Em nosso dia a dia, além das palavras, usamos outras maneiras para nos comunicar: postura, expressões faciais e olhares são algumas delas. A birra é uma forma de expressão – e, a gente sabe, também um dos momentos mais desafiadores da infância.
Para a psicóloga Marília Scabora, fundadora da Tribo Mãe, esse comportamento não deve ser visto como uma “falta de educação” ou tentativa de manipulação. “Quando a criança grita, chora ou se joga no chão, ela está dizendo: ‘isso é demais pra mim e eu não sei lidar com isso sozinho’”, explica em entrevista à AnaMaria.
Por que a birra aparece?
Entre 1 ano e meio e 4 anos, as birras tendem a ser mais frequentes. É justamente nessa fase que a criança começa a buscar autonomia, mas ainda não tem maturidade emocional ou linguística suficientes para lidar com frustrações. “Ela quer decidir, explorar, ser compreendida, mas o mundo ainda não acompanha esse desejo. É como se estivesse entre dois mundos: o do bebê que precisa do adulto e o da criança que quer se afirmar”, afirma Marília.
Crianças que conseguem se comunicar melhor, seja por palavras ou gestos, podem apresentar menos crises, mas isso não elimina a birra. “Mesmo crianças muito comunicativas ainda podem fazer birra, porque ela não é só falta de linguagem, é imaturidade emocional”, complementa a psicóloga.
Aprenda a “ouvir” a birra
Na maioria das vezes, a birra indica uma necessidade não atendida: cansaço, fome, frustração, desejo de conexão ou a tentativa de sentir algum controle sobre a situação. “Um ‘não quero essa meia!’ pode significar ‘estou com calor’, ‘estou irritado’ ou ‘preciso que você me olhe com calma agora’”, explica Marília.
Como agir nessas horas
- Respire: a birra não é um ataque pessoal, é desorganização emocional da criança.
- Abaixe-se à altura dela e fale com calma. sua serenidade ajuda a regular as emoções do pequeno.
- Nomeie os sentimentos: “você queria muito brincar mais e ficou bravo porque acabou, né?”
- Mantenha limites com carinho: acolher não significa ceder sempre. É possível dizer “entendo, mas isso não pode” de forma amorosa.
- Evite longas explicações no auge da birra: o cérebro da criança ainda não está pronto para racionalizar; espere passar a crise para explicar.
- Cuide de você: adultos esgotados perdem a paciência mais rápido.
Sinais de alerta incluem crises muito intensas, frequentes ou duradouras, comportamento autoagressivo ou agressão a outros, regressões importantes ou isolamento. Nesses casos, a orientação de um profissional é indicada e não representa fracasso, mas cuidado.
Hora da leitura
A leitura é uma poderosa aliada para ajudar crianças a compreender e lidar com emoções. Milena Marcelo, fundadora da Ovolê Editora, explica que livros infantis podem transformar o caos da birra em história, criando um espaço seguro para o diálogo.
“Relembrar histórias já lidas e fazer perguntas inspiradas nelas ajuda a criança a nomear e compreender o que sente. É uma forma de dizer: ‘eu vejo o que você está sentindo’”, afirma Milena.
Entre os livros indicados estão:
- “Onde vivem os monstros”, de Maurice Sendak.
- “Rita, não grita!”, de Flávia Muniz.
- “Pedro vira porco-espinho”, de Janaina Tokitaka.
Essas histórias exploram emoções como raiva e frustração de maneira acessível e acolhedora, ajudando a criança a compreender o que sente e a desenvolver ferramentas emocionais para lidar com desafios.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (5 de setembro). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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