‘Terra e Paixão’, trama de Walcyr Carrasco, estreou na última segunda-feira (8) no horário nobre da TV Globo, e já entregou várias cenas emocionantes. E terá muito mais, viu! Bruna Aiiso, que integra o elenco, bateu um papo exclusivo com a AnaMaria Digital, revelando alguns bastidores das gravações da trama.
A atriz interpreta Laurita Correia, que Bruna já alerta ser uma personagem mau-caráter. Ela será a médica responsável por Petra (Debora Ozório) que, por sua vez, tem dependência de remédios. A artista destaca a importância da conscientização sobre o assunto: “Existem muitas pessoas – mais do que a gente imagina – viciadas em remédio. Para tirar a dor, para dormir, ansiedade, depressão, para emagrecer. Isso é um problema de saúde pública, que é muito grave”.
Durante a entrevista, ela relatou um episódio após a gravação de uma cena chocante acerca do vício da filha de Antônio La Selva (Tony Ramos). “No intervalo de um corte para outro, nem consegui olhar para ela. Sabia que, se olhasse, ia me emocionar e não conseguiria fazer o que eu tinha que fazer. A cena foi muito pesada mesmo”, relata.
Segundo Bruna, no final da gravação, veio um funcionário do estúdio dar os parabéns para Débora pela cena. “Ele falou: ‘Foi muito emocionante. Queria te dizer que eu sei exatamente o que é isso’. Começou a chorar e saiu. Ela veio me contar extremamente emocionada, porque virou uma chave de a gente entender a importância do que estamos fazendo”, conta.
Para a atriz, a abordagem do tema – tão sensível – tem sido feita com muito respeito e cuidado. “Novela é entretenimento, mas com muita responsabilidade”, afirma.
REPRESENTATIVIDADE AMARELA
A trama é ambientada na cidade fictícia de Nova Primavera, inspirada no município de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Bruna ressalta a importância da presença asiática neste contexto: “É uma das cidades onde existe uma das maiores concentrações de ascendentes de japoneses no Brasil. Eu estar nesta novela é muito importante nesse sentido de representatividade”.
Aiiso avalia ainda que pessoas de pele amarela não são vistas como uma minoria a ser incluída e passam dificuldades para entrar na dramaturgia. “O mercado do audiovisual ainda não consegue enxergar e aceitar que nós somos minoria e, quando estamos em uma produção, falamos de diversidade e representatividade”, explica.
Além disso, a artista celebra que, em ‘Terra e Paixão’, ela conseguiu fugir dos estereótipos criados pela mídia: “O Walcyr Carrasco pensou em trazer justamente uma personagem totalmente fora de qualquer estereótipo, a começar pelo nome – Laurita Correia – que não tem nome japonês, sendo um nome brasileiro comum, como vários descendentes tem. Outra coisa que eu acho genial é que ela é mau-caráter. Até então, o asiático é sempre o bonitinho, correto, o bonzinho ou aquele honesto que não faz mal para ninguém, é submisso, é subserviente, está sempre num lugar de exemplo, de bom cidadão. E existem, sim, asiáticos mau-caráter. Assim como existem pessoas más, de todas as cores, de todas as etnias, porque somos indivíduos únicos”.
No início da carreira, só tinha Danni Suzuki como referência asiática na dramaturgia. Aproveitando sua visibilidade, Aiiso criou um projeto para destacar o trabalho de pessoas de origem oriental: a série de lives ‘Brasileiros’. “Eu comecei a entrevistar para saber a trajetória artística, a história, da identificação, das coisas que a pessoa passou. E percebi que me identificava com tudo, principalmente quando eram mulheres. Falei: ‘Caramba, isso que passei são situações que pessoas amarelas passam, e não aconteceu só comigo'”, conta.
O SONHO DAS NOVELAS
Apesar de já ter estrelado em peças, séries e filmes, a estrela admitiu sua paixão desde o primário por novelas da TV Globo. Em 2019, seu sonho se tornou realidade com ‘Bom Sucesso’, onde interpretou a tradutora japonesa Toshi. A atriz, que até então havia atuado na emissora como repórter de rua no Globo Esporte, se encantou pelos sets maximalistas dos folhetins. “Eu estava vivendo um sonho. Para mim, estava tudo maravilhoso, e parecia que eu estava na Disney (risos)”.
Na trama, Bruna contracenou com Antônio Carlos, filho de Mussum, vivendo um dos primeiros relacionamentos inter-raciais entre uma pessoa negra e uma amarela na história da televisão brasileira. Ela conta: “Recebia muita foto da família das pessoas, que eram inter-raciais – assim como a minha família também é. Minha mãe é negra, meu pai é japonês. Era muito bonitinho quando mandavam: ‘Olha a minha família'”.
Ela confidencia ainda que o ator, apesar de ser predominantemente fechado com os colegas de cena, desenvolveu uma amizade com Bruna que dura até hoje. “Quando ele ficou sabendo que eu estaria na novela nova, me mandou a mensagem muito linda e querida, falando: “Você merece, você plantou isso”.