O livre-arbítrio na visão espírita
“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém me convém” (Paulo aos Coríntios)
Se você jogar uma pedra para o alto, ela vai cair de volta, mesmo que você não acredite ou mesmo que tenha se arrependido de tê-la atirado.
Nós espíritas vemos a vida mais ou menos dessa forma: não acreditamos em pecado, castigo, céu, nem inferno.
Quer dizer então que para o espírita tudo pode?
– Não!
Nós acreditamos em causas e consequências. Acreditamos na bondade e na justiça de Deus. A bondade se manifesta ao nos dar o livre arbítrio de tomarmos as decisões que entendermos por bem, todavia, a justiça se dará na obrigatoriedade de assumirmos as responsabilidades decorrentes das opções abraçadas.
Respondendo a Allan Kardec, os espíritos que conduziram a Codificação Espírita afirmaram que a Lei de Deus está escrita na consciência, ou seja, por mais que utilizemos nosso livre arbítrio para satisfazer sentimentos e apelos ainda predominantemente materiais, uma breve consulta à consciência nos mostrará se realmente estamos trilhando o caminho correto. Não há o que errar.
O que acontece é que como nosso padrão evolutivo ainda engatinha, “tapamos o sol com a peneira” e trocamos o progresso espiritual que ruma à eternidade, por instantes de euforia que duram poucos momentos.
Como bem descreveu o sociólogo polonês Zygmunt Baumann, vivemos tempos líquidos, ou seja, superficiais, sem compromissos, numa espécie de neo-edonismo que praticamente abomina os valores cultuados pelas religiões, remetendo-os a um fanatismo acéfalo (com perdão da redundância) que deve permanecer entre as paredes dos templos, de modo a não ousar interferir no cotidiano das pessoas.
Nós espíritas não pensamos assim. Entendemos que os valores morais pregados e vividos pelo Cristo são a verdadeira constituição da humanidade! Os códigos todos, resumidos numa vida de exemplos e ensinamentos que a Doutrina Espírita bem condensou no Evangelho Segundo o Espiritismo, uma espécie de “manual de instruções” para que as pessoas saibam de onde vieram, para onde vão e como fazê-lo sem agredir a si, muito menos ao seu semelhante.
Há sim conceitos de certo e errado, mas a crítica é ao erro. O equivocado merece perdão, acolhimento e oportunidades de reparação que, por mais duras que possam parecer, tem uma causa justa e um fim útil, que é o aprendizado e o progresso espiritual.
Cremos na reencarnação, nas infinitas chances, o que não quer dizer que podemos adiar o desenvolvimento sem assumir as consequências da preguiça moral, mas tudo sob a égide do Amor de Deus, que como um pai, ama incondicionalmente e, por amar, corrige.
Como dizia o saudoso médico e escritor Içami Tiba: “quem ama educa”.
edson sardano