Ela não atua mais com os mesmos critérios de antes. Convertida ao cristianismo em 2020 (e batizada em uma igreja evangélica em 2022), Karina Bacchi, atriz e influenciadora, passou a guiar todas as suas escolhas por princípios cristãos, o que inclui desde os papéis que aceita como artista até o modo de se vestir.
A mudança de vida é o tema central do seu novo livro, Mais Forte na Fé, que traz reflexões bíblicas diárias voltadas a mulheres que desejam cultivar uma espiritualidade constante. “Me arrependo de muitas coisas. Mas, pela graça de Deus, não carrego o peso do passado”, diz ao refletir sobre arrependimentos e os sinais que, segundo acredita, levam muitas mulheres a se afastarem de si mesmas e da fé.
Karina, qual foi o ponto determinante que fez você mudar a sua vida e se converter?
A ideia surgiu a partir daquilo que, ao longo da minha caminhada, percebi ser essencial para permanecer firme: a constância na presença de Deus. Sempre busquei me alimentar da Palavra, da oração e da comunhão com o Senhor, não apenas nos dias difíceis, mas como um estilo de vida.
O que mais mudou em você desde que decidiu se dedicar à vida com Deus?
Com o tempo, entendi que essa prática diária foi o que sustentou minha fé, me deu discernimento e me fortaleceu em momentos desafiadores. E vendo quantas mulheres desejam crescer espiritualmente, mas não sabem por onde começar ou como manter essa constância, nasceu o desejo de compartilhar esse caminho.
No livro Mais Forte na Fé, você compartilha reflexões diárias baseadas em passagens bíblicas. Qual foi seu ponto de partida para criar esse livro e que tipo de mulher você imaginou ao escrever?
O Mais Forte na Fé foi criado para ajudar mulheres a cultivarem uma fé firme, viva e constante, mesmo em meio às pressões do dia a dia. O objetivo é encorajar uma rotina de devoção, onde cada mulher possa encontrar direção na Palavra, renovar suas forças em oração e desenvolver intimidade com Deus. Acredito que quando a fé se torna parte do nosso cotidiano, não apenas sobrevivemos, mas florescemos, mesmo em meio às lutas. É essa verdade que eu desejo que cada leitora experimente ao longo das páginas do devocional.
Como foi escrever um livro, quais foram os desafios para essa nova etapa?
O maior desafio foi escolher, entre tantas passagens ricas e profundas da Bíblia, aquelas que pudessem realmente tocar o coração da leitora em diferentes momentos da jornada da fé. Eu queria que cada texto trouxesse não só um ensinamento, mas uma direção clara, uma palavra viva, algo que pudesse ser aplicado de forma prática e pessoal no dia a dia.
Cada devocional reflete profundidade, mas ao mesmo tempo simplicidade, para que mulheres de diferentes fases espirituais pudessem se identificar, compreender e se sentir acolhidas. Antes de cada texto, eu orava pedindo que Deus me conduzisse: “Senhor, o que essa mulher precisa ouvir hoje? O que pode fortalecer a fé dela nesse momento?” Então, mais do que selecionar temas ou versículos por afinidade, busquei ouvir a voz do Espírito Santo. Esse processo me levou a revisitar minhas próprias experiências com Deus, a lembrar de passagens que me marcaram, e a traduzir isso de forma que fizesse sentido para quem está lendo, seja ela alguém que já caminha há anos com o Senhor ou alguém que está apenas começando. Foi um processo delicado, feito com muito temor, oração e sensibilidade, porque eu sei que cada palavra tem o poder de alcançar corações que estão precisando de fé, cura e recomeço.
Hoje, você fala abertamente sobre sua fé, mas também já se viu no centro de muitas críticas. Como lida com esse olhar público tão dividido – entre admiração e julgamento?
Sigo um formato muito próximo do que compartilho no Mais Forte na Fé. Começo meu dia em comunhão com Deus, meditando na Palavra, ouvindo Sua voz e conversando com Ele em oração. As orações nascem como um diálogo sincero, espontâneo, do coração para o Pai. Minha vida é dedicada a Deus, e tudo o que faço precisa refletir a sabedoria que vem do alto. Por isso, busco viver e praticar o que aprendo, colocando em prática cada ensinamento com obediência e reverência. Além disso, a cada dia levo essa mensagem por meio da influência nas redes sociais, buscando refletir essa mesma fé e sabedoria em tudo o que faço, seja nas minhas relações pessoais, profissionais ou em cada oportunidade, seja no ambiente virtual ou presencial.
Você vem se manifestando sobre fé nas redes. Sente arrependimento de algo que já fez na vida?
Sim, me arrependo de muitas coisas. Mas, pela graça de Deus, não carrego o peso do passado. A fé cristã nos ensina que o arrependimento é parte essencial do reencontro com o propósito. Jesus nos chamou a esse caminho, onde reconhecemos nossas falhas e somos transformados pela verdade que vem do alto. Me arrependo, especialmente, de ter confiado demais em mim mesma em certos momentos, de acreditar que poderia conduzir tudo com minhas próprias forças, sem perceber que a verdadeira força está na dependência de Deus.
