Abril, o Mês do Espiritismo
Por que não devemos usar a expressão kardecismo?
O dia era 18 de abril. O ano, 1857. Na França, foi lançado o Livro dos Espíritos, resultado de um intenso trabalho de pesquisa do Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan Kardec para que a obra ora lançada não fosse confundida com os demais escritos de sua lavra, o que realmente não era.
Como o próprio título anuncia, o livro não era de Kardec, mas dos espíritos.
Trata-se da coleta de informações colhidas por meio de vários médiuns, em momentos e lugares diferentes, seguindo uma metodologia cujo objetivo era traçar um diálogo inteligente com objetos inanimados que, diante de determinadas situações, a partir de movimentos autônomos, produziam respostas inteligentes e coerentes.
Como a tal brincadeira do copo, que muita gente por aqui conhece, grupos desinteressados reuniam-se para brincar com certos fenômenos que ocorriam com frequência na época, sem qualquer pretensão ou mesmo curiosidade acerca do que poderia estar por trás daquilo tudo, até que o professor Leon, ciente de que objetos não pensam, concluiu que uma inteligência estaria atuando sobre mesas, cestos etc, estabelecendo uma forma de comunicação transparente e controlada, até que foi possível reunir mais de mil perguntas e respostas, culminando com a conclusão do Livro dos Espíritos e marcando, a partir de sua edição, o nascimento do Espiritismo.
Esta é a razão pela qual não é correto usar a expressão kardecismo, pois não se trata da obra de Kardec, mas espiritismo, uma obra dos espíritos.
O objetivo inicial não era fundar uma religião, mas apenas trazer à luz uma realidade insofismável acerca das nossas vidas, nossa natureza material (transitória) e espiritual (permanente), nossa relação com o mundo em que vivemos, com o Criador, com a infinitude da criação e com os valores éticos e morais inerentes à nossa natureza divina, mas que precisam ser lapidados a partir do esforço individual.
Foi pela ênfase dada à questão moral, somada à dificuldade (e preconceito) das demais religiões ocidentais em aceitarem a realidade que a codificação realizada por Kardec trouxe ao mundo, que o Espiritismo acabou seguindo “caminho solo”, firmando-se como uma religião, cristã por excelência, mas aberta a toda e qualquer espécie de investigação que tenha por objetivo aprofundar o conhecimento sobre a natureza humana, origens, caminhos, causas de tantas dores e diferenças e, acima de tudo, pela reencarnação, abrir os horizontes da Justiça Divina, do perdão e da concretização da afirmação do Cristo, quando entre nós: “nenhuma ovelha se perderá do meu rebanho”.
Uma expressão consoladora que não tem como ser relativizada.
O tema é longo. Falaremos nos próximos artigos sobre a reencarnação, a comunicação dos espíritos e a pluralidade dos mundos habitados.
Edson Sardano