Se continuar me respondendo, vou tirar seu celular”: frases como essa são comuns na sua casa? Talvez seja o momento de repensar a forma como temos lidado com as crianças e adolescentes. Apesar de o castigo ser um recurso usado por muitos pais, nem sempre ele é a melhor maneira de resolver as situações de desentendimento na família. Isso porque, nos primeiros anos de vida, temos uma forma diferente de nos relacionar com o mundo – e, muitas vezes, nos confundimos com as noções de certo e errado. Por isso, o que os adultos chamam de arte ou travessura, para eles não passa de uma atitude normal, motivada por uma curiosidade. “E se são castigados sem ter a chance de explicar as razões pelas quais agiram daquela maneira, podem se sentir revoltados”, explica Karin Kenzler, psicóloga e orientadora educacional do Colégio Humboldt. Entenda por que é melhor evitar os castigos (e quando eles podem funcionar):
Não concordou? Converse!
Digamos que você tenha dito para a criança que ela não poderia assistir a um determinado desenho por não considera-lo próprio para a sua idade – mas ainda assim ela não te obedeceu. Antes de tirar de vez o seu acesso à televisão, pergunte por que ela agiu assim. Pode ser que todos da sua sala estejam assistindo e que ela não queira ficar de fora das conversas, por exemplo. Compreendendo o seu lado da história, você pode expor as razões pelas quais prefere que ela não assista, ressaltar que vocês tinham feito um combinado – e como é ruim quando alguém não cumpre com a palavra. Se o episódio se repetir, novamente tentando entender seus motivos, dê uma advertência. “Só se esses dois recursos não funcionarem é que se pode partir para a bronca e para o castigo”, aconselha a profissional. Mas geralmente funciona antes…
Foco no que realmente importa
Por mais que se sinta estressada diante das situações de desobediência, lembre-se de que educar uma criança não é o mesmo que medir forças com ela. A intenção ao educar é que o pequeno saiba lidar com as frustrações para enfrentar situações mais complexas no futuro. Problemas no trabalho, nas finanças ou na vida amorosa fazem parte da vida adulta e a ideia é que elas se sintam seguras e maduras emocionalmente para lidar com tudo isso. Respire fundo nos momentos de irritação: se precisar, espere a raiva passar antes de tomar qualquer atitude. E se achar que o castigo é realmente necessário, opte por algo que faça sentido. Por exemplo, de nada adianta deixá-la sem videogame porque não arrumou o quarto. É preciso que uma coisa seja consequência da outra. Se ela quebrou um vaso antigo da avó, leve-a com você para a loja onde será feito o conserto. Se magoou o irmão, pensem juntos em uma forma de reparar o ocorrido, como fazendo uma carta ou um desenho para ele.
Adolescentes: eles dão nó em pingo d’água!
Imagine que seu filho peça para ir a uma festa e, logo de cara, você perceba que se trata de um ambiente impróprio para sua idade. Sem se demorar nas explicações, você o proíbe de ir – afinal, a situação é absurda. Algumas semanas depois, você descobre que, no dia em que ele afirmou que estaria na casa de um amigo fazendo um trabalho da escola, na verdade, estava na tal festa. É claro que isso gera revolta! Para evitar que ele se meta em confusões desse tipo, tente agir de uma forma diferente da próxima vez. Primeiro, demonstre interesse pelo evento. Pergunte como ele pretende ir e voltar, quem estará lá, se haverá bebidas alcoólicas ou não. Depois, conforme for respondendo, explique os motivos que te preocupam: a ausência de um adulto, o grau de violência naquele bairro, o horário avançado… “Ainda que ele não dê o braço a torcer e saia batendo as portas, é provável que no íntimo dê razão para os pais e não tente burlar as regras por questões de segurança”, complementa Karin.
Pense bem antes de falar!
Usar as ameaças como um recurso corriqueiro para corrigir o comportamento dos filhos pode não ser a melhor estratégia. Afinal, isso faz com que a credibilidade dos mais velhos seja abalada. Por isso, pense duas vezes antes de ameaçar ou mesmo estabelecer um castigo longo demais: é improvável que consiga manter a criança afastada de uma determinada atividade por seis meses, por exemplo. Afinal, uma vez que você estabeleceu uma regra, o ideal é que ela seja cumprida.