Você gosta mais dele do que de mim!”. Quem tem irmãos certamente já disse ou ouviu essa frase. Para evitar conflitos, os pais garantem: “A gente ama todos igualmente”. Mas será que é isso mesmo? “Cada filho é concebido num momento da vida do casal”, diz a psiquiatra Vera Zimmermann, de São Paulo.
Isso, de acordo com a especialista, faz com que cada rebento ocupe um lugar diferenciado, pois ele representa uma determinada fase vivenciada. Por exemplo: a notícia da gravidez durante uma crise no casamento vai gerar projeções específicas na criança, enquanto a concepção num período de harmonia criará outra atmosfera.
“Isso não significa, porém, que uma será melhor do que a outra; apenas diferente”, diz Vera. Moral da história: não se culpe por se identificar mais com determinado filho nem fique triste se o seu irmão é o queridinho da mamãe. Para alívio de muitos pais e filhos, estudos têm mostrado que essa situação é bastante comum.
O que a ciência diz a respeito dessa questão
As relações de 384 pares de irmãos e seus pais foram observadas por três anos na Universidade da Califórnia (EUA). Constatou-se que seis em cada dez mães e sete em cada dez pais pendiam para um dos filhos. Para a psicóloga americana Judith Rich Harris, a razão do favoritismo está relacionada a afinidades. “Uma criança pode ser mais atraente do que outra por se parecer fisicamente com o pai ou com a mãe ou pelo comportamento”, afirma. É o caso da caçula que é “a cara do pai” ou da mais velha que “puxou o temperamento da mamãe”. “Um filho acorda bem-humorado de manhã, outro tem mais energia à noite; uma filha gosta de acompanhar os pais em reuniões de família, outra adora compras. Essas variações de perfil explicam a maior empatia entre um dos pais e uma das crianças, o que os leva a fazer mais programas juntos”, diz a psicopedagoga Lia Rosenberg, de São Paulo.
A confirmação de que os opostos se atraem
Em outras situações, o que gera a predileção são os opostos – os pais admiram na criança a característica que não possuem, mas adorariam ter. O curioso é que, desde pequenos, os filhos percebem que os pais estabelecem vínculos diferentes entre eles. E isso nem sempre incomoda.Segundo a pesquisadora americana Laurie Kramer, o problema é quando não existe razão aparente para a preferência. A ordem de nascimento também conta: na opinião da pesquisadora Catherine Salmon, os pais dão menos atenção ao filho do meio. “Isso só muda quando ele é do sexo oposto aos demais”, diz. De acordo com ela, é comum que o mais velho seja recompensado com privilégios e o mais novo conte com uma maior proteção por parte dos pais por ser o menorzinho.
Como agir
Quando os pais não conseguem deixar claro que os filhos têm espaços distintos em casa, o equilíbrio pode ser rompido. A autoestima nas alturas é um ganho dos favoritos. Comportamentos destrutivos e antissociais são efeitos colaterais registrados em crianças que se sentem rejeitadas. “Um filho que tem uma dificuldade pode gerar culpa e raiva nos pais. Isso causa superproteção ou, então, desprezo”, diz Vera. Mas aquele que se desenvolve bem também pode despertar emoções negativas nos pais, como o medo de errar. “Se as famílias trabalharem isso com delicadeza, abrindo espaço para a diversidade de vínculos e apostando na ideia de que todos são diferentes, mas ninguém é melhor, todos saem ganhando”, pondera Lia.
Recado para os pais
Três passos para garantir a harmonia da família:
✔ Respeite os diferentes pontos de vista dos filhos
✔ Siga critérios iguais para todos
✔ Distribua elogios e recompensas de forma equilibrada