDO PELO FILHO
“Nunca sonhei com a maternidade. Pode parecer forte, mas é verdade. Quando comecei a me relacionar com o meu esposo, deixei claro desde o início que não tinha o sonho de ser mãe. Por acidente ou obra do destino, um ano após o casamento descobri que tinha endometriose. Iniciei o tratamento e, no fim deste tratamento, comecei sentir algumas coisas estranhas: dores nos seios, inchaços e vômitos. Lembro que não cogitei uma gravidez. Então, continuei ingerindo álcool. Quando os sintomas começaram a ficar mais frequentes, cheguei a pensar: Isso não pode estar acontecendo comigo, o que eu vou fazer? Fiz vários testes de farmácia e a cada positivo meu coração se desesperava.
Fiz o exame de sangue e veio a confirmação: estava esperando um bebê. Achei que meu mundo iria desabar, mas abortar nunca foi uma opção. Meu marido estava radiante e eu sem saber que emoção estava sentindo. Lembro que, quando fiz o ultrassom pela primeira vez, para verificar de quantas semanas estava, pude ouvir aquele coraçãozinho batendo tão forte. Aí, uma chave virou e comecei a chorar copiosamente. Foi então que decidi verdadeiramente aceitar a gestação em meu coração. Comecei a ler sobre o assunto, contar histórias para a barriga e até cantar. A cada item de enxoval, montagem do quartinho, a ficha ia caindo e a aceitação ficando maior. Tenho certeza que no dia daquele ultrassom nasceu uma mãe, uma mulher que faz de tudo pelo seu filho, que acredita na educação respeitosa e tenta ensinar ao seu filho o verdadeiro significado de confiança, amor e amizade”.
AMOR DOBRADO
“Planejei ser mãe aos 33 anos e descobri, no dia do parto, que minha filha tinha Síndrome de Down. Após 10 dias do nascimento, retornamos à maternidade para fazer uma cirurgia de correção do duodeno da Julia. O médico deixou bem claro que a cirurgia seria de risco, e era possível ela não resistir. A cirurgia foi bem-sucedida e, depois de 17 dias, ela teve alta. Chegando em casa, pesquisei e estudei muito sobre o Down. Aprendi tanto que meu TCC foi sobre o desenvolvimento da minha filha e como eram importantes as terapias como aliadas nesse processo de desenvolvimento. Julia andou com um ano de idade, desfraldou com dois. Com o tempo, tive que deixar o emprego pra me dedicar às terapias dela, que atualmente tem seis anos e possui algumas dificuldades na fala, mas não atrapalha, ela sabe se virar bem e tenta se comunicar de diversas maneiras.
Muito esperta, carinhosa e sapeca, estuda numa escola regular e está indo muito bem. Com 39 anos, planejei engravidar novamente. Pensei que uma irmã ajudaria muito, mesmo sabendo que a probabilidade de ter outra criança Down era a mesma, pois a Julia tem trissomia livre, que quer dizer que o Down não é do pai nem da mãe e, sim, que aconteceu. Então, aos meus 40 anos, nasceu Julieta, que é a companheira inseparável da Julia. Julieta está com um ano e quatro meses, não nasceu Down. Uma completa a outra. E as duas completaram nossa família de uma forma inesperada e com amor dobrado”.
“DESCULPA, ATRASEI!”
“Resolvi ser mãe após os 36 anos. Fiz um check-up e engravidei naturalmente após seis meses, quando sofri minha primeira perda gestacional. Passei um ano tentando novamente sem sucesso, meu fluxo não regulava, fui diagnosticada com trombofilia e tive recomendação médica de fazer uma fertilização in vitro (FIV). Fiz o tratamento e, por conta de biópsia de embrião e todos os cuidados, tinha 5% de chance de aborto. Fiquei animada com a chance de ser mãe e dar tudo certo, mas engravidei e perdi novamente, em meio à pandemia. Ainda por cima, precisei fazer um procedimento de retirada e limpeza uterina pós aborto: as mulheres ali na maternidade, todas felizes saindo com os filhos e eu sofrendo mais uma perda. Quando estava sem esperanças, dois meses depois, engravidei naturalmente e de surpresa. Os médicos custaram a crer no que viam nos exames.
