Julia Mendes vem encarando o desafio de dar vida à Anita, uma jovem recatada do interior nordestino, em Mar do Sertão, da Globo. Ela também pode ser vista na série ‘Todo Dia a Mesma Noite’, sobre a tragédia da Boate Kiss. Mas, ainda que a atuação na dramaturgia seja marcante, provavelmente, se você é ligado nas redes sociais, já consumiu algum conteúdo da atriz, afinal, seu canal @jujumecontatudo é um fenômeno.
Na verdade, não é de hoje que Juju faz sucesso com seu conteúdo ‘real’ na web. “As pessoas veem muito glamour em atuar, mas é uma carreira dura e difícil. Vejo as plataformas como uma forma de divulgar os trabalhos artísticos. Fora isso, muitas pessoas sempre diziam que eu era engraçada e espontânea, e que deveria fazer vídeos. Então, comecei de forma despretensiosa. Quando vi, os números foram aumentando e os vídeos viralizando.”
Com conteúdos mostrando situações vividas por todos, ela tenta passar para os seus mais de 300 mil seguidores algo que é pouco mostrado na internet, sempre sem filtro e de forma leve: cenas da vida real. “Ser influenciadora é tentar tornar o mundo caótico mais viável. Com tanta agressividade por aí, quando surge alguém que traz leveza, é muito bom. Mas também mostro que passamos por dificuldades, afinal, não podemos acreditar na vida perfeita que nos é vendida, pois isso enlouquece qualquer um.” E ela vem cumprindo seu propósito com maestria!
Confira a entrevista completa:
Em Mar do Sertão, Anita e Cira formam uma dupla do barulho quando o assunto é descobrir tudo o que acontece em Canta Pedra. Na vida real, Julia também tem uma amizade assim?
Tenho, sim! A Mari é a minha duplinha da vida real… Inclusive, a gente se chama de ‘marida’ [risos]. A gente tem uma relação muito bonita, torcemos muito uma pela outra, realmente nos apoiamos. Acredito que a amizade é principalmente sobre poder contar nos momentos mais difíceis, e com a Mari sempre foi assim. Só que ao contrário da Cira e da Anita, a gente não se junta para falar da vida dos outros, né? Nos juntamos para nos fortalecer, pedir conselhos, dizer o que a gente está sentindo. Trocar as nossas angústias, os nossos momentos de vida, então eu sou muito grata. Eu acho que na vida, ao longo do tempo, vamos afunilando um pouco as nossas amizades. Quando a gente amadurece, não é mais sobre quantidade, e sim sobre qualidade. E eu sei que eu tenho na Mari esse apoio de poder contar com ela em qualquer momento da vida.
Até que ponto a fofoca é algo divertido?
É bem difícil dizer isso porque a fofoca já subentende que alguma coisa não chegou até você de uma maneira cem por cento coerente. O grande lance da fofoca, se você quiser mesmo estar dentro disso, é simplesmente ouvir, se divertir com aquela informação, mas não passar adiante, porque aí você está dando margem para que isso vire algo maior. Acho que a fofoca tem que ficar no âmbito de não ser algo que vai prejudicar ou ferir alguém.
O que se assemelha e o que difere a Julia da Anita?
Nós realmente temos personalidades bem diferentes, mas acho que o que aproxima a gente é essa questão da escuta. As duas são bons ouvidos. Eu sempre fui vista como uma boa conselheira e a Anita também é um ombro amigo. O que difere a gente são muitas coisas. A Anita é uma mulher do interior, já eu sou de cidade grande. Ela é extremamente tímida e eu sou bem mais expansiva. A Anita é muito mais contida, reprimida, e eu externo mais meus sentimentos.
A Anita também tem os valores religiosos muito fortes. A fé também motiva você?
Sim, sou uma mulher de muita fé! Embora não tenha uma religião específica, acredito na vida. Aliás, acreditar na vida e em tudo que ela pode possibilitar já é, de fato, uma religião. Embora passemos por tantas dificuldades, não adianta brigar com a vida. A fé está muito ligada a aceitar aquilo que o universo nos dá e a tentar tirar o melhor disso.
Você participa da série Todo Dia a Mesma Noite, que aborda o acidente da Boate Kiss, ocorrido em 2013, no Rio Grande do Sul. Fazer parte desse trabalho é uma oportunidade de ‘lutar’ por justiça?
Certamente! É mais do que urgente trazer esse diálogo à tona, falar sobre a justiça em um País onde, infelizmente, as coisas geralmente saem sempre impunes. Acredito que a série vem aí para selar que a justiça precisa ser feita. E foi.
