É dos 8 aos 12 anos que acontece o maior desenvolvimento do cérebro de um ser humano. É dos 8 aos 12 anos que o corpo muda em velocidade assustadora (da voz às espinhas) e que boa parte das meninas menstrua pela primeira vez.
É dos 8 aos 12 anos que quase todos os pais dão o primeiro celular ao filho e que você deixa de ter uma criança pequena em casa, mas ainda não tem um adolescente.
Como lidar, afinal, com tantas mudanças em tão pouco tempo? Em Pré-Adolescente: Um Guia para Entender Seu Filho (Ed. Globo, R$ 29,90), Daniela Tófoli, jornalista especializada em família, mostra como encarar de forma tranquila essa fase tão rica e desafiadora.
A CULPA É DO CÉREBRO!
Você diz um não e ele te deixa falando com as paredes. E ainda bate a porta do quarto. Diferentemente do que a maioria acredita, isso não é culpa dos hormônios.
Seu filho faz isso por conta do cérebro dele, que está trabalhando a mil, mas ainda não se formou totalmente – é nessa fase, aliás, que acontece o seu maior desenvolvimento.
Embora o processo de evolução ocorra mais ou menos na mesma cronologia para todos, o resultado final vai depender muito mais do que aquele indivíduo viveu. Exemplo: um pré-adolescente que não pratica exercícios físicos pode enfrentar dificuldades para executar essa atividade.
Estabelecer laços afetivos, criar vínculos e ter o suporte da família também auxiliam no adequado desenvolvimento cerebral.
QUAL É O PAPEL DOS HORMÔNIOS?
O hormônio mais importante nessa fase é o sexual e ele, por si só, não justifica os comportamentos típicos de um pré-adolescente, como se acreditava até pouco tempo atrás. Pesquisas atuais comprovam que a relação entre os níveis hormonais e as mudanças de comportamento são quase inexistentes.
E isso significa que um jovem pode alterar seu modo de agir por conta de baixa autoestima e da influência dos amigos típica dessa fase, mas não pelas mudanças químicas que estão ocorrendo em seu organismo.
O PODER DA AUTOESTIMA
Como as crianças têm desenvolvimento egocêntrico e acham que são o centro do mundo, elas não costumam ter problemas de autoestima. À medida que vão entrando na pré-adolescência, entre 8 e 10 anos, porém, elas saem dessa posição e começam a se comparar, a fazer julgamentos e reflexões de que antes não eram capazes.
“Com a nova rotina, muitos precisam de um tempo para se adaptar e, enquanto isso, podem ver suas notas caírem. O que os pais precisam entender é que não é rebeldia. O ideal é ajudá-lo a se organizar, a entender o novo processo, tentar acolhê-lo com paciência e estímulo”, afirma Daniela.
“ELE NÃO LARGA O CELULAR!”
Ainda que na sua casa o controle do uso de telas (da TV ao videogame) seja rigoroso, essa geração nasceu conectada. Jogos educativos e leituras no computador são mais do que bem-vindos.
Mas, para que todo esse lado bom da tecnologia possa ser aproveitado, é preciso ensinar autocontrole. “Se o seu filho aprende a mesclar diversas atividades, não perdendo a noção do tempo ou se dedicando exclusivamente ao mundo digital, é sinal de que ele está em um bom caminho.
Além disso, acompanhar a vida virtual do pré-adolescente, como se faz na vida real, é muito importante. Por isso, seja presente, oriente e deixe claro os limites: quais sites podem ser acessados, quando os aparelhos podem ser usados, onde eles devem ficar e quanto tempo de jogos é liberado por semana”, aconselha a autora do livro.
O BULLYING
Até há pouco tempo, ter um apelido de mau gosto na escola ou ser perseguido por um grupo de garotos que não ia com a sua cara era apenas uma fase ruim.
Mas, no início do século, pesquisadores começaram a perceber a relação entre depressão e suicídio com agressões físicas ou morais, sofridas pelos jovens, e passaram a alertar médicos e educadores para o que hoje é conhecido como bullying.
“As agressões afetam não só a autoestima de quem é agredido, mas também o processo de ensino-aprendizagem das vítimas e dos agressores. Enquanto a vítima fica cada vez mais retraída e com medo de se expor para tirar uma dúvida na aula, por exemplo, o agressor tem dificuldade de concentração e maior porcentagem de reprovação”, diz.
Portanto, como pai ou mãe, não hesite em pedir ajuda da escola, de um psicólogo ou de uma família que já passou por isso, caso a situação passe dos limites e esteja mudando o jeito de ser do seu pré-adolescente.
PRÉ-ADOLESCENTE NAMORA?
Antes de tudo, é preciso ficar bem claro que nenhuma conversa estimula a iniciação sexual de ninguém, portanto, falar sobre sexo não vai fazer seu filho fazer sexo.
Aliás, a idade média da primeira relação sexual no Brasil é de 15 anos. Antes disso vem o primeiro beijo, a masturbação e dúvidas, que nem sempre são verbalizadas pelos jovens.
“Quanto mais naturalmente você falar sobre o assunto, mais o seu filho vai encarar todos esses temas de forma leve, sem medos, sem curiosidade exagerada e sem tentar buscar informações em outras fontes.
E, ainda, se sentirá à vontade para sempre voltar a consultar você caso queira uma nova informação. A mesma lógica vale quando o assunto é amor: deve-se falar de respeito, confiança e entrega, mas sem passividade nem romance em excesso”, finaliza Daniela.