A jornalista e blogueira Juliana Romano é uma mulher forte e bem resolvida. Mas, para chegar até esse estágio, passou por vários processos, incluindo auto aceitação e amor-próprio.
Trabalhou em revistas e sites femininos e, desde 2009, comanda um blog voltado para “todas as meninas e mulheres que não se encaixam nos ‘padrões’ e querem se livrar dessas regras que limitam nossa criatividade, liberdade e expressão”, como descreve.
Já foi capa da revista Elle e fez um ensaio para a Playboy. E pretende continuar ocupando todos os espaços possíveis, levando a voz, a beleza e a liberdade da mulher gorda.
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Quando foi que você teve uma virada de chave e decidiu se amar e aceitar?
Depois de passar por uma série de distúrbios alimentares e de imagem, percebi que muito do meu corpo era genética e nunca mudaria. Então, eu só tinha duas escolhas: passar a vida inteira infeliz, buscando um corpo que eu nunca alcançaria, ou aceitar minhas heranças e conviver bem com elas.
Decidi conviver bem com elas, mas foi difícil. Exigiu muito trabalho para entender as expectativas dos outros sobre meu corpo e comportamentos. Com 19 anos, comecei a fazer terapia e passei a me entender melhor. Foi um período de autodescoberta. Quando entendi que meu corpo era só uma parte de mim, ele virou uma ferramenta que podia me levar a conquistar meus sonhos, e, para isso, eu não precisava mudá-lo. Só precisava cuidar dele com mais amor.
Você tem visto uma mudança de pensamento das pessoas que superestimam a magreza?
Vejo um esforço grande. A Gordofobia não é tratada como crime ainda. Da mesma forma que superestimar a magreza a qualquer custo ainda não é vista como doença. Vejo uma mudança sutil no mercado publicitário e de moda, mas o problema é muito maior, de estruturas, e não só de imagem.
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Sempre gostei de moda e, cansada de tentar mudar meu corpo para me encaixar nela, resolvi compartilhar dicas de como eu fazia para mudar a moda de modo que ela servisse ao meu corpo. Encontrei uma comunidade imensa de mulheres insatisfeitas e cansadas de estarem sempre à margem do ‘ideal’.
Percebi que essa pressão para estarmos insatisfeitas com nossos corpos girava uma roda imensa de empresas que lucravam com as nossas infelicidades, de matérias click bait, passando por remédios milagrosos e culminando em um dos maiores índices de cirurgias plásticas do mundo. Daí comecei a falar mais sobre isso e, desde então, inúmeras discussões já foram abertas e debatidas.
A moda e a beleza são caminhos para reforçar a autoaceitação e o amor-próprio?
Elas são ferramentas de expressão. A moda plus size é uma das muitas ferramentas de empoderamento da mulher gorda, pois permite que ela se expresse no mundo. Maquiagem é bem democrática também e funciona para todos os corpos, então também é uma ferramenta de inclusão e expressão. Mas, se a pessoa se sentir obrigada a se vestir de uma forma específica ou se maquiar todos os dias, vira uma ferramenta de opressão. Cada pessoa precisa encontrar a melhor maneira de se sentir segura e se amar da maneira que for mais confortável, e isso pode estar em várias partes da nossa vida.
Machismo e gordofobia caminham lado a lado?
Sim, muito do padrão estético tem a ver com a expectativa de encaixar o corpo da mulher em um ideal de perfeição, delicadeza e fragilidade. A maioria das mulheres gordas já passou pela dúvida cruel de “se eu não emagrecer, não vou casar” e isso, além de romantizar a magreza como se fosse ela que garantisse o amor, também invalida a existência de uma mulher sem um homem. Um homem gordo frequentemente é visto como bon vivant, já a mulher como desleixada, descuidada. E isso permeia todas as áreas da vida da mulher.
Um recado sobre a gordofobia…
A gordofobia é um preconceito sem fundamento que atrapalha e impede que a pessoa gorda viva de forma plena e saudável. Ninguém está dizendo que você precisa achar um corpo gordo bonito ou desejar ter um corpo gordo, mas é necessário, sim, garantir respeito e dignidade a todos os corpos. Por isso, a luta contra a gordofobia é de todas as pessoas, de todas mesmo!
Por que o seu corpo é um bom lugar para se estar?
Ah, meu corpo é maravilhoso! Ele me permite fazer tudo o que eu tenho vontade. Pratico esporte, trabalho, namoro e ainda tenho uma barriguinha macia que serve de travesseiro para quem assistir televisão comigo. Meu corpo é perfeito em todas as suas funcionalidades. Como eu poderia criticar um lugar perfeito assim? Meu corpo é o melhor lugar. Tenho realmente muito amor e muita gratidão a esse corpo em que moro.