Tive uma gravidez considerada de risco, com mais de 1000 injeções entre enoxoparina sódica e insulina, mas minha pequena nasceu saudável. Amei a experiência de ser mãe e, ano passado, tentei uma última FIV de novo e tive um irmãozinho para minha filha. Ao longo das perdas e tratamentos, vi muitas mulheres buscando apoio, com dúvidas, e isso me inspirou: resolvi contar minha experiência em um livro chamado “Desculpa, atrasei!” para ajudar outras mulheres que resolveram adiar a maternidade a buscar meios de realizar seu sonho ou as que quiseram adiar para poder se programar da melhor maneira para não passar por alguns dos perrengues que passei”.
PRESENTE DE NATAL
“Após cinco anos de casada, planejamos começar a tentar engravidar. Consegui super rápido, aos 31 anos, e o primeiro aborto espontâneo aconteceu dois dias depois do primeiro ultrassom transvaginal, que apontava que estava tudo bem com o bebê, então com 5 ou 6 semanas. Não senti nada, apenas acordei com muito sangramento, fui ao hospital e foi constada a perda. Foi muito triste, mas logo descobri que era considerado “normal” e comum perder bebê na primeira gestação. A partir daí, eu e meu marido aprendemos que era melhor manter a gestação em segredo por algum tempo. Depois de três meses (prazo que o médico recomendou para as novas tentativas), engravidei de novo. Até que, com dez semanas de gestação, sem sentir nada incomum, fui fazer outro ultrassom de rotina para acompanhar a gestação e na hora descobri que tinha perdido meu segundo bebê.
Dessa vez foi bem mais cruel, porque ele ainda não tinha sido expelido. Então, pude ver direitinho seu formato dentro de mim, porém o coração dele não batia mais. Dias depois, tive de fazer curetagem. O médico (do convênio) que até então me acompanhava, recomendou que eu procurasse por algum especialista em medicina fetal. A partir daí, foram diversas consultas em diferentes médicos especialistas, fazendo um monte de exames e nada de anormal era detectado. Todos os médicos insistiam que era normal perder e que deveríamos continuar tentando naturalmente. Um deles chegou a sugerir que eu partisse para a doação de óvulos, pois o “problema” poderia ser com meus óvulos, apesar de nenhum exame diagnosticar isso.
Nesse período, acabei engravidando e perdendo outros três bebês, mesmo tomando todos os cuidados recomendados pelos médicos, sempre no início da gestação, entre 6 e 8 semanas, e sempre sem sinal, apenas sangramentos repentinamente e muita cólica. Mas a dor emocional sempre foi maior e, para me defender dela, já nem vibrava mais a cada gestação, pois ficava insegura, fragilizada e com muito medo. Certa vez, estava no escritório trabalhando quando fui ao banheiro e vi um sangramento, ou seja, naquele momento tinha acabado de perder mais um bebê. Como ninguém sabia que estava grávida, resolvi voltar normalmente à minha mesa e seguir trabalhando, como se nada tivesse acontecido.
Estava cansada de sofrer por isso e já estava prestes a desistir quando, por muita insistência do meu marido, resolvemos tentar a última chance, com um novo médico, considerado fera na área. Ele me pediu uma série de exames que nunca tinha ouvido falar e, assim, descobrimos que alguns dos meus hormônios estavam desregulados, que tinha endometriose (assintomática e até então nunca tinha sido diagnosticada) e trombofilia. A partir daí, operei da endometriose, fiz tratamentos para balancear meus hormônios e me preparei ao máximo para que quando engravidasse novamente desse tudo certo. Meses depois, aos 35 anos, engravidei pela sexta vez e, em meio a injeções diárias para trombose, injeções semanais de hormônios e exame de sangues semanais, tive uma gravidez tranquila, sem contratempos e muito bem sucedida da minha filha Laís, nosso presente de Natal, que nasceu saudável e perfeita, quando ela quis (pois apesar de ter feito cesária, entrei em trabalho de parto com inúmeras contrações), num dia muito especial, na madrugada de 24/12/2014.
