Por Renan Pereira e Lígia Menezes
Ela estourou como meme, virou repórter, foi parar em reality show e, hoje, apresenta um dos programas mais populares do SBT, o Fofocalizando, exibido à tarde. A trajetória de Cariúcha – ou Alessandra Cariúcha – é tudo, menos previsível. Dona da frase icônica “sou bonita pra caramba, sou toda natural”, ela surgiu para o grande público em 2009, no Profissão Repórter, e nunca mais saiu dos holofotes.
De lá para cá, muita coisa mudou. Aos 41 anos, Cariúcha amadureceu, enfrentou batalhas internas e externas, e aprendeu a lidar com a saúde mental sem vergonha. Fala com emoção da filha Mirella, uma mulher trans de 26 anos, que ela adotou, e não esconde o sonho de comandar seu próprio programa de auditório: “Bem Brasil! Com samba, gospel, tudo junto!”
Mesmo sem papas na língua, ela também sabe quando é hora de pedir desculpas – algo que nem sempre o público espera de figuras polêmicas. Mas é nessa mistura de coragem, fé e autenticidade que Cariúcha constrói sua identidade.
Você já afirmou que sempre teve o sonho de ser uma grande apresentadora. Quando teve essa consciência? Foi quando viralizou com o Caco Barcelos no “Profissão Repórter” ou desde criança?
Sim, sempre tive o sonho de ser apresentadora. Isso se firmou mesmo quando trabalhei como repórter no Pânico. Foi ali que decidi trilhar essa carreira de vez. Entrevistava grandes nomes da televisão brasileira e pensava: ‘é isso que eu quero pra minha vida’. Mas esse desejo de ser artista vem desde a infância, desde os tempos da igreja.
Quais são suas referências como artista da televisão?
Minhas maiores referências são a rainha da televisão Hebe Camargo e a Oprah Winfrey. Sou muito fã do trabalho delas e me espelho nelas. Se Deus permitir, eu chego lá.
Você é conhecida por não ter medo de dizer o que pensa. Sempre foi assim ou algo te motivou a ser tão corajosa?
Sempre fui assim. Eu falo primeiro e, quando vejo, já foi! Sou muito espontânea, não meço palavras. Desde criança, nunca tive papas na língua.
Você é grande amiga do jornalista Léo Dias. Já brigaram ao vivo e depois voltaram a se falar. Como surgiu essa amizade?
A nossa relação é como de irmãos. Às vezes a gente se exalta, discorda, mas em dois minutinhos já está tudo certo. O Léo foi um presente de Deus na minha vida. Eu costumo dizer que Deus não une pessoas, une propósitos. Ele tem um coração bom, torce por mim de verdade. Aplaude meu sucesso – e quando você aplaude o outro, Deus te abençoa em dobro. As pessoas nem sempre conhecem esse lado humano dele. O Léo ajuda muita gente, principalmente quem nunca teve oportunidade. Ele é um grande aliado da nossa comunidade negra. Minha família é apaixonada por ele.
Na “Fazenda”, você foi muito criticada pelos conflitos com Rachel Sheherazade. Depois vocês se desculparam. Você costuma perdoar? Reconhece quando erra?
Sim. Sempre reconheci meus erros. Quando erro, peço desculpas. Aliás, até quando não erro, às vezes peço desculpas. Não tenho vergonha de admitir que errei. Isso faz parte de quem eu sou.
Você já comentou que toma psicotrópicos. Quando começou o tratamento? Pode falar um pouco sobre saúde mental para nossas leitoras?
Esse é um assunto delicado, que ainda tenho dificuldade de falar abertamente. Mas sim, faço tratamento com minha psicóloga, a doutora Miriam. Quando estou com muita ansiedade ou em crise, tomo calmantes. Acho que sempre tive isso, mas nunca tive acesso. Para a gente, que é pobre, psicólogo e psiquiatra parecia coisa de rico. Minha mãe, minha avó nunca tiveram esse tipo de cuidado. E só percebi o quanto precisava de ajuda depois da Fazenda, quando passei por um período muito difícil, ao ponto de ter pensamentos ruins. Hoje, faço sessões de hipnose também.
O que aprendi é que saúde mental é para todos. Terapia não é vergonha. Durante muito tempo, tive vergonha até de dizer que fazia. Mas todo mundo precisa, principalmente hoje, com o mundo tão complicado e depois da pandemia. Todo mundo precisa se cuidar.
Você tem uma filha trans e fala com muito carinho da comunidade LGBTQIA+. Como essa relação começou?
Sim, minha filha trans, Mirela, é um anjo na minha vida. Ela era minha fã há muitos anos e passou por situações difíceis. Me identifiquei com a história dela e nos apaixonamos. Foi amor à primeira vista. Mas minha relação com a comunidade LGBT vem de antes disso. Sempre apoiei, sempre lutei. Acho que continuo sendo a ‘Madrinha da Diversidade’ do Rio de Janeiro com muito orgulho.
Quais são seus planos para o futuro? Pensa em ter um programa de auditório?
Sim. Quero retomar minha carreira musical, já estou voltando com meus shows. E sonho com um programa de auditório, bem popular, bem povão mesmo! Quero samba, pagode, gospel, porque sou filha de pastor, tudo junto, uma mistura bem Brasil! Um programa animado, com DNA, com emoção, inspirado no meu ídolo Ratinho, que é uma referência e que me ajudou muito. Aliás, sou contratada do SBT graças a ele. Ele disse pra Dani Beyrute: ‘Contrata a Cariúcha, senão outra emissora leva’. Meu sonho é esse: um programa bem doido, bem minha cara.
Relembre o Meme que “lançou” Cariúcha
Foi em 2009, durante o concurso “Garota da Laje”, exibido pelo Profissão Repórter, que Cariúcha soltou a frase que mudaria sua vida: “Sou bonita pra caramba. Sou toda natural.” Revoltada por não ter vencido, ela desabafou com Caco Barcellos em uma cena que rapidamente viralizou. O olhar indignado, o tom firme e a espontaneidade fizeram dela um meme eterno – e, mais do que isso, abriram as portas para uma trajetória longa. Desde então, Cariúcha nunca mais saiu de cena.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1476, de 4 de julho de 2025). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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