A segunda gestação é tão encantadora quanto a primeira, mas requer muita habilidade da família para não gerar nenhum desconforto no filho mais velho. Lidar com alegria, curiosidade, insegurança e ciúmes do até então filho único é bem comum nessa fase.
Com a chegada de um irmãozinho, é comum perceber comportamentos de oposição dos primogênitos. Um estudo realizado pelo Centro para Crescimento e Desenvolvimento Humano, da Universidade de Michigan (USA), comprova: a partir do nascimento do bebê, os filhos mais velhos se tornaram travessos, exigentes ou teimosos, causando estresse considerável nas mães.
Por outro lado, apresentavam interesse legítimo no novo irmão, demonstrando vontade de ajudar no cuidado do bebê. A professora de inglês Aline de Souza Santana, de 39 anos, mãe de Fernando, de 9, e de Bruno, de 5, conta que vivenciou todas essas mudanças.
Quando o Fernando tinha 3 anos, ela descobriu sua segunda gestação. A princípio, o garotinho reagiu bem, demonstrando estar feliz e ficou a gravidez toda dizendo que ia ter uma irmãzinha, uma menina que ia se chamar Mariana.
No quinto mês da gravidez, a professora descobriu que esperava outro menino. Então, a história mudou. Fernando se distanciou, chegando a dizer que detestava a mãe. “Ele ficou muito bravo, parou de beijar minha barriga depois que eu contei que não era uma menina”.
A educadora parental Jéssica Africano, neurocientista especialista em medicina do sono infantil e comportamento, orienta que é importante entender que a chegada do primeiro filho traz muitas novidades para toda a família e, com isso, ele crescenum ambiente onde tudo é só para ele.
“Quando chega o irmão mais novo, ele se sente perdido, frustrado, é como se vivesse um luto, porque perde os pais que antes eram só dele, e precisará aprender a dividir tudo a partir de então”. Portanto, a preparação antecipada para essa mudança é fundamental para evitar problemas psicológicos que podem afetar a criança para sempre.
ACOLHIMENTO
Jéssica explica que a criança precisa se sentir acolhida, visto que ainda não tem maturidade para lidar com mudanças e frustrações – o que acaba sendo muito desafiador. Falar de forma racional e lógica não é eficiente. “Eles precisam ser inseridos nesse contexto novo de forma lúdica, e os pais precisam de ferramentas para ajudá-los nesse processo de forma natural”.
“Eu me desdobrava para dar atenção aos dois, mas tinha hora que eu acabava perdendo a paciência”, diz Aline. Para ela, a maior dificuldade foi conciliar o ciúmes de Fernando, que, aos poucos, foi aprendendo a dividir espaço com seu irmãozinho mais novo.
MUDANÇA DE FOCO
Segundo a educadora, é importante também evitar pedir para que a criança faça silêncio para o bebê dormir. O que deve ser feito é direcioná-lo para atividades diferentes, visando mudar o foco. Outra tática eficiente é pedir ajuda do irmão mais velho nas tarefas básicas, como pegar uma toalha para o banho ou chamar para fazer carinho no bebê. “Os pais devem sempre evitar tirar algo do filho mais velho em prol do filho mais novo, pois isso gera distanciamento e disputas que irão repercutir ao longo de toda a infância”, alerta.
ROTINA
Em contrapartida, vale explicar por meio de histórias que o irmãozinho será seu melhor amigo e que, juntos, eles irão se divertir muito, e serão ainda mais felizes. Além disso, a especialista lembra que as mudanças na rotina do pequeno devem ser feitas antes do nascimento do segundo filho. “Por exemplo, se a mãe é a pessoa que o coloca na cama, é importante que logo que souber da gravidez, o pai ou outro cuidador já faça essa tarefa também para evitar que ele sinta que isso mudou só porque o irmão nasceu”, destaca.