Caso alguém lhe diga “o que aconteceu antes de você completar seis anos interfere até hoje na sua maneira de pensar e se relacionar”, você acreditaria? Pode ser meio difícil comprar essa ideia, afinal, são poucas (e às vezes confusas) as memórias que cultivamos sobre essa fase. Mas a ciência está aí para comprovar: neste período – chamado de primeira infância – acontecem processos importantíssimos para o nosso desenvolvimento, e a maneira como eles são conduzidos exerce influência em todas as outras etapas da vida. Cientes dessa informação, o que podemos fazer para tornar os primeiros anos dos nossos filhos e netos mais
proveitosos? A resposta é mais simples do que se imagina. Dá uma olhada!
Memória não é tudo...
Se não nos lembramos de algo é porque aquele acontecimento não foi tão importante, certo? Nem sempre. Quando se trata dos bebês, esse conceito está errado. “A memória é só um dos atributos do cérebro. Nele há também as funções cognitivas, sensoriais e emocionais, que começam a ser construídas durante a primeira infância”, explica Anna Chiesa, consultora da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Ou seja, mesmo que depois do crescimento fique mais difícil acessar as lembranças daquela época, foi lá que começamos a construir as bases do nosso aprendizado e da nossa vida afetiva.
Crescimento X Desenvolvimento
Existe uma diferença muito importante entre esses dois conceitos estabelecidos. O crescimento é bem mais objetivo: a criança está pesando tantos quilos, medindo tantos centímetros… Enfim, é fácil de observar e até mesmo os nossos amigos e parentes ajudam nessa missão. “Olha como você cresceu!”, por exemplo, é o tipo da frase que as crianças (e os pais delas também) mais costumam escutar. Já quando se trata do desenvolvimento, a questão é mais complexa de ser observada, mas tão importante quanto o crescimento! “Afinal, é também por meio dele que os pequenos podem sair de situações de dependência para conquistar uma certa autonomia”, detalha a especialista. Ficar com o corpo firme o suficiente para sentar e rolar, aprender várias maneiras de se expressar e recusar ou demonstrar interesse pelos objetos são alguns exemplos desse segundo processo.
É brincando que se aprende
Em meio à correria da vida adulta, pode ser difícil para os mais velhos lembrarem a importância da brincadeira. “Mas é por meio do lúdico que as crianças prestam atenção ao mundo que as cerca”, reforça Anna. Ela funciona como um fio condutor para que os pequenos explorem o ambiente. Por exemplo: passeando no carrinho, o bebê sente o vento tocando sua pele. A sensação desperta nele um tipo de reação. Quando ele percebe as folhas se mexendo e fazendo um determinado tipo de som, outras sensações são desencadeadas. “Se houver um adulto ao seu lado para comentar, facilitar e estimular esses novos aprendizados, a experiência se torna mais rica”, completa.
Ingredientes insubstituíveis
Segundo estudiosos da infância, a ideia de afeto engloba a chamada “interação humana positiva”, que é regida pelo vínculo e apego. O primeiro deles diz respeito à preocupação dos adultos com as crianças. Logo, mesmo quando os pequenos não estão próximos, existe nos mais velhos a responsabilidade dos cuidados. Trata-se de uma maneira de demonstrar a importância da criança. Percebendo essa atenção desde o nascimento, os pequenos estabelecem seus próprios vínculos, que surgem junto ao apego. Os responsáveis passam a ocupar um importante papel, pois transmitem segurança. E esse tipo de relação só se estabelece com aqueles que estão presentes no dia a dia, sejam eles pais, cuidadores ou educadores. Enfim, para um desenvolvimento satisfatório, os adultos devem ser disponíveis e participativos na educação infantil.
Tudo é aprendizado!
“Cuidar de um recém-nascido exige esforço, energia e abdicação”, diz Anna. Isso, claro, não acontece de um dia para o outro! A maternidade constrói-se momento a momento e a mãe deve receber apoio da comunidade (familiares, governo…) para trabalhar seu lado afetivo mais profundamente.