A Palavra nos lembra: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos de refrigério pela presença do Senhor” (Atos 3:19). Esse arrependimento gera vida, sensibilidade, leveza e paz. A partir desse encontro com Cristo, a graça nos cobre, e a culpa é substituída por propósito. Já não somos mais dominados pelos desejos da carne ou por um senso vazio de controle. Em Cristo, encontramos direção, liberdade e um novo sentido para viver.
Você mudou sua maneira de se vestir ao se converter. O que você não usaria de forma alguma atualmente?
Hoje, tenho plena consciência de que meu corpo é templo do Espírito Santo, e isso guia minhas escolhas, inclusive, na forma de me vestir. Não uso roupas com decotes, transparências nem peças extremamente justas ou vulgares. Acredito que a maneira como nos apresentamos comunica muito – e quero que minha imagem reflita a presença de Deus em mim. Amo me vestir com delicadeza, leveza e feminilidade. Além de ser algo confortável, creio que glorifica a Deus e transmite a essência que Ele colocou em cada uma de nós como filhas amadas. Vestir-se com propósito é uma forma de honrar quem nos criou e também de inspirar outras mulheres a enxergarem sua identidade com mais valor e dignidade.
Como está sua vida de atriz? Pensa em voltar?
Hoje, tudo o que eu faço precisa glorificar a Deus, inclusive o trabalho artístico. A Bíblia diz: “Tudo quanto fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens.” (Colossenses 3:23) – e isso também se aplica à arte, às escolhas profissionais, aos projetos que envolvem imagem e influência.
Atuar foi uma parte importante da minha história e eu sou grata por tudo que vivi nesse meio. Mas hoje, estou muito mais atenta à direção do Espírito Santo. O meu desejo é que qualquer papel, qualquer exposição, esteja alinhado com os princípios da fé que vivo.
Tenho buscado sensibilidade para reconhecer os caminhos que Deus está abrindo e, sim, existem projetos em vista, mas só sigo se eles forem coerentes com a minha essência atual, com os valores do Reino e com aquilo que Deus quer comunicar através de mim.
O que você não faria nas telas ou no teatro atualmente?
Antes de aceitar qualquer convite ou projeto, eu oro, busco discernimento e só sigo se houver paz e confirmação no Espírito. Aprendi que não é sobre oportunidades, visibilidade ou destaque – é sobre obediência. Só vou onde Deus me mostra e confirma. Sei que a verdadeira paz está em reconhecer a voz de Deus e Sua presença é insubstituível. Seja nas telas, no teatro, nas fotos, nos podcasts, nas ministrações pelo mundo ou na evangelização nas ruas… Em qualquer lugar onde eu estiver, Ele precisa estar comigo. É a presença Dele que dá sentido ao chamado, ao trabalho e à missão.
Você se descreve como alguém que foi criada com muito amor e valores, mas que se sentiu seduzida por padrões externos. Que sinais acha importante que outras mulheres observem para não perderem a própria essência?
Acredito que uma mulher começa a perder sua essência quando passa a se comparar constantemente com outras. Esse é um sinal silencioso, mas muito perigoso. A comparação gera insatisfação, e logo ela começa a se questionar: “Será que sou suficiente? Será que estou atrasada?” – e isso enfraquece sua identidade em Deus.
Outro sinal importante é quando ela se sente esgotada por tentar agradar todo mundo. Quando a vida se torna uma sequência de esforços para atender expectativas externas, seja na aparência, no desempenho profissional ou até no comportamento espiritual, ela deixa de ser quem é para representar o que os outros esperam que ela seja.
O distanciamento de Deus, muitas vezes, começa aos poucos. Uma rotina cada vez mais cheia, menos tempo para oração, menos presença no secreto. E então aquela voz interna que antes trazia direção começa a se calar, e outras vozes do mundo, das redes sociais, dos modismos começam a falar mais alto.
Também percebo que muitas mulheres buscam aprovação no lugar errado. Elas se medem por curtidas, por validações externas, por referências que não têm raiz em Deus. Mas a essência verdadeira não se mede por filtros ou tendências, ela é construída em intimidade com o Criador. E por fim, acho que quando uma mulher começa a se sentir “desencaixada” o tempo todo, mesmo rodeada de pessoas, pode ser porque ela está tentando caber onde Deus nunca a colocou. Quando a gente tenta se adaptar demais a moldes que não têm nada a ver com o nosso propósito, inevitavelmente a essência se desgasta.
Por isso, voltar à essência é, para mim, voltar à fonte. É silenciar o barulho do mundo para ouvir de novo o que Deus diz sobre nós. É se lembrar de que fomos criadas com intenção, com identidade e com propósito – e que não precisamos nos encaixar quando já fomos escolhidas.
Você cuida da sua saúde mental?
Cuidar da saúde mental é um compromisso e exercício diário. Conhecer as escrituras e nos deixar sermos moldadas por ela é essencial para uma mente saudável, forte e estável.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1484, de 29 de agosto de 2025). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.