O uso excessivo de redes sociais por adolescentes tem sido motivo de preocupação em muitos países, e agora é a França que acende um alerta oficial. Desde abril, o parlamento francês conduz uma investigação sobre os efeitos do TikTok na saúde mental de jovens, após dois casos de suicídio envolvendo meninas de 12 e 16 anos. As famílias acreditam que os conteúdos vistos na plataforma contribuíram para os episódios e entraram com ações judiciais contra a rede.
A comissão criada pelo governo francês pretende entender como o uso prolongado da rede social pode influenciar o bem-estar emocional e discutir formas de responsabilizar legalmente as plataformas digitais. Além disso, quer avaliar medidas como a exigência de verificação etária por biometria, maior transparência dos algoritmos e a criação de alertas visuais em conteúdos sensíveis.
Pressão emocional na era digital
Para o psicólogo Danilo Suassuna, doutor em Psicologia e diretor do Instituto Suassuna, redes como o TikTok funcionam como ambientes de risco quando não há controle. “Estamos diante de uma geração em desenvolvimento emocional, exposta a uma lógica de comparação constante, estimulação ininterrupta e validação imediata. Isso compromete a estabilidade emocional e favorece comportamentos impulsivos e autodestrutivos”, explica.
A discussão ganhou ainda mais força com a repercussão da série britânica Adolescência, da Netflix, que mostra como os algoritmos podem influenciar o estado emocional de jovens vulneráveis.
Relação entre tempo de tela e sofrimento psíquico
Estudos recentes reforçam a preocupação. Uma pesquisa publicada no Journal of Adolescence revelou que adolescentes que passam mais de três horas por dia em redes sociais têm 60% mais chances de apresentar sintomas de sofrimento psíquico, como ansiedade e depressão.
Segundo Suassuna, o cérebro adolescente é especialmente vulnerável aos estímulos rápidos oferecidos por essas plataformas. “Os algoritmos foram criados para prender a atenção, mas o cérebro adolescente está em formação e é especialmente vulnerável a recompensas rápidas e estímulos de dopamina. Isso cria um ciclo viciante que reduz a capacidade de concentração, aumenta a impulsividade e favorece a autoimagem distorcida.”

Debate necessário também no Brasil
Para o especialista, o debate francês pode inspirar mudanças em outros países. “É urgente refletirmos sobre os limites da liberdade digital quando ela passa a interferir diretamente na saúde pública. O TikTok, assim como outras plataformas, precisa responder por seu papel na construção de conteúdos e no desenho de algoritmos que, muitas vezes, impulsionam aquilo que é nocivo”, afirma.
Ele destaca ainda que a educação digital deve caminhar junto com a regulação: “Cuidar da mente de adolescentes na era digital é também um compromisso coletivo com o futuro.”
Sinais de alerta para pais e educadores
Enquanto as leis não mudam, o cuidado começa dentro de casa. Danilo Suassuna alerta que sinais como isolamento, mudança repentina de humor, queda no desempenho escolar e comentários autodepreciativos não devem ser ignorados. “O diálogo constante e o uso consciente da tecnologia são ferramentas fundamentais na prevenção”, reforça.
Resumo:
O parlamento francês abriu uma investigação sobre o impacto do TikTok na saúde mental de adolescentes após casos de suicídio. Especialistas alertam para os riscos do uso excessivo das redes e defendem regulação, orientação familiar e educação digital como formas de proteção.
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