Os meninos gostam de carros e as meninas de princesas. Eles podem praticar esportes e elas devem brincar de panelinha. Roupas azuis, cinza e pretas caem bem neles. As versões estampadas e brilhantes combinam com elas.
Eis alguns exemplos de estereótipos de gênero estabelecidos na infância pelos pais, professores, amigos e a sociedade em geral e que podem ser prejudiciais no decorrer da vida. Saiba o que os terapeutas pensam sobre isso.
ENTENDA GÊNERO
O que determina se somos do sexo feminino ou masculino é a natureza. Já a maneira como nos comportamos e nos vestimos aprende-se ao longo de nossa vida.
Isto é, as diferenças entre homens e mulheres não são naturais, mas influenciadas pelos padrões histórico-culturais. Sendo assim, o gênero significa uma mistura de como a pessoa se percebe e se expressa. Em geral, classificado entre os conhecidos masculino e feminino.
A IMPORTÂNCIA DA IGUALDADE DE GÊNERO
Primeiro, tenha em mente: cada criança possui desejos e necessidades que estão além do gênero (feminino e masculino).
“Os pais capazes de particularizar aquilo que é singular em cada um dos seus filhos e dar suporte para exercerem tais diferenças criam indivíduos mais conscientes de seus dons”, esclarece Priscila Segal, psicanalista no Espaço PSInfantil (RJ).
Para a psicóloga Simone Ottoni, o maior benefício está relacionado ao fato de ter a liberdade para construir a própria identidade, sentindo que pode ser aceito e continuar amado pelos pais em qualquer circunstância.
“Ainda há um grande caminho a ser percorrido, mas quanto mais famílias passarem a educar crianças com igualdade de gênero, maior será a contribuição para a formação de uma sociedade menos machista”, acrescenta a psicóloga.
PANELINHAS PARA AS MENINAS E CARRINHOS PARA OS MENINOS
Nenhum brinquedo tem gênero. Os adultos fazem a distinção do que seria um brinquedo ideal para meninas e meninos e, por isso, vemos essa divisão nas lojas.
Mas a verdade é que, ao brincar, a criança explora seu mundo interno e encontra uma forma de lidar com as diferentes emoções e conteúdos absorvidos do mundo real.
“Quando um menino pega uma boneca, por exemplo, experimenta cuidar do outro. Impedir que os pequenos brinquem com o que desejam é não permitir entrarem em contato com o que precisam explorar e conhecer”, afirma Simone.
“VAI VIRAR HOMOSSEXUAL?”
Não! Inicialmente, a criança não entende que há diferença entre os gêneros. Só a partir dos 4 ou 5 anos de idade elas começam a perceber as diferenças sexuais. Além disso, a orientação sexual é multifatorial, ou seja, além da genética, interage com fatores psíquicos e sociais. Isso comprova que não se trata de uma escolha ou apenas de identificação: a questão determinante é complexa e repleta de fatores.
“Quando os pais impõem à criança agir de acordo com seu gênero biológico e determina como deve ser, estão mostrando que ela só pode se desenvolver daquela forma. Porém, uma criança criada dessa maneira, ao crescer e se perceber interessada por alguém do mesmo sexo, pode ter muita dificuldade em aceitar-se. Muitos acabam tentando se “ajustar” ao que é esperado para eles e vivem uma grande angústia e tristeza”, diz a psicóloga.
Assim, ao se perceber “diferente”, pode ser traumático e acarretar sérias consequências de adoecimento e até mesmo suicídio.
O QUE OS OUTROS PENSAM…
… não importa! A criança deve vestir o que a faz se sentir mais confortável, para ter liberdade de brincar. Cores não são relacionadas ao gênero, essa é mais uma característica adotada de forma errônea. Inclusive, o uso de peças coloridas e estampadas é até recomendado para os meninos, pois garante um ar alegre.
O esporte é saudável e muito recomendado. Praticar lutas, por exemplo, não é só para os garotos, e sim uma excelente opção para crianças mais agitadas. Afinal, além de descarregar a energia, aprendem a canalizar a raiva e não sair agredindo os colegas.
“Infelizmente, muita gente se preocupa mais com o que os outros vão pensar na hora de fazer o que tem vontade. Ter autoestima elevada é algo que, com certeza, garante uma vivência bem mais leve. Poi o que importa realmente é sentir-se bem de verdade”, finaliza Simone.