Confesso que só relaxei de verdade ao vê-la linda e saudável saindo da minha barriga, e também ao ver meu obstetra agitando os braços para o alto, comemorando a nossa vitória! Foi emocionante! Pouco antes de ela nascer, mudei meu esquema de trabalho e passei a fazer home office para que eu pudesse acompanhá-la em cada fase. Foi a concretização de um sonho, que parecia impossível, que demorou e nos machucou muito, mas valeu muito a pena ter acreditado e lutado por ele. Nunca quisemos um segundo filho, pois ela nos completa em tudo. Além disso, sei que não teria mais a mesma disposição que tive com ela, sei o quanto é difícil criar e, principalmente, educar no mundo de hoje. Também não queria arriscar mais depois de tudo que passei… Deus e a Ciência me deram a chance de ser mãe de uma menina espetacular e hoje sou mãezona mesmo, super realizada, curto de verdade cada segundo com ela, fazemos tudo juntas e vivo por ela. Me considero uma mulher vitoriosa, realizada e de muita sorte!”.
SONHANDO COM OS FILHOS
“Sou psicóloga, mas dei uma parada na minha carreira para realizar o sonho dos meus filhos de competir no Panamericano. Eu e o pai deles somos muito ligados em esportes e nossos filhos já cresceram na academia. Então, com o tempo, o esporte também se tornou uma paixão para eles, que foram se tornando cada vez melhores até que começaram a competir. E aí vieram as viagens. Como não queria deixá-los viajar sozinhos, fiz um curso de arbitragem de Kickboxing e comecei a treinar também para poder acompanhá-los de alguma forma – o pai também ajuda nos treinos, pois é faixa preta de Kickboxing. A paixão deles pelo esporte é linda de se ver. Me emociono quando os vejo lutar e a felicidade deles em fazer o que amam. Como o dinheiro é curto e as competições são caras por conta do transporte, alimentação e inscrição, precisei realizar algumas mudanças na minha vida. Afinal, o amor pelos meus filhos não tem limites!
Tudo começou em 2021, quando a minha filha foi classificada para o sul-americano. Eu não tinha condições de comprar passagens aéreas e pagar as inscrições e hotéis, que são escolhidos pela confederação e são caros. Vi a tristeza dela, uma atleta classificada, mas que não tinha como realizar o seu sonho de competir. Me veio aquela sensação de impotência, é claro. Sabendo que o torneio estadual em Vitória, no Espírito Santo, se aproximava, eu decidi fazer doces e vender pelas ruas, bares e ginásios da zona Oeste do Rio. Na época, eu não sabia fazer nada além de brigadeiro, mas foi assim que consegui o valor para ela ir para a as competições. Depois desse episódio, não consegui mais parar, mas precisava ampliar as vendas. Então, fui ao Instituto Gourmet da unidade de Madureira, onde recebi ajuda. Contei minha história e pude fazer o curso de confeitaria.
Hoje, continuo vendendo os nossos doces, que são caprichados, tudo fresquinho e muito gostoso. E é com essa esperança de uma mãe que ama seus filhos, que eu confio que, em breve, eles estarão realizando tudo que sonham no esporte. Foi na venda de doces que encontrei uma maneira de levá-los às competições. Estamos em busca de patrocínio, mas aqui no Brasil é muito difícil, não há valorização. Se para um adulto já é difícil, imagine para uma criança. Infelizmente, no Brasil ainda se pensa que o esporte na vida das crianças é apenas um passatempo, nunca olham para os pequenos atletas como profissionais. Abri mão dos meus objetivos pessoais por eles. Um dia volto para a psicologia. Mas, hoje, meu foco é no futuro deles com o que escolheram. É o sonho deles e, se é o deles, é o meu também. E por eles tudo vale a pena”.