A recente decisão da Austrália de adotar a proibição do uso de redes sociais por menores de 16 anos mexeu com o mundo inteiro — e não à toa. Além de colocar as crianças e tecnologia no centro da conversa, a medida reacende uma preocupação que já vinha crescendo: como garantir a saúde mental infantil em um ambiente digital cada vez mais acelerado, competitivo e, muitas vezes, tóxico.
Segundo o governo australiano, a proibição busca proteger crianças de conteúdos violentos, padrões irreais de beleza, sexualização precoce e pressões sociais que podem deixar marcas profundas. A decisão ganha ainda mais destaque porque, enquanto isso, o Brasil se prepara para implementar novas normas de uso das plataformas, previstas para março de 2026.
Assim, embora cada país siga seu próprio caminho, o assunto une pais, educadores e especialistas ao redor do planeta: como equilibrar inovação e proteção?
Crianças e tecnologia: o que a ciência já sabe
De acordo com a neurocientista Telma Abrahão, especialista em desenvolvimento infantil, a medida australiana era urgente e necessária. Ela destaca que não se trata de demonizar o digital, mas de compreender limites biológicos e emocionais. “O cérebro de uma criança não está preparado para lidar com a enxurrada de estímulos, comparações, violência e padrões inalcançáveis que as plataformas entregam diariamente”, explica.
E, de fato, diversos estudos reforçam essa preocupação. Uma pesquisa norte-americana com mais de 10 mil adolescentes revelou que quem começa a usar celular antes dos 12 anos apresenta risco maior de ansiedade, depressão, dificuldade de sono e maior vulnerabilidade a comportamentos de risco.
Telma compara o cenário a entregar um carro a alguém que não sabe dirigir. Ou seja, embora a tecnologia ofereça benefícios, o uso sem preparo pode causar danos profundos. Por isso, quando discutimos crianças e tecnologia, precisamos olhar para dados concretos, não para suposições.
Saúde mental infantil: o que realmente está em jogo
Quando falamos de saúde mental infantil, estamos falando de vínculos, autoestima, autonomia e pertencimento — pilares que se constroem no dia a dia, em interações reais e afetuosas. “Proteger a infância significa garantir tempo para que o cérebro se desenvolva, fortalecer vínculos reais e permitir que as crianças construam referências internas de segurança”, diz Telma.
Ou seja, embora os likes ofereçam uma sensação temporária de aprovação, eles não substituem o afeto, a convivência e o olhar presente dos adultos. Assim, ao analisar a proibição do uso de redes sociais, percebemos que a discussão vai muito além de restringir telas: trata-se de preservar um período da vida que não volta — e que molda a vida adulta em vários aspectos.

O que podemos esperar dos próximos anos
A discussão sobre a proibição do uso de redes sociais deve crescer no Brasil, especialmente porque o país prepara novas regras para 2026. E, à medida que outros governos avaliam medidas semelhantes, entendemos que o tema não é modismo — mas uma consequência natural de uma sociedade hiperconectada.
Portanto, independentemente da legislação, a reflexão já começou. Como queremos que nossas crianças vivam? O que estamos oferecendo a elas? E, principalmente: estamos priorizando a saúde mental infantil ou deixando que o mundo virtual ocupe espaços que deveriam ser nossos?
Resumo: A decisão australiana de restringir o acesso de menores às redes reacende o debate sobre crianças e tecnologia e seus impactos emocionais. Especialistas apontam que o desenvolvimento infantil exige limites claros e presença afetiva. Com novas normas previstas no Brasil, o tema deve ganhar força nos próximos anos. A proteção da infância, no fim das contas, depende de escolhas coletivas e familiares.
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