A pandemia do novo coronavírus impôs uma série de mudanças na rotina das pessoas desde meados de março de 2020. Além de impactar nos centros de saúde e no comércio, o distanciamento social também transformou a realidade de milhões de estudantes e seus pais. Foi o que aconteceu na família da professora Débora Regina Magalhães, mãe de três filhos.
Segundo a educadora, o formato inovador proposto pelo ensino à distância (EAD) e a necessidade de se dividir entre as tarefas de mãe e trabalhadora foram desafios a serem enfrentados. “Somos em cinco, todos utilizando a internet ao mesmo tempo e tendo que dividir os ambientes, pois todos eles têm aula no mesmo horário em que eu dou trabalho. Cada um se trancava em um quarto, dependia da internet, que não foi feita pra isso, então ficava lenta e caía”, relata à AnaMaria Digital.
Débora também lembra que, no início, os filhos precisaram se adaptar ao novo formato de aula, retomando o ritmo dos estudos e lutando contra a dispersão. “Como ficava cada um em um quarto, não tinha como você ficar checando. No meu caso, principalmente, como mãe e professora, não dava para ficar controlando o que cada um fazia. Foi muito difícil lidar com as reclamações e a sensação de impotência”, relembra.
Ela ainda reconhece que o home office duplicou o trabalho a ser realizado, tanto como mãe quanto como profissional. “Não tinha mais aquela divisão. A escola estava em casa. O ensino à distância aumentou demais a demanda para os professores. Eu confesso que no início fiquei estressada”, diz.
COMO PREPARAR OS FILHOS PARA O EAD?
Seja pelo formato híbrido ou ensino à distância integral, é certo que o ambiente digital ainda será muito explorado pelas instituições de ensino ao longo dos próximos anos. Para os pais dos alunos que terão que permanecer mais um tempo no método online, a psicopedagoga Thaís Valoto indica que despertem o senso de compromisso nas crianças, ensinando que as aulas à distância ‘não são menos importantes’.
A profissional lembra que é essencial incentivar os pequenos a realizarem atividades de maneira autônoma, permitindo erros, elogiando e valorizando o esforço deles. Além disso, destaca que ampliar a aprendizagem para além das tarefas escolares, respeitando e ensinando os filhos a se concentrarem nos exercícios propostos é muito benéfico.
“É importante dividir as tarefas em partes, com base no tempo em que a criança consiga se manter concentrada e, no caso de crianças mais agitadas, é preciso permitir pausas regulares, pois elas ajudam a restabelecer o foco atencional”, explica.
COMO ENSINAR OS FILHOS EM CASA?
Sobre a pressão que os pais sentem por terem de auxiliar os filhos nas tarefas da escola, Débora afirma que o melhor caminho é a tranquilidade. Indica ainda que não coloquem uma carga maior do que a situação, de fato, exige.
“Acho que não se pode encarar o ensino à distância como algo pesado e estressante. Eu via mães e pais à beira de um ataque de nervos porque muitos não se sentiam aptos para ensinar ou cobravam em excesso, ou se sentiam culpados por não ajudar no que os filhos precisavam, pois estavam trabalhando”, relata.
Valoto relembra que é uma tarefa tanto dos pais quanto da escola realizarem a adaptação dos filhos aos conteúdos e aprendizados além dos acadêmicos, que podem ter sofrido algum tipo de defasagem durante o EAD.
“Muitos pais precisarão ser acolhidos e orientados, para que consigam ajudar os seus filhos. Ainda que a pandemia tenha trazido mudanças na rotina de muitas crianças, novas rotinas deverão ser implementadas e essa responsabilidade caberá às famílias. Estabelecer horários para a realização de tarefas cotidianas, ajuda a organizar melhor o dia da criança e a reduzir a ansiedade. Fatores como o sono e a alimentação também são imprescindíveis para que a aprendizagem ocorra”, afirma.
A psicopedagoga aponta ainda que a realização de avaliações para mensurar o aprendizado das crianças é algo importante, pois avançar nos conteúdos sem que as informações básicas tenham sido bem assimiladas pode causar ‘mais lacunas e prejuízos a curto e a longo prazo’.
COMO PREPARAR PARA AS AULAS PRESENCIAIS?
Com o vislumbre da vacinação no Brasil, a discussão em torno da volta às aulas presenciais se intensificou. De acordo com João Doria, governador do Estado de São Paulo, as instituições de ensino público deverão retornar às atividades no dia 8 de fevereiro, com apenas 35% da capacidade do local e sem a obrigatoriedade dos alunos irem à escola para as atividades presenciais.
Tendo isso em mente, também é importante que os pais que irão mandar os filhos para as aulas nas escolas se munam das informações necessárias e expliquem para as crianças as mudanças de comportamento que estão em vigor devido à pandemia.
“O ideal é fazer isso através de uma conversa verdadeira, aberta e cuidadosa, sem causar pânico. Comece buscando saber o quanto ela já sabe a respeito do assunto, ouça o que tem a dizer, considere os seus sentimentos e siga com o diálogo, transmitindo confiança e reforçando as orientações de segurança e higiene. Explique que essa situação irá passar e mantenham juntos, a esperança de dias melhores”, sugere Valoto.
QUAL O MOTIVO PARA RETORNAR COM O MODO PRESENCIAL?
Para a pediatra Flávia Oliveira, que tem dois filhos, o retorno das aulas presenciais vai além da administração do conteúdo escolar. A especialista reforça que a escola impacta diretamente em questões emocionais e até neurológicas das crianças.
“O fato dela estar há muito tempo em casa sem contato com outras crianças ou professores gera uma condição de estresse que pode sim ter consequências para a vida toda. Muita gente fala ‘Ah, mas é só um ano’. Se a gente for pensar em uma criança de 5 anos é um quinto da vida dela. Não é pouca coisa”, explica.
A especialista também destaca o papel social das escolas. Lembrando que é local onde a maioria das crianças mais vulneráveis economicamente realizam a sua melhor refeição e também de onde saem a maioria das queixas de agressão e maus-tratos.
“A educação e a presença nas escolas têm que ser tratadas como uma prioridade já que as crianças são, sim, o futuro do nosso país e do mundo. Essa foi a parte menos discutida sobre a pandemia. Isso tem uma consequência para elas e para as famílias”, discorre.
QUAIS OS PROTOCOLOS DE SEGURANÇA?
Entre os cuidados que devem ser tomados para que a presença nas escolas não signifique um risco maior ao contágio de Covid-19, a pediatra aponta:
Ilustração: Canva
Ainda sobre o uso de máscaras, a especialista destaca que é recomendado para as crianças a partir dos dois anos de idade. No entanto, relembra que só são indicadas para os pequenos que se adaptam ao acessório, sem que fiquem levando às mãos ao rosto. Também destaca que, no caso dos pequenos que molham as máscaras com maior facilidade, por estarem no período de dentição, por exemplo, o uso deve ser descartado. Nestas ocasiões, o faceshield pode ser uma alternativa.
“Outro cuidado que se deve tomar é para as crianças com problemas respiratórios, com alguma alteração de comportamento ou da parte mental. Estas devem ser avaliadas caso a caso com um pediatra para saber se existe ou não a possibilidade de usar máscara”, indica.