“Se teve abuso sexual, perdoa”
Que não se ponha na conta de Deus a impunidade aos agressores.
Essa frase, prá lá de infeliz, foi pronunciada pela cantora Baby do Brasil, ex-Consuelo, ao propor, em um evento lotado de seguidores religiosos, que as vítimas de abuso sexual perdoassem seus agressores, inclusive os integrantes do círculo familiar.
A Baby, depois de notabilizar-se por uma postura extremamente liberal enquanto integrante dos Novos Baianos, deu um “cavalo de pau” na conduta e no discurso, tornando-se evangélica e utilizando os espaços que a mídia ainda lhe dá, para fazer proselitismo religioso.
Até aí nada demais. É um direito de qualquer pessoa divulgar a sua fé. Ocorre que “pregadores” são, acima de tudo, influenciadores e, por essa razão, tendem a ser seguidos ao menos por uma parcela dos acólitos, o que faz com que suas falas gerem impacto na vida das pessoas e, por extensão, na sociedade.
Todos os dias assistimos estarrecidos a toda sorte de brutalidades perpetradas contra mulheres, especialmente no âmbito doméstico, não raras vezes estimuladas por arcaicos conceitos transmitidos pelo atavismo familiar, onde sempre aparecerá alguém disposto a perdoar ou a incentivar o perdão a uma agressão, na perspectiva ingênua, mas irresponsável, de que o agressor é bom, foi um caso isolado e não vai acontecer mais.
Essa postura tem matado muitas mulheres!
Mas como fica o conceito de perdão, pregado em todas as religiões sob o argumento de que é a “vontade” de Deus?
O perdão realmente deve ser uma busca permanente. A maior referência é o Cristo, que do alto da cruz pediu ao Pai que perdoasse aqueles que o haviam crucificado.
Todavia, descendo muitos degraus na escala evolutiva e falando de nós, simples mortais, não devemos deixar de lado os exemplos do Mestre Nazareno, esforçando-nos por perdoar sim, mas perdoar com o coração, interiormente, de modo que aquela agressão não se prolongue no tempo pela mágoa, ódio ou seja lá o que for, mas o agressor deve ser denunciado, afastado do convívio com a vítima e punido severamente.
O mesmo Cristo disse com todas as palavras (pois ele nunca escreveu nada): “dai a Cesar o que é de Cesar”. Cesar aqui é a Lei. É o código penal, muito frouxo, na minha opinião, mas é o que temos para hoje.
“O ódio é um veneno que se bebe achando que o outro é quem vai morrer.” Essa frase, ao que me consta, da lavra de Shakespeare, resume a importância do perdão. É acima de tudo um cuidado com a saúde do agredido. Devemos lutar contra o ódio, a mágoa, o desejo de vingança, mas buscar a punição severa de quem agride uma mulher, uma mãe, uma filha, é um gesto de amor ao próximo, pois outras agressões e novas vítimas virão e só o fim da impunidade pode reverter esse quadro medieval.
Como não lembrar do livro do saudoso Içami Tiba, “Quem Ama Educa”!
Educar pressupõe corrigir, punir inclusive! E isso também é amar.
Por amor ao próximo, “cana dura” para esses agressores, até que possam um dia conviver com os civilizados.
Edson Sardano