Um vídeo publicado por Gabriela Lins, influenciadora digital, causou polêmica nas redes sociais ao mostrar a nova rotina da filha de 9 anos: agora, a menina passou a dormir na varanda do apartamento em que vivem, enquanto o antigo quarto virou escritório do e-commerce da família. A situação gerou críticas intensas na internet — e trouxe à tona questões importantes sobre o que é aceitável (ou não) quando se trata do bem-estar infantil.
No vídeo, Gabriela mostra detalhes da reforma: ela e o marido, que moram em um imóvel com apenas dois quartos, decidiram transformar o cômodo da filha em local de trabalho. Para adaptar a varanda como dormitório, investiram cerca de R$ 10 mil, com cortina de vidro, blackout, televisão e decoração.
Apesar da aparência aconchegante, muitos internautas apontaram que a nova configuração pode expor a criança a riscos físicos e emocionais, já que a varanda está ao lado da condensadora do ar-condicionado e não apresenta telas de proteção nas janelas — algo recomendado pelas diretrizes do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente).
Quarto na varanda gera críticas, mas especialista alerta para julgamentos precipitados
Após a repercussão negativa, Gabriela tentou justificar a decisão dizendo que “luxo de verdade é ter tempo em família” e que não vê problema em adaptar a estrutura do lar de acordo com as necessidades. Contudo, muitos enxergaram a escolha como sinal de negligência.
A advogada Josimara de Carvalho Santos, especialista em Direito de Família, analisou o caso com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Segundo ela, o artigo 4º do ECA assegura à criança o direito à dignidade, à convivência familiar e à proteção integral, enquanto o artigo 17 garante a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral.
Para a jurista, apesar de a decisão ser polêmica, não há indícios claros de que a mãe tenha agido com descaso. “A mãe não demonstrou intenção de negligência, mas sim a busca por uma solução possível dentro da sua realidade, zelando pela organização e conforto do filha”, explica Josimara em entrevista à AnaMaria.
Além disso, ela alerta para os julgamentos rápidos e agressivos nas redes sociais, que desconsideram as nuances de cada situação familiar. “O Direito da Criança exige responsabilidade, mas também empatia, especialmente quando a atitude revela esforço, e não descaso”, completa.
Crianças precisam de um espaço seguro para descansar e se desenvolver
Especialistas em desenvolvimento infantil defendem que, mais do que conforto visual, o ambiente de descanso de uma criança precisa oferecer segurança, privacidade e estabilidade emocional. O quarto na varanda, por mais bem decorado que esteja, deve atender a critérios básicos de proteção.
Nesse sentido, antes de qualquer mudança estrutural na rotina dos filhos, é fundamental avaliar os impactos a curto e longo prazo. Afinal, o quarto é o espaço em que a criança relaxa, brinca, estuda e, sobretudo, se sente protegida.
Portanto, mesmo que a transformação feita por Gabriela tenha sido pensada com carinho, é preciso considerar se ela garante todos os direitos assegurados por lei — e se realmente respeita o ritmo e as necessidades da criança.
Resumo: O caso da influenciadora que colocou a filha para dormir na varanda reacendeu discussões sobre os limites entre decisões familiares e o direito da criança ao bem-estar. Apesar da polêmica, uma análise jurídica aponta que a intenção de cuidado pode coexistir com escolhas questionáveis — e que empatia deve acompanhar qualquer debate sobre o tema.
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