Fazer amigos pode parecer só uma parte divertida da infância mas, na verdade, é também uma das mais importantes. As amizades infantis são mais do que brincadeiras: elas são uma espécie de ensaio da vida em sociedade, onde se aprende a negociar, se frustrar, esperar, acolher e, principalmente, se colocar no lugar do outro.
Segundo o pediatra Antonio Carlos Turner, diretor técnico da rede de clínicas Total Kids, é nessa troca entre iguais que surgem as primeiras lições sobre empatia, autonomia e convivência. “Ao interagir com outras crianças, que vêm de diferentes famílias e têm diferentes perspectivas, a criança aprende a se colocar no lugar do outro. Compartilhar brinquedos, consolar um amigo que caiu no chão ou entender a frustração alheia são exercícios diários que lapidam a empatia, uma habilidade social fundamental”, afirma.
Aprendendo com os conflitos
Mesmo as brigas entre amigos têm um papel importante. Quando uma criança se frustra por perder um jogo ou por não conseguir brincar com o brinquedo preferido, ela aprende que a vida nem sempre acontece como gostaria – e que está tudo bem.
“Nem toda brincadeira dá certo, nem todo desejo é atendido. No convívio com os amigos, a criança experimenta a frustração. Seja por não conseguir o brinquedo desejado, por perder um jogo ou por um desentendimento. Aprender a negociar, a esperar a vez e a lidar com as pequenas decepções do dia a dia fortalece a capacidade de superar obstáculos e desenvolver a resiliência”, observa Antonio Carlos.
Essas situações, comuns e naturais, oferecem lições importantes que serão levadas para a vida adulta.
Convivência fora do olhar dos pais
Longe da supervisão direta dos adultos, a criança é desafiada a resolver conflitos por conta própria e expressar emoções de forma mais autônoma. Isso estimula o crescimento emocional e fortalece sua capacidade de autorregulação.
“O grupo de amigos é um microcosmo da sociedade. Nele, a criança se depara com diferentes personalidades, origens e formas de pensar. Essa diversidade ensina a importância do respeito, da tolerância e da valorização das individualidades, elementos essenciais para a convivência harmoniosa com as diferenças”, avalia o pediatra.
Mais do que isso: o sentimento de pertencimento a um grupo de amigos ajuda a fortalecer a autoestima e a segurança emocional.
E quando a criança tem dificuldade para fazer amigos?
É natural que alguns pais fiquem preocupados quando percebem que o filho tem dificuldades para se enturmar. Mas forçar amizades não é o caminho. O primeiro passo é escutar.
“Pergunte como o seu filho, sua filha, se sente na escola ou em outros ambientes sociais. Tente entender as razões por trás da dificuldade, sem julgamentos”, orienta Antonio. Segundo ele, a observação também pode dar pistas valiosas. “Fique atento às interações do seu filho. Há alguma inibição? Alguma dificuldade de comunicação? Às vezes, pequenos ajustes podem fazer uma grande diferença.”
A sugestão é criar oportunidades de socialização. Atividades em grupo, esportes coletivos, encontros no parque ou até convidar colegas para brincar em casa são formas eficazes de facilitar o contato com outras crianças.

O exemplo vem de casa
A construção de vínculos de amizade começa com o que a criança vê dentro de casa. “O comportamento dos pais, mães e responsáveis é um modelo poderoso. É importante que os adultos valorizem, demonstrem a importância que eles têm e mostre as suas interações com os amigos na frente dos filhos”, reforça o médico.
Demonstrar carinho, gratidão e respeito pelas suas próprias amizades é uma forma de inspirar. “Quanto às crianças, incentive e participe, quando apropriado, das atividades sociais do seu filho, mas também saiba dar espaço para que ele construa suas próprias relações. Investir no desenvolvimento das amizades na infância é um dos maiores presentes que podemos dar aos nossos filhos, pavimentando o caminho para um futuro de maior bem-estar, resiliência e felicidade”, conclui Antonio.
Resumo:
As amizades na infância ajudam a desenvolver empatia, resiliência e segurança emocional. O convívio com outras crianças ensina a lidar com frustrações, negociar e respeitar as diferenças. Com apoio e exemplos positivos dos adultos, os pequenos aprendem a construir vínculos saudáveis para toda a vida.
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