A gravação do DVD de Joelma, no mês de maio em Manaus (AM), chamou a atenção de muitos fãs da cantora por um detalhe: o dançarino profissional Adriano Silva, que é cadeirante, estava entre os bailarinos durante a apresentação da artista.
Hoje com 29 anos, ele está usando cadeira de rodas desde 2017, quando recebeu o diagnóstico de mielite transversa, uma inflamação na medula espinhal que pode acontecer após infecções por vírus ou bactérias, ou ser consequência de doenças autoimunes.
A dança, desde então, tem servido como uma forma de fisioterapia, além de um incentivo para não desistir da vida. “Fiquei com depressão e bem debilitado, entrando em um processo para assimilar e entender que era um novo mundo, mas que dava para viver, mesmo precisando de uma cadeira de rodas”, conta, em entrevista para AnaMaria Digital.
Até hoje, os médicos ainda não sabem o que exatamente inflamou sua medula. “É muito difícil de lidar no começo. Tive que me adaptar e acreditar que era possível, sim, viver desta forma, sendo feliz e fazendo as mesmas coisas que outra pessoa sem essa questão faz”, ressalta.
SALVO PELA ARTE
Apesar da dança sempre ter sido muito presente em sua vida, era apenas um hobby e só se tornou seu ganha-pão quando já dependia da cadeira de rodas. Mas o que muitos nem imaginam é que tudo começou por conta do basquete.
Adriano fazia parte do time All Star Rodas, de Belém (PA), quando conheceu o amigo Cleiton Bentes, que lhe apresentou a companhia de dança em que está até hoje.
Assim, em 2017, Adriano passou a integrar a Companhia Do Nosso Jeito e a dança passou a ser seu modo de viver. Foi aí, inclusive, que ele começou a se profissionalizar na dança esportiva em cadeira de rodas e, desde então, vem participando de campeonatos nacionais e internacionais na área, sendo campeão em alguns deles.
O REI DA FESTA…
Adriano tornou-se conhecido da equipe de Joelma após um vídeo seu, gravado em Belém do Pará, ter viralizado na internet. Em um momento de lazer, o bailarino aparece dançando com sua parceira em uma casa de shows. Até hoje, ele guarda registros das matérias que saíram sobre o assunto em seu Instagram.
“Eu acredito que [o vídeo] chegou até a Joelma, que me presenteou, fez essa homenagem, como ela mesma falou”, celebra. Depois disso, ele ficou conhecido como o “Rei da Festa”, por ter dançado a música de mesmo nome da cantora.
No entanto, essa não foi a primeira vez que Adriano participou de um projeto musical. Ele também já dançou no videoclipe de uma música de Jhenyfer Lira, após ter sido escolhido dentre outros dançarinos, inclusive não cadeirantes.
“Foi mostrada a coreografia e a galera tinha que pegar na mesma hora. Cada um mostrou as suas habilidades e potencial e fui selecionado dentro daquele grupo que estava ali”, destaca sobre a experiência.
Adriano diz ainda que esses momentos foram muito importantes especialmente pela questão da representatividade, mostrando que pessoas com deficiência são como qualquer outra. “Com suas limitações, mas que não baixam a cabeça e enfrentam todos esses obstáculos para viver o seu dia a dia”, avalia.
… E CAMPEÃO DE DANÇA!
Antes das participações em shows, Adriano teve várias conquistas: alcançou o primeiro lugar no Encontro Panamericano de dança da Amazônia, na categoria freestyle, e duas medalhas de terceiro lugar na Itália, nas categorias freestyle e duo.
Devido à pandemia da covid-19, muitos campeonatos não aconteceram nos últimos dois anos. Em 2022, Adriano espera que tais torneios voltem à ativa. “De certo, já tem a participação no Campeonato Brasileiro, que vai acontecer na cidade de Caldas (MG)”, conta.
Além disso, ele começou a dar aulas de dança para pessoas entre 5 e 15 anos que precisam da cadeira de rodas para sua locomoção. O projeto, segundo ele, tem sido muito gratificante, apesar de tê-lo deixado nervoso à princípio.
“A gente quer sempre dar o nosso melhor, né? Contribuir para a vida daquela pessoa que usa cadeira e saber que, independentemente de qualquer coisa, ela é capaz e pode, sim, se expressar por meio da dança”, destaca.