Todos passamos por aquela fase em que achamos que sabemos de tudo, onde desejo de liberdade e pertencimento convive com a busca por identidade e autonomia. Como ilustrado na série ‘Adolescência’, da Netflix, esse desejo de se encaixar pode ter consequências devastadoras quando somado ao ambiente não supervisionado.
Na série, Jamie (Owen Cooper) é um adolescente de 13 anos acusado de matar uma colega de classe, movido por ideias misóginas. Embora essa seja uma obra ficcional, ela retrata as consequências dos algoritmos das redes sociais, que capturam a atenção de jovens com conteúdos impróprios e, muitas vezes, violentos. Deixar adolescentes vulneráveis navegando sem filtro pode resultar em situações graves, como o cyberbullying. “Comentários ofensivos, assédio virtual e contato com desconhecidos são os principais riscos enfrentados online”, explica Mariana Kobayashi, cofundadora da Tech do Bem.
Por onde começar a proteção digital?
O primeiro passo para enfrentar os perigos que moram na web é o diálogo aberto: falar sobre segurança digital com jovens deve ser um convite à construção conjunta de regras. “O mais importante é que esse diálogo aconteça em um ambiente de escuta e respeito mútuo, onde o adolescente não se sinta controlado, mas protegido”, orienta Marília Scabora, psicóloga e fundadora da Tribo Mãe.
A psicóloga destaca que regras prontas não são uma boa solução. Em vez de impor limites rígidos, os pais podem convidar o jovem a refletir: “Quais riscos você acha que existem na internet?” ou “Como você se sentiria se alguém compartilhasse algo seu sem permissão?”.
Além do diálogo…
Importante destacar que, de acordo com o guia para uso saudável de telas por crianças e adolescentes, publicado pelo Governo Federal, a orientação é que crianças de até 12 anos não tenham smartphones próprios. Portanto, a supervisão na pré-adolescência deve ser próxima, ganhando flexibilidade conforme o jovem demonstra mais responsabilidade.
“O segredo está em construir um vínculo onde o adolescente sinta que pode contar com os pais, inclusive quando errar. Afinal, a proteção mais eficaz vem do vínculo, não da vigilância”, reforça Marília.
Aplicativos de controle parental funcionam como ferramentas de suporte à educação digital, e não como mecanismos de vigilância. “Essas tecnologias ajudam os pais a identificar comportamentos de risco, como excesso de tempo de tela, acesso a conteúdos impróprios ou interações perigosas, sem necessariamente expor conversas privadas ou invadir a intimidade do jovem”, explica Kobayashi.
Como equilibrar proteção e autonomia?
Existe uma linha tênue entre observar atentamente o comportamento do seu filho online e invadir a sua privacidade. “Quando o controle parental é exercido de forma arbitrária, sem diálogo, é natural que o filho se sinta vigiado e tenha a necessidade de esconder certas coisas”, diz Luiz Mafle, psicólogo e Doutor em Psicologia pela PUC Minas e Universidade de Genebra.
Por outro lado, quando há uma negociação prévia e a construção de regras em conjunto, isso pode, na verdade, fortalecer a comunicação, sem a quebra de confiança entre pais e filhos.
Por isso, o uso dessas tecnologias deve ser transparente. Muitas ferramentas oferecem modos de supervisão que mostram categorias de uso, porém, sem revelar detalhes pessoais. Diversos aplicativos permitem que o adolescente saiba exatamente o que está sendo monitorado.
Criar um ambiente de confiança, com escuta ativa e apoio, é o que realmente protege os filhos em meio a tantos riscos digitais. E essa missão começa dentro de casa — com afeto, paciência e boas conversas.
Recomendações dos especialistas:
- Qustodio: oferece relatórios detalhados, bloqueio de aplicativos, filtros de conteúdo e monitoramento do tempo de tela.
- Google Family Link (Android/iOS): permite definir limites de uso, ver a localização do dispositivo e aprovar downloads.
- Bark: usa inteligência artificial para identificar sinais de risco em mensagens, e-mails e redes sociais.
- Norton Family: oferece recursos de monitoramento e filtragem, além de ferramentas para ensinar sobre segurança online.
- AirDroid Parental Control: permite monitorar e gerenciar remotamente os telefones celulares Android das crianças.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (18 de abril). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.