Fim de ano é aquele momento de correr atrás da ceia, organizar viagem, lembrar dos amigos… e, claro, escolher os presentes das crianças. É nessa hora que, muitas vezes sem perceber, adultos entram em uma armadilha antiga: separar brinquedos em “de menino” e “de menina”. Mas, no fundo, esse filtro não tem nada a ver com a criança real – aquela que você conhece, convive, observa crescer e que vibra de um jeito único diante das próprias curiosidades.
Escolher um presente sem rótulos não é só uma tendência moderna. “Quando a criança escolhe o brinquedo livremente, sem medo de ser julgada, ela amplia repertórios e habilidades para lidar com o mundo”, diz o psicólogo Luiz Mafle, professor de Psicologia e Doutor pela PUC Minas e Universidade de Genebra.
Olhe para a criança, não para a prateleira
A divisão entre brinquedos de “menino” e “menina” não nasce nas crianças – ela vem da cultura, reforçada por gerações de expectativas sociais e marketing. Luiz explica que, quando mantida, essa rigidez pode fazer a criança entender que certos interesses “não são para ela”, limitando experiências e afetando a autoestima.
Andrea Fornes, fundadora da consultoria Gift It, lembra que, antigamente, bonecas eram vistas como brinquedos femininos e carrinhos como masculinos. Mas essa linha é mais flexível. “Mais importante do que classificar o presente pelo gênero, é tentar achar o que essa criança mais gostaria de ganhar”, afirma Andrea.
Para ela, o essencial é observar a criança de verdade e descobrir o que desperta seu interesse. E, ao contrário do que parece, tirar o gênero da equação não torna a escolha mais difícil. Andrea explica que observar a fase, os interesses e a personalidade da criança funciona como um guia para encontrar presentes que façam sentido.
Como lidar com opiniões da família
Nem sempre todos os adultos ao redor da criança compartilham a mesma visão sobre brinquedos. Às vezes, um comentário fora de hora pode fazer a criança se sentir constrangida.
Luiz orienta que os pais intervenham com naturalidade, explicando que cada criança tem gostos próprios e que, na família, é respeitado o que ela gosta de brincar. “O presente não deve agradar quem dá, mas quem recebe. Se a ideia é mostrar que se importa e deixá-la feliz, a regra de ouro é respeitar o gosto da criança, mesmo que não seja o mesmo que o nosso”, reforça Andrea.
Identifique sinais de insegurança
Alguns sinais mostram que a criança pode estar evitando se expressar: deixar de pedir algo que antes gostava, esconder brinquedos ou evitar falar sobre preferências.
Nesses casos, vale oferecer mais opções, perguntar sobre interesses e, sempre que possível, brincar junto. Criar um ambiente seguro ajuda a fortalecer a confiança e a autoestima de forma natural.
Presentes que apoiam a expressão livre
No fundo, o assunto não é apenas sobre brinquedos, mas sobre infância e liberdade de escolha. “Quando deixamos que uma criança escolha o que desperta sua curiosidade, seja uma boneca, um carrinho, uma fantasia ou um kit de ferramentas, estamos dizendo, com gestos simples, que sua subjetividade é legítima e que ela não precisa se editar para ser aceita”, resume Mayra Cardozo, terapeuta e advogada com perspectiva de gênero.

6 sugestões de presentes criativos
Para mostrar que presentear sem rótulos é simples, aqui vão ideias que funcionam para qualquer criança:
- Kits de blocos de montar (madeira, Lego, magnéticos) — desenvolvem lógica, imaginação e concentração.
- Materiais de arte (aquarela, massinhas, carimbos, tintas, adesivos) — estimulam criatividade.
- Fantasia ou acessórios de personagem — capas, coroas, chapéus, asas ou máscaras.
- Livros ilustrados — ampliam repertórios e ajudam a criança a se ver de muitas formas.
- Quebra-cabeças e jogos de desafios — trabalham foco, paciência, raciocínio e cooperação.
“Em um dos primeiros Natais do meu filho, ele devia ter dois ou três anos, pediu pirulito roxo. Ele amava essa cor. Tive que fazer os pirulitos sob encomenda, pensando no sabor e até na embalagem”, Andrea Fornes, fundadora da consultoria Gift It.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1498, de 5 de dezembro de 2025). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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