Coloridos, barulhentos e cheios de cortes rápidos, os vídeos voltados para o público infantil se tornaram parte da rotina de muitas famílias. No YouTube Kids e no TikTok, basta um toque para mergulhar em um mundo de sons repetitivos, músicas cativantes e personagens que falam sem parar. As crianças ficam vidradas. Os pais, por alguns minutos, conseguem um respiro. Mas até que ponto essa exposição constante é inofensiva?
Um universo frenético
A lógica dos vídeos ultrarrápidos, com sons intensos, cortes frenéticos e falas rápidas, tem efeito direto sobre o cérebro infantil. “O aprendizado é uma habilidade que acontece na paz. É preciso que este cérebro esteja tranquilo para que o aprendizado se consolide”, explica a fonoaudióloga Angelika dos Santos Scheifer. O problema é que as produções com trocas rápidas de som e imagem promovem o contrário: agitação e excitação constantes.
Esses estímulos intensos acabam “viciando” a criança em uma sensação imediata de prazer e movimento. “As mudanças rápidas de luz, som e cor criam uma dependência. Por isso, elas ficam tão agitadas e passam a ter dificuldade de se interessar pela vida real, que não tem esse mesmo ritmo”, completa a fonoaudióloga.
A psicóloga Marília Scabora, fundadora da comunidade Tribo Mãe, reforça que o cérebro infantil ainda está aprendendo a filtrar o que é importante. “Quando a criança é exposta com frequência a animações como essas, o sistema nervoso fica constantemente em estado de alerta”, diz. Isso pode gerar dificuldade de foco em atividades simples, como brincar livremente, conversar ou se concentrar em tarefas escolares.
Impacto no comportamento
Os personagens também têm um papel importante no aprendizado social e emocional. Marília lembra que as crianças aprendem observando e podem repetir o que veem nas telas. “Quando a narrativa apresenta atitudes agressivas ou desrespeitosas, isso pode se refletir nas brincadeiras e nas relações sociais”, alerta.
Para as menores, o risco é ainda maior, já que elas nem sempre conseguem distinguir o faz de conta do comportamento aceitável na vida real. Por isso, a recomendação é que os pais conversem sobre o que assistem juntos, ajudando a criança a compreender o que sente e a reconhecer outras formas de resolver conflitos.

Identifique
Apesar de o ideal ser reduzir o tempo de tela, há formas de tornar esse momento mais saudável. Para Angelika, o primeiro passo é observar a calma das produções. “O contraponto das animações aceleradas é o conteúdo tranquilo, com começo, meio e fim. Desenhos como George, o Curioso trazem essa serenidade, com sons suaves, cores leves e histórias que a criança consegue acompanhar”, recomenda.
Marília reforça que produções com ritmo mais suave, cores harmônicas e trilhas calmas tendem a favorecer a concentração e a criatividade. “Histórias com pausas, diálogos compreensíveis e tramas que abordam emoções ajudam a desenvolver empatia e imaginação”, destaca.
Ela acrescenta que o comportamento da criança é o melhor termômetro para saber se o conteúdo está sendo benéfico. Irritação, agitação, dificuldade para dormir ou perda de interesse por outras brincadeiras são sinais de alerta.
Menos tela, mais convivência
Equilibrar o uso das telas pode parecer desafiador, mas é um processo gradual. Angelika lembra que o mais importante é reduzir aos poucos e buscar substituições que envolvam a presença dos pais. “Mesmo que a tela funcione como uma rede de apoio, o ideal é que cada família busque o mínimo possível. E, com o tempo, esse mínimo vai ficando cada vez menor”, orienta.
Mais do que proibir, o objetivo é criar momentos compartilhados e conscientes. Assistir junto, conversar sobre o que viram e relacionar o conteúdo com situações do cotidiano faz toda a diferença. Afinal, como lembra Marília, “o tempo de tela pode se transformar em uma oportunidade de vínculo e aprendizado, desde que venha acompanhado de presença e diálogo”.
Animações recomendadas
Confira alguns exemplos de produções que equilibram estímulos, linguagem acessível e mensagens positivas:
- George, o Curioso – ritmo calmo, sons suaves e enredos simples.
- O Pequeno Urso – histórias curtas e delicadas, com foco na amizade e na imaginação.
- As Aventuras de Babar – narrativa clássica que aborda valores como empatia e respeito.
- Daniel Tigre – inspirado no universo de Mister Rogers, ensina sobre emoções e convivência.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1496, de 21 de novembro de 2025). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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