Por Renan Pereira e Lígia Menezes
Em Câncer com Ascendente em Virgem, Suzana Pires não só interpreta a protagonista, Clara, como assina o roteiro do longa inspirado em uma história real. A trama mistura drama e humor para tratar de um tema delicado: o câncer de mama. Mas, mais do que doença, o filme fala sobre o que existe entre o nascimento e a morte: o viver. E viver, para Suzana, é se permitir sentir, inclusive, a dor.
Na entrevista, a atriz e roteirista revela como foi interpretar uma personagem que descobre a doença em meio à rotina de mãe, profissional e mulher comum. E também sobre o processo de desapego estético ao raspar a cabeça para a cena mais emocionante do longa.
Autêntica e entregue, Suzana também conta tudo sobre os bastidores da produção, a parceria com Marieta Severo e Nathália Costa, e o simbolismo por trás de cada cena. “Aprendi que a vida é agora. Vida é o que tem no meio. Esse filme me trouxe mais consciência sobre saúde. Voltei a malhar, me alimentei melhor e parei de fumar”, diz.
Como foi a preparação para a personagem? Você conversou com mulheres que também tiveram câncer de mama?
O filme é baseado no blog da produtora do filme, Clélia Bess. Minha preparação foi uma somatória de experiências: o entendimento do blog, a escrita do roteiro, a rotina que meu próprio pai teve que lidar ao receber diagnóstico de câncer, conversa e muita observação das mulheres que estavam passando por isso. Essa foi a experiência mais profunda que a arte poderia me dar!
A personagem deve conciliar o diagnóstico da doença com a rotina do dia a dia. O que você pensa sobre isso? Você já viveu momentos no qual não pode deixar de fazer algo por causa de uma doença?
Felizmente, até agora não vivi qualquer impedimento por motivos de saúde. Clara faz de tudo para manter a vida normal, mas isso vai ficando difícil e a vida nova que ela tem diante de si vai trazer muitos ensinamentos bonitos.
Como foi raspar o cabelo para a personagem? O que você pôde sentir com esta mudança estética?
Quando eu viro a chave de roteirista para atriz e começo a mergulhar no processo da personagem, eu já sabia que teria que raspar… Era até uma brincadeira no set, todo mundo me questionava. E a cena ficou linda, realmente emocionante. Eu sempre gostei de cabelão, então foi difícil porque mexe com a autoestima. Mas eu gostei muito, estou adorando o novo visual. Eu brinco que achei uma bênção a Marieta Severo ter raspado a minha cabeça.
O filme mostra uma mulher que se recusa a demonstrar fraqueza, mesmo em um momento de doença. Você se identifica com este tipo de mulher?
Já me identifiquei. Mas, hoje eu sei que dar espaço para minha fragilidade me faz ainda mais forte e resistente.
Em sua família,já houve casos de câncer? Como vocês lidaram com isso?
Já sim. O meu pai teve câncer durante o processo de escrita do roteiro. Então impactou muito a nossa vida! Essa doença, quando chega a uma família, muda todo mundo, mas acaba que traz também muito amor, a gente começa a se apoiar mais, a se amar mais.
Foi um grande desafio separar as coisas. Mas ao mesmo tempo que eu estava dando suporte ao meu pai, eu pude levar um pouco dessa experiência para a ficção.
No filme, há uma mensagem subliminar sobre fé: a personagem se mostra cética em muitos momentos. Como você encara a espiritualidade em sua vida?
Eu sou o oposto da Clara nesse sentido: tenho muita fé. Eu venho de uma família católica de um lado e judia de outro. Tenho as duas essências, mas sempre me entendi melhor como uma mulher judia. Faço Shabbat, estudo Kabbalah e frequento sinagoga… Toda essa conexão ajuda no meu equilíbrio emocional, somado à terapia, claro. Também somo a isso à meditação. Não acredito que a vida seja só o que a gente vê. Cuidar das emoções é cuidar das ações; e isso faz toda a diferença!
O que você, enquanto atriz, aprendeu com esta história? Que mensagem gostaria de transmitir às leitoras?
Aprendi que a vida é agora. Que, como dizia nossa colaboradora de texto e paciente paliativa: “morte não é o contrário de vida. Morte é o contrário de nascimento. Vida é o que tem no meio”.
Câncer de mama no Brasil
O câncer de mama é uma realidade que ainda impacta milhares de mulheres no Brasil, mas falar sobre ele é também uma forma de cuidar. Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), a estimativa é de 41,89 casos a cada 100 mil mulheres entre 2023 e 2025. Em 2021, a taxa de mortalidade foi de 11,71 óbitos a cada 100 mil mulheres. E mais: mulheres a partir dos 50 anos estão entre as mais afetadas.
A boa notícia é que, quando descoberto no início, o câncer de mama tem grandes chances de cura. Por isso, é importante manter os exames em dia e prestar atenção aos sinais do corpo.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1467, de 2 de maio). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.