Homem de muita fé e evangelizador, Antonio Moreira Borges, o padre Antonio Maria, que adotou o nome da Mãe de Jesus, é hoje um dos párocos mais famosos do Brasil e do exterior. Seu sonho de criança era ser cantor, mas, aos 16 anos, o chamado divino o fez ir para o seminário.
No entanto, apesar de sua dedicação à batina, o canto nunca foi deixado de lado, e a música está presente em seu trabalho de evangelização: “A canção tem o dom de penetrar na alma e no coração, mais do que a palavra pura. É um meio extraordinário de evangelizar”, fala.
Com um coração misericordioso, está à frente dos programas Sábado com Maria e Terço de Aparecida, na TV Aparecida; do Centro Educacional Catarina Kentenich e da comunidade religiosa Filhas de Maria Servas dos Pequeninos, onde trabalhos sociais são realizados em prol de crianças e jovens carentes.
Querido pela classe artística, até recebeu a alcunha de ‘padre das celebridades’, porém faz questão de explicar: “Todos somos celebridades porque todos somos filhos do célebre Deus. Meu coração sempre foi aberto para a arte e os artistas, e eu sempre entendi que eles são filhos de Deus. Fiz milhares de batizados e casamentos, e muitos de celebridades, sim. Mas fui pároco de uma periferia de São Paulo. Lá também estão os casamentos que realizei, com a diferença de que não apareceram nas revistas e na TV”. Com doçura, ele fala sobre a missão e as lições aprendidas em sua jornada
Confira a entrevista completa:
A vocação ao sacerdócio é um dom de Deus?
Quando Deus cria alguém, ele já pensa: “Esse meu filho, essa minha filha vai nascer pra isso”. Ele chama! Vocare: chamar, vocação. Às vezes, a gente não descobre logo… Eu fui descobrir que tinha vocação aos 16 anos. Antes, eu pensava que a minha vocação era ser cantor. Claro que Deus também pensou em mim como sacerdote cantando para evangelizar, mas a minha primeira vocação, aliás a de todos nós, a primeiríssima, é ser filho de Deus. Todos nascemos como filhos de Deus. E como filhos, um pode ser engenheiro, outro pode ser professor, dona de casa… A minha vocação foi o sacerdócio. Sou muito feliz.
O que os jovens deveriam encontrar nos sacerdotes e religiosos que os entusiasmaram a escolher esse tipo de vida?
Primeiro, deviam encontrar uma pessoa feliz e realizada. Um padre, um seminarista, um religioso ou uma religiosa azedos é sinal de que não está vivendo bem o seu caminho com Deus. A melhor coisa do mundo é ser de Deus, não é? Então, o que o jovem deve encontrar primeiro: uma pessoa feliz, que represente Deus realmente, e não só nas vestes. Eu, por exemplo, costumo vestir batina e já ouvi algumas criancinhas na rua dizendo ‘Mamãe, olha o papai do céu’. Que o jovem encontre em nós, digamos, profissionais de Deus, realmente Deus. Mas o Deus pai, o Deus misericordioso, o Deus bondade, o Deus que se fez gente.
Quando o senhor teve covid, chegou a afirmar “Deus permitiu que eu fosse contaminado”. Devemos, então, atribuir a Ele todos os casos da doença?
Eu penso assim porque Deus é pai. E quando falarmos com Ele, devemos dizer ‘Pai nosso, que estais nos céus…’. E um pai, às vezes, não quer, mas permite. Tenho filhos adotivos e só quero o bem deles, mas vou contar um fato que ocorreu como exemplo. Um dos meus filhos tem uma bicicleta. E ele faz “bicos” porque está sem emprego, mas gasta muito dinheiro em lanches.
Outro dia, furou o pneu da bicicleta e me pediu um dinheirinho para pagar o mecânico. Neguei. Fiz isso para ele entender que precisa guardar dinheiro também. O meu dinheiro também não cai do céu. Permiti que sofresse um pouquinho, andando a pé 4 quilômetros até o serviço, para que entendesse o que eu disse. É isso. Creio que Deus permitiu que eu fosse contaminado para que eu sentisse na pele o que muitos dos meus irmãos estavam sentindo, e para que eu visse que a pandemia é para todos.
O senhor acredita que a pandemia é um sinal de que precisamos nos aproximar mais de Deus?
Acredito nisso porque o que nos leva, muitas vezes, a nos aproximar de Deus é o nosso nada. Maria Santíssima diz no Evangelho de Lucas 1, 46-55: ‘O Senhor fez em mim maravilhas porque olhou a pequenez de sua serva’. Quando a gente se torna pequeno, Deus se torna maior na nossa vida.
