Quem é pai sabe que basta o filho nascer para surgirem as dúvidas, uma atrás da outra. Um exemplo é: “Será que ele precisa de um irmãozinho?” Na maioria das vezes, essa insegurança surge após pressão de gente próxima, dizendo que a criança vai crescer mimada e egoísta se não tiver companhia. Mas será que não tem saída? Todo filho único vai ser assim e ponto? Calma, a coisa não é bem assim. A seguir, confira a opinião de Isabel Kahn Marin, professora de psicologia da PUC-SP, sobre esse assunto.
Ele será uma pessoa difícil?
Nem sempre, mas não há como negar que os filhos únicos tendem a ser um pouco mais mimados do que os demais. Isso porque uma das experiências mais importantes (e difíceis) na infância é dividir os espaços, os brinquedos e até a atenção dos pais.
E, sem irmãos por perto, o pequeno não precisa abrir mão de muita coisa, afinal costuma ter sempre o que quer. Mesmo que não precise dividir no dia a dia, seja firme quando for colocar limites. Além disso, estimule a convivência com outras crianças.
Será mais tímido que os outros?
Isso pode acontecer, principalmente se os pais não têm o costume de expor a criança a situações diferentes daquelas que experimentam em casa. É importante brincar em lugares novos e fazer mais amigos. Um passeio no parquinho, por exemplo, é um estímulo para que se soltem. Outro fator que pode contribuir para que a criança seja um pouco mais retraída – e não tem nada a ver com ter irmãos – é a liberdade que ela tem para se expressar. Alguns pais costumam responder tudo pelo filho ou não têm paciência para esperar até que ele consiga dizer o que deseja. Isso pode deixá-lo desestimulado e com um comportamento
um pouco mais quieto. Tudo vai depender da criação que receberá da família.
O que fazer para não errar
Os pais devem tomar providências para que o pequeno aprenda a lidar com as frustrações desde cedo. Por exemplo: se ele chora e pede brinquedos novos com muita frequência, não atenda às suas vontades sempre. Da mesma forma, se quer passar o tempo todo no colo durante um passeio, tente negociar e fazê-lo andar um pouquinho.
Às vezes, os adultos sentem dificuldade em estabelecer e sustentar esses limites porque ficam com pena. Esse sentimento costuma ser ainda maior quando a criança é filha única, já que praticamente todas as atenções são voltadas para ela. Mas vale a pena tentar ser firme. Seu filho agradecerá no futuro.
Outro hábito que pode ajudar nesse processo é promover encontros entre ele e outras crianças. Só a escola pode não ser o suficiente para estimular a generosidade e a solidariedade, por isso o ideal é chamar os coleguinhas para casa ou levá-lo para brincar com primos ou filhos de amigos que estejam mais ou menos na mesma faixa etária.
É importante e também libertador ter sempre em mente que o que vale mesmo é o tipo de criação que vocês dão. Se os pais tendem a mimar, provavelmente farão isso com um, dois ou três filhos.
É comum cobrar demais?
Em uma família grande, as expectativas são divididas entre várias pessoas: se você tem três filhos, por exemplo, vai exigir um pouquinho dos três.
Em compensação, com um só a coisa muda. Ser presente e educado, ter boas notas na escola, conseguir um bom desempenho nas atividades, ajudar em casa… Tudo isso acaba parando nas costas do filho único. E, graças a tanta pressão, ele pode acabar se cobrando demais ou se sentir inseguro por achar que não conseguirá corresponder ao que os pais esperam dele.
Refletir profundamente sobre essas questões e buscar controlar as próprias expectativas são atitudes saudáveis para os pais de um filho só. Se sentir que não consegue melhorar isso sozinha, busque a ajuda de um psicólogo.
Devemos ou não ter outro?
É comum ouvir a tal pergunta dos amigos e parentes: “E o segundo, vem quando?” Em alguns casos, até a própria criança pode pedir um irmãozinho para os pais. No entanto, essa decisão cabe somente ao casal. É preciso avaliar a disponibilidade dos dois de cuidarem e de educarem mais uma criança, além das condições financeiras e, é claro, a vontade de ambos – independentemente das cobranças externas.