Você se lembra do momento em que menstruou pela primeira vez? Talvez tenha sido um dia confuso, com um misto de vergonha, medo e dúvida. Ou talvez tenha vindo depois de uma conversa com sua mãe, uma amiga ou até uma professora. De qualquer forma, é difícil esquecer a sensação de perceber que, dali em diante, algo dentro de você havia mudado. O corpo crescia, os sentimentos pareciam mais intensos e a vida ganhava uma nova perspectiva. Com a menarca nasce também um novo ciclo, tanto físico quanto emocional.
Por isso, preparar sua filha para essa etapa é uma forma de cuidar não só da saúde, mas da autoestima e da segurança emocional dela.
Por que preparar sua filha para o primeiro ciclo é tão importante
Segundo a psicóloga e neuropsicóloga Tatiana Serra, esse preparo deve acontecer com antecedência e de forma gradual. “O ideal é que seja antes de ela menstruar pela primeira vez, por volta dos 8 a 10 anos, de forma gradual, acolhedora e compatível com a maturidade emocional da criança.” Assim, evitamos que esse marco seja vivido com pânico ou vergonha e tornamos o processo mais leve e natural.
Com o novo ciclo… as mudanças
A menstruação costuma aparecer após alguns sinais que indicam o início da puberdade: pelos pubianos e axilares, aumento das mamas, cravos e espinhas, odores corporais mais fortes, além de mudanças emocionais. Ficar mais sensível, irritada ou introspectiva são comportamentos comuns.
Graziela Canheo, ginecologista da La Vita Clinic, explica que esses sinais indicam que a primeira menstruação pode estar próxima. Mesmo que a menina não traga o assunto à tona, a dica das especialistas é que os pais não esperem. “Sempre estimulo os pais a serem mais proativos nas conversas para que a menina se sinta à vontade para trazer os assuntos”, acrescenta Graziela.
Hormônios sem tabu
Se você sente dificuldade em abordar o tema, saiba que não está sozinha – e que é possível vencer esse bloqueio. O primeiro passo é naturalizar o tema. “É algo normal e faz parte do desenvolvimento feminino. Falar sobre o corpo, os processos de mudança de cada etapa da vida, usar o nome correto das partes do corpo, como vagina, e não apelidos, é fundamental”, orienta Tatiana.
Já Graziela recomenda que a conversa seja direta e acolhedora: “No consultório sempre sugiro para os pais uma conversa clara, mostrando a normalidade da menstruação como algo da evolução do nosso corpo e deixando um espaço seguro para que a menina se sinta confortável para perguntar e entender o que está acontecendo com seu corpo.”
Mais do que explicar o funcionamento do ciclo ou como usar absorventes, é preciso abordar também o lado emocional. As meninas precisam entender que é normal se sentir diferente, mais sensível ou insegura em alguns momentos. Desconstruir tabus desde cedo é essencial para evitar culpa e vergonha.
O momento certo existe?
É comum se perguntar se há uma “idade certa” para ter essa conversa. A resposta é: depende da criança. Mas, de modo geral, entre 8 e 10 anos é uma boa janela para iniciar o diálogo.
A menina pode demonstrar prontidão com atitudes simples do dia a dia. Fique atenta se ela:
- começa a observar mais o próprio corpo;
- fecha a porta ao se trocar ou ir ao banheiro;
- demonstra desconforto com o corpo exposto;
- comenta sobre absorventes que viu em comerciais ou propagandas;
- mostra curiosidade ao ouvir conversas de outras meninas;
- se interessa por assuntos “de gente grande”.
Nasce uma nova fase
O início do ciclo menstrual é também uma oportunidade para reforçar o vínculo entre mães, pais e filhas. Quando a menina se sente acolhida e informada, esse momento passa a ser visto com mais naturalidade e até com orgulho.
“A própria atitude de antecipar e preparar a menina para essa mudança tende a fortalecer autoestima, segurança e autonomia”, diz Tatiana. Isso inclui ensiná-la a lidar com situações como vazamentos ou cólicas em público, incentivar que leve um absorvente na mochila, e deixar claro que sentir-se diferente às vezes é parte do processo.
E, com o tempo, a conversa pode evoluir para outros temas: sexualidade, respeito ao próprio corpo, autocuidado, autoconhecimento. Porque, no fundo, falar de menstruação é também ensinar a menina a se escutar e a se respeitar.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (25 de julho). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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