Às vezes, o único jeito que Ele tem de realmente chamar nossa atenção é nos mostrar que somos pequenos, que não somos nada. Um vírus que a gente nem vê a olho nu está derrubando a humanidade – e pode acabar com ela –, se não levarmos a sério, não nos vacinarmos, não usarmos máscara… Então, sim, a pandemia pode ser um jeito que Deus escolheu. Para quê? Para um bem maior, para chegarmos a Ele na humildade, na pequenez. É por isso que Jesus diz ‘Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles será o reino dos céus’. Pobre em espírito é aquele que reconhece precisar de Deus, mas muitos empinam o nariz e se consideram auto suficientes.
Como o senhor encara o papel da música na evangelização?
Um papel maravilhoso! A canção tem o dom de penetrar na alma, no coração, mais do que a palavra pura. A melodia, os tons, a harmonia, nós somos feitos de tal maneira que tudo isso é muito importante. Numa missa em que cantei, uma pessoa sempre sai de lá cantarolando. ‘Cura, Senhor, onde dói’ (…). Talvez ela não se lembre de mais uma palavra dita na homilia, mas aquele versinho ficou. A música penetra mais profundamente. É um meio extraordinário de evangelizar.
O senhor é conhecido como o padre das celebridades. Como surgiu essa denominação?
[Risos] Todos somos celebridades porque todos somos filhos do célebre Deus, nosso pai, o criador do Universo. Somos irmãos de Jesus que morreu na cruz por todos nós. Mas nós entendemos na nossa linguagem humana que celebridades são aqueles que aparecem mais, os artistas… Como eu queria ser cantor quando era pequeno, minha irmã me levava à Rádio Nacional para eu ver os cantores da época. Depois, como padre, fiquei amigo de muitos deles. Então, meu coração sempre foi aberto para a arte e para os artistas, e eu sempre entendi que eles são filhos de Deus.
Fiz milhares de batizados e de casamentos porque sou padre há 45 anos. Fui pároco também de uma periferia de São Paulo. Lá estão os casamentos que eu fiz, porém não apareceram nas revistas e na TV. Dos famosos, aparecem, claro, todo mundo quer ver. Roberto Carlos me ensina muito com a sua fé e simplicidade. Os artistas também são filhos de Deus, eles nos ensinam tanto…
Além de estar na TV Aparecida, a sua vida também é marcada pela dedicação ao próximo, principalmente crianças carentes. Não à toa, o senhor ajudou a construir o Centro Educacional Catarina Kentenich e fundou a comunidade religiosa Filhas de Maria Servas dos Pequeninos. Fale mais sobre seu trabalho social.
Eu sempre tive um amor muito grande pelas crianças, desde menino já me tocava ver outros pequenos passando necessidades. Quando me tornei padre, dediquei muito do meu sacerdócio a ajudar a criar crianças órfãs, abandonadas. Eu tenho muitos filhos, criei esses filhos. Hoje tenho netos, adotei alguns que criei, dei o meu nome porque era necessário até para a caminhada deles. Então, é um dom de Deus. Nosso trabalho social é com crianças. À luz das bem-aventuranças, queremos encaminhar as pessoas num Novo Caminho com a proteção e a intercessão de Maria, Mãe do Novo Caminho.
O que o senhor pensa a respeito da nova geração de padres?
Toda vez que vou a uma paróquia em que o padre é novinho, eu digo com toda sinceridade: estar diante de um padre novo renova o meu sacerdócio, me dá muita força. Eu tenho encontrado vários padres novos, zelosos… Quando entrei no seminário, uma palavra que se falava muito era o zelo apostólico, e eu encontro hoje muitos padres novos bem zelosos, repito. Isso me anima e me fortalece. Fico feliz também em ver muitos desses padres usarem também o canto para evangelizar. Porque quem canta, reza duas vezes. Quem canta, evangeliza duas vezes também.
Deixe uma mensagem às leitoras e leitores da revista AnaMaria.
Eu partiria do próprio nome da revista: Ana é a mãe de Maria e Maria é a mãe de Jesus. Então, eu diria, como Maria, sejam um presente para Ana. Maria Santíssima foi um presente para sua mãe, Ana. Que cada um de nós seja um presente uns para os outros. Não importa se eu não sou do nome Maria, mas que eu seja Maria no coração, e que o maior presente que eu possa dar para alguém seja Jesus, o perdão, o amor, a paciência, a misericórdia e a paz de Jesus. Então, que cada um de nós possamos levar esse Jesus como Maria O levou, no seio, para trazê-Lo, ao vivo e no coração, para o mundo.