A autonomia está diretamente ligada à autoestima. Desde cedo temos o desejo de pertencer a um grupo – e é dentro do ambiente familiar que as habilidades sociais que moldarão a autoconfiança dos pequenos têm a chance de se desenvolver. As raízes de muitas inseguranças, da ansiedade e da dificuldade de tomar decisões estão na infância. Por isso, a capacidade de realizar pequenas tarefas pode (e deve) ser estimulada já nos primeiros anos de vida.
“O sentimento de pertencimento é uma das necessidades humanas mais profundas e isso começa na infância”, explica Brunna Dolgosky, psicóloga, hipnoterapeuta e arteterapeuta, em entrevista à AnaMaria. “É como se, ao realizar pequenas tarefas do cotidiano, a criança estivesse dizendo a si mesma: ‘eu sou capaz, eu sou importante, eu faço parte’”, completa.
Além de uma casa mais organizada, incluir as crianças em pequenas tarefas estimula a coordenação motora, o senso de organização, a importância do trabalho em equipe e a consciência de que todos no lar têm um papel fundamental.

“Envolver a criança nas pequenas responsabilidades cotidianas fortalece o vínculo com os cuidadores, desde que isso seja feito com leveza, sem cobranças excessivas e respeitando o tempo e o ritmo de cada criança”, acrescenta Marília Scabora, psicóloga e fundadora da Tribo Mãe.
O que cada criança pode fazer?
A partir dos 2 anos: quando atingem os dois anos, as crianças entram na fase da curiosidade! Pequenos dessa faixa etária gostam de imitar os adultos. Guardar os brinquedos, colocar as roupas sujas no cesto ou ajudar a alimentar o animal de estimação da família, com supervisão, são boas opções. Atividades simples como essas começam a desenvolver o senso de responsabilidade e organização.
Entre 4 e 6 anos: nessa idade, as crianças já conseguem realizar tarefas com um pouco mais de independência. Elas já podem arrumar a própria cama, ajudar a colocar os talheres e guardanapos na mesa, e escolher a própria roupa. Nessa fase, é importante que as atividades sejam vistas como algo divertido e que faça parte de uma rotina leve, para não sobrecarregá-las.

Entre 8 e 10 anos: crianças dessa faixa etária já têm mais habilidades motoras e cognitivas, o que permite que assumam tarefas mais complexas. Elas podem ajudar em etapas simples da preparação de refeições, misturando ingredientes, por exemplo. Elas também podem dobrar roupas, varrer ou aspirar o chão e cuidar de seus próprios materiais escolares. Envolver as crianças no planejamento de suas atividades diárias, como criar listas de tarefas, também é uma ótima maneira de incentivar a autonomia.
“Essas atividades não visam colocar a ‘criança para trabalhar’, mas permitir que ela se sinta parte do ambiente em que vive, e assim, forme uma base emocional mais segura, criativa e confiante para o futuro”, ressalta Brunna.
Como envolver os pequenos?
Incorporar essas atividades domésticas no dia a dia deve ser um processo gradual e positivo. Confira algumas dicas práticas:
- Utilize um quadro de tarefas de forma lúdica, com fitas adesivas coloridas e formas geométricas;
- Combine com os pequenos um sistema de recompensa (sem envolver dinheiro diretamente, prefira passeios e atividades);
- Dê um sentido à tarefa com frases como: “guardar os brinquedos ajuda a gente a não perder as peças” ou “ajudar com a mesa do jantar mostra que somos um time”;
- Definam juntos o momento do dia em que a criança será chamada para ajudar (como depois do lanche ou antes do banho);
- Transforme a tarefa em um mini-jogo: “Vamos ver quantos brinquedos conseguimos guardar juntos em dois minutos?”.
É fundamental que os pais façam com que essas atividades sejam colaborativas. A criança deve sentir que está participando de algo importante para o bem-estar da família.
Lembre-se que o esforço deve ser validado, não apenas o resultado! Nem sempre a tarefa sairá perfeita, mas se houve tentativa, isso deve ser reconhecido. Diga frases como: “Você se esforçou tanto para arrumar a cama! Cada vez vai ficando mais bonito.”
Resumo: A autonomia na infância está diretamente ligada ao desenvolvimento da autoestima e do sentimento de pertencimento, reforçado ao incluir os pequenos em tarefas do dia a dia. Atividades simples, como guardar brinquedos ou arrumar a cama, ajudam a construir confiança, responsabilidade e vínculos familiares. O envolvimento deve ser leve, respeitando o ritmo da criança e valorizando seu esforço, mais do que o resultado.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (30 de maio). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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