Você já participou algumas vezes do Mais Você, dando dicas sobre relacionamento e paquera. Como aconteceu isso?
Tudo aconteceu por conta do meu canal. Em paralelo à carreira de atriz, também tenho o canal @jujumecontatudo. Sou uma entusiasta da vida, do amor e dos relacionamentos. Então, comecei a fazer os vídeos de uma maneira completamente descompromissada, dando não só dicas de relacionamento, mas usando também o meu lado atriz, fazendo vídeos divertidos, de humor, falando sobre vida de solteira, de casado, aquela coisa do início, da paquera, enfim, passando por todos os processos amorosos. Todo mundo se identifica um pouco com o que eu falo, porque todo mundo já passou por um término, um começo ou um casamento longo. Daí, o pessoal do Mais Você me via nas redes sociais e, um belo dia, me chamaram para dar conselhos e dicas, e eu acabei virando uma espécie de conselheira amorosa das redes sociais.
E como surgiu o seu canal?
Surgiu da vontade de eu ser a minha própria empreendedora, sabe? Tem uma certa hora que a gente não pode mais ficar sentada esperando o universo fazer por nós. Nada vem de graça. E, como atriz, precisava mostrar o meu trabalho para o mundo, sem ficar esperando que alguém me ligasse e me chamasse para algo. Então, comecei a fazer os vídeos, dar a minha cara à tapa. Não é fácil você se expor, mas, quando você tem uma paixão, sabe aonde quer chegar, você passa por isso. E foi gradativo, um trabalho de formiguinha, conquistando cada vez mais seguidores. Tenho muito orgulho disso. O @jujumecontatudo virou realmente um pot-pourri de várias coisas. Falo sobre relacionamento, saúde, exercícios… Aliás, trabalho a atividade física como algo que traz bem-estar, não me prendo à questão estética –esta vem adoecendo muitas pessoas, que acabam ligando a atividade física só ao corpo, à busca do tal corpo ‘perfeito’. Tento impulsionar meus seguidores muito mais pelos benefícios da saúde e do alto-astral.
E quando você se descobriu uma influenciadora digital?
Quando eu vi, já estava sendo vista como uma influenciadora. Num primeiro momento, isso me deixou um pouco nervosa. Pensei ‘meu Deus, preciso ter uma responsabilidade muito grande’, porque é preciso saber o que você está falando e perceber se você vai influenciar bem ou mal, entende? Tenho um cuidado enorme e procuro sempre pensar muito antes de falar qualquer coisa. Quem trabalha com internet e influencia a vida das pessoas precisa ter uma consciência grande. Mas foi muito prazeroso porque eu comecei a fazer os vídeos de maneira espontânea, sem saber o que iria acontecer. Hoje, vejo quantas vidas influencio. Fico feliz em me tornar inspiração pra tanta gente.
Quais as dores e as delícias de ter mais de 300 mil seguidores nas redes sociais?
Essa pergunta poderia ser uma sessão de análise [risos]. As dores são um pouco a questão da pressão. Quando você tem um canal na internet em que você aparece todo dia, gera uma ansiedade. A internet por si só já tem deixado as pessoas ansiosas, mas ter que produzir conteúdo o tempo inteiro, às vezes, dá uma surtada, né? Então, eu faço muita terapia para não surtar e entender também que, às vezes, meu tempo é o meu tempo, e preciso respeitar isso. E as delícias são inúmeras! Conquistei muitas coisas com o meu canal. Recebo milhões de mensagens sobre como influencio bem a vida das pessoas… E quantas pessoas já saíram do sedentarismo por minha causa? Brinco até que meu sonho era que todas essas mensagens pagassem os meus boletos [risos]. Não tem retorno melhor do que isso.
Um corpo bem cuidado reflete numa mente sadia?
Excelente reflexão! Equilíbrio é a palavra-chave. Hoje em dia, há uma busca enorme pelo tal corpo ‘perfeito’ – e até existem muitos por aí –, mas muita gente que vive nessa busca está com a cabeça desorientada. A pessoa almeja um corpo X, só que a mente está doente, entende? A busca pelo tal corpo ‘perfeito’ precisa ser uma via de mão dupla: a mente deve alimentar o corpo e vice-versa. E a atividade física surge justamente para isso: para equilibrar. Aliás, sem equilíbrio, nada fica bem.
Tem jeito de fazer com que a academia não seja algo chato?
A primeira coisa é encontrar uma academia que você se sinta acolhida. Depois, realizar atividades em grupo. Quando vejo outras pessoas fazendo exercício, isso me impulsiona. E ter foco. Daí, quando bater a preguiça, você pensa em seu